22/06/2022 - 6:48
As discussões sobre uma mudança do nome da varíola dos macacos, que alguns países e especialistas consideram humilhante, começaram com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou na semana passada que anúncios devem ser feitos o mais rápido possível sobre o tema.
DF registra primeiro caso suspeito de varíola dos macacos
O objetivo não é apenas mudar o nome do vírus, que já foi registrado em mais de 40 países, mas de suas diferentes cepas. As cepas são nomeadas com base nas regiões ou países africanos onde estão localizadas pela primeira vez. Por exemplo, a cepa da África Ocidental ou a da Bacia do Congo (mais letal).
No início do mês, mais de 30 científicos, a maioria deles africanos, publicaram uma carta aberta na qual exigiam a mudança de nomenclatura para que “não seja discriminatória nem estigmatizante”. De acordo com estes cientistas, levando em consideração que desde maio uma nova versão do vírus circula pelo mundo, este deveria ser denominado apenas hMPXV (h por humano).
Após uma onda inicial em 10 países africanos, 84% dos novos casos foram detectados este ano na Europa e 12% no continente americano. Quase 2.100 casos deste tipo de varíola foram detectados desde o início de 2022 no mundo.
Denominar a doença como varíola do macaco implica relacioná-la basicamente com países africanos, criticam alguns especialistas. “Não é uma doença que realmente possa ser atribuída aos macacos”, declarou à AFP o virologista Oyewale Tomori, da Universidade Redeemer na Nigéria.
A doença foi descoberta por cientistas dinamarqueses na década de 1950 em macacos enjaulados em um laboratório. Mas os humanos contraíram o vírus principalmente de roedores. O continente africano tem sido historicamente associado a grandes pandemias.
“Vimos isso com o HIV na década de 1980 ou o vírus Ebola em 2013, e depois com a covid e as supostas ‘variantes sul-africanas'”, declarou à AFP o epidemiologista Oliver Restif. “Este é um debate mais amplo e está relacionado com a estigmatização da África”, completou.
O cientista critica inclusive as imagens que são utilizadas pela imprensa para ilustrar as notícias sobre a doença. Muitas vezes são “fotografias antigas de pacientes africanos”, quando na realidade os casos atuais “são muito menos graves”, afirmou.