23/09/2025 - 11:33
O uso do paracetamol deve ser evitado durante a gravidez como recomenda o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump? Provavelmente não. O tema já foi debatido entre médicos, mas está amplamente resolvido, já que os estudos mais sérios não indicam nenhum risco para o feto.
– Associação ao autismo? –
Esta é a principal afirmação feita na segunda-feira pelo presidente americano em uma coletiva de imprensa. Segundo Trump, o paracetamol ingerido durante a gravidez está associado a um risco “muito elevado” de autismo na criança.
A pesquisa não sustenta esta declaração, que se insere em um contexto político no qual o secretário de Saúde, Robert Kennedy Jr., promete determinar de forma iminente as causas de uma “epidemia” de autismo. Este compromisso preocupa os especialistas devido à complexidade do tema e às posturas céticas de Kennedy em relação às vacinas.
Quanto ao paracetamol, os estudos mais abrangentes indicam atualmente que uma mulher grávida pode tomar doses normais sem riscos.
“O uso de paracetamol durante a gravidez não está associado a um maior risco de autismo, transtorno de déficit de atenção nem de deficiência intelectual nas crianças”, conclui um estudo, realizado na Suécia e publicado em 2024 na revista médica JAMA.
– Qual a origem do debate? –
A comunidade médica debateu o tema há alguns anos. Apelos à prudência despertaram então grande atenção midiática, em particular um manifesto publicado em 2021 por uma centena de pesquisadores e médicos na revista Nature Reviews Endocrinology.
“Recomendamos informar às mulheres grávidas, desde o início da gravidez, que o paracetamol deve ser evitado, exceto por indicação médica”, dizia o texto, que recebeu críticas por seu caráter alarmista.
Os autores justificavam seu alerta pela existência de dados “experimentais e epidemiológicos que sugerem que a exposição ao paracetamol durante a gravidez pode alterar o desenvolvimento do feto”.
– Por que tais preocupações? –
Estas afirmações têm origem em vários estudos que levantaram a questão de um possível vínculo entre o paracetamol e certas patologias, em particular o autismo.
Um deles, publicado em 2015 na revista Autism Research e baseado em dados de saúde dinamarqueses, analisou crianças de até 12 anos e concluiu que o risco de autismo era 50% maior quando suas mães haviam consumido paracetamol durante a gestação.
Mesmo em 2025, um trabalho que reunia os resultados de cerca de 40 pesquisas, publicado na revista Environmental Health, defendia a possibilidade de um vínculo. Este estudo foi citado explicitamente por membros da administração Trump.
Mas muitos pesquisadores consideram que estes estudos só podem abrir novas linhas de investigação devido à sua metodologia imperfeita. Eles trazem poucos indícios sobre os mecanismos reais de causa e efeito.
Em contraste, o estudo da JAMA considera vários fatores que podem enviesar a análise. Compara o risco de autismo entre crianças da mesma família, dado que a herança genética desempenha um papel importante neste transtorno. No final, o consumo de paracetamol não faz nenhuma diferença, segundo esta análise.
“Alguns estudos observacionais sugeriram uma possível associação entre a exposição pré-natal ao paracetamol e o autismo, mas as evidências continuam sendo inconsistentes”, resumiu a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (23).
– Nenhum risco? –
Como qualquer medicamento, o paracetamol não é completamente inofensivo durante a gravidez. Mas os riscos estão relacionados ao consumo excessivo, sobretudo os danos que pode causar ao fígado.
“O paracetamol pode ser tomado durante a gravidez, mas deve ser utilizado na dose mais baixa que ainda seja eficaz, durante o menor tempo possível e com a menor frequência”, lembrou na terça-feira a Agência Europeia de Medicamentos, especificando que suas recomendações continuam inalteradas.
O paracetamol é considerado o analgésico mais seguro para as grávidas, em comparação à aspirina ou ao ibuprofeno, que são contraindicados, especialmente no final da gestação, pois podem causar a morte do bebê ou malformações.