20/03/2018 - 18:08
Um novo estudo realizado por cientistas da Universidade Cornell (Estados Unidos) revela por que o ganho de peso pode reduzir a sensibilidade ao sabor da comida – algo que já havia sido verificado em estudos anteriores, mas cuja explicação era até agora desconhecida.
Segundo a nova pesquisa, feita em camundongos, a inflamação produzida pela obesidade reduz efetivamente o número de papilas gustativas na língua dos animais. Os resultados foram publicados nesta terça-feira, 20, na revista científica Plos Biology. O estudo foi liderado por Andrew Kaufman e Robin Dando, ambos da Universidade Cornell, sediada em Nova York. “Nossos resultados podem levar a novas estratégias terapêuticas para aliviar a disfunção do paladar em pessoas obesas”, disse Dando.
De acordo com os autores, uma papila gustativa compreende de 50 a 100 células de três tipos principais, cada uma delas com diferentes papéis na sensibilidade para os cinco sabores primários: salgado, doce, amargo, azedo e umami. Essas células, segundo eles, são substituídas rapidamente, com uma vida média de apenas 10 dias.
Para estudar as modificações nas papilas gustativas relacionadas à obesidade, os autores alimentaram um grupo de camundongos com uma dieta normal com até 14% de gordura e um outro grupo com uma dieta programada para levar à obesidade, com 58% de gordura.
As conclusões após oito semanas não causaram surpresa: os camundongos alimentados com a dieta mais “gorda” apresentavam um peso um terço maior que aqueles que receberam a dieta normal.
Um resultado, no entanto, foi inesperado. Os cientistas notaram que os camundongos obesos tinham 25% menos papilas gustativas que os animais magros. Não houve mudanças no tamanho médio ou na distribuição dos três tipos principais de células das papilas que restaram.
A substituição das células das papilas gustativas, segundo Dando, normalmente aumenta quando há uma combinação equilibrada de morte celular programada – processo conhecido como apoptose – e a geração de novas células a partir de células progenitoras especiais.
No entanto, os cientistas observaram que a taxa de apoptose aumentava nos camundongos obesos, enquanto que o número de células progenitoras de papilas gustativas declinava – o que provavelmente explica a queda do número de papilas observada no experimento.
Os camundongos que eram geneticamente resistentes a se tornarem obesos não apresentaram esses efeitos, mesmo quando eram submetidos a uma dieta “gorda”. Segundo o cientista, isso significa que os efeitos não eram provocados pelo consumo da comida gordurosa em si, mas sim pelo acúmulo de tecido adiposo (gordura).
De acordo com o cientista, sabe-se que a obesidade está associada a um estado crônico de inflamação de baixo grau. E que o tecido adiposo produz moléculas sinalizadoras – as citocinas – que favorecem a inflamação.
Os autores também demonstraram que uma dessas moléculas, chamada TNF-alfa, tinha seus níveis aumentados nas papilas gustativas quando o camundongo era submetido à dieta rica em gordura.
No entanto, camundongos geneticamente modificados para não produzirem TNF-alfa não tiveram redução das papilas gustativas, embora tenham ganhado peso. Por outro lado, ao injetar TNF-alfa diretamente a língua dos camundongos magros, os cientistas observaram uma redução das papilas gustativas, apesar do baixo nível de gordura corporal.
“Esses dados sugerem que a adiposidade bruta decorrente da exposição crônica a uma dieta rica em gordura está associada a uma resposta inflamatória de baixo grau, que causa uma perturbação nos mecanismos de equilíbrio da manutenção e renovação das papilas gustativas”, disse Dando.