14/12/2017 - 16:41
De todos os ataques a tiros que marcaram a lembrança dos americanos nos últimos anos, o de Sandy Hook se destaca por suas vítimas: 20 jovens vidas foram tiradas dentro de uma sala de aula na escola primária.
Cinco anos depois, as feridas permanecem abertas.
Às 09h30 desta quinta-feira, o sino de uma igreja em Newtown, Connecticut, badalou 26 vezes – um toque para cada vida perdida – à medida que a pequena comunidade se reunia em homenagem.
Nessa mesma hora, em 14 de dezembro de 2012, Adam Lanza, de 20 anos, invadiu o edifício da escola com um rifle de assalto AR-15 e duas pistolas. No início da manhã ele havia atirado e matado sua mãe em casa.
O jovem atirou mais de 150 vezes nos corredores e salas, matando 20 crianças com idades entre seis e sete anos, e seis mulheres que trabalhavam na escola, antes de cometer suicídio.
“CINCO ANOS. A dor é a mesma. O sofrimento. A perda. O coração partido. A tristeza”, tuitou Erica Lafferty, mãe da diretora da escola, Dawn Hochsprung, que foi morta tentando impedir o atirador.
Em um país traumatizado pelos ataques a tiros anteriores em escolas, como o de Columbine, no Colorado, ou em Virgina Tech, na Virgínia, Sandy Hook foi um choque: era o primeiro a ter crianças tão novas como alvo.
“As pessoas me perguntam: como está Sandy Hook hoje?”, disse Chris Murphy, senador do pequeno estado de New England.
“Sandy Hook nunca irá se recuperar, Sandy Hook nunca será a mesma”.
– Lágrimas de Obama –
Barack Obama, próximo de terminar seu primeiro mandato no cargo, derramou lágrimas ao falar sobre o tiroteio algumas horas depois.
“Temos que trabalhar juntos e tomar ações significativas para prevenir outras tragédias como essa”, disse Obama, que descreveu o massacre como o pior dia de sua Presidência.
Mas para aqueles que esperavam que Sandy Hook fizesse com que os legisladores impusessem restrições mais duras às armas, os anos após o ataque foram decepcionantes.
A legislação de controle de armas pós-Sandy Hook foi derrubada no Congresso em abril de 2013 e nada mudou desde então, além das medidas locais tomadas por cidades e estados.
“Mais do que nunca, os Estados Unidos precisam de leis de armas de senso comum e não devemos parar até conseguirmos”, tuitou o ex-presidente Bill Clinton nesta quinta-feira, enquanto homenageava as vítimas.
Mas Sandy Hook trouxe foi uma nova consciência de vulnerabilidade nas escolas do país.
Desde 2012, procedimentos de alerta e treinamentos se multiplicaram. Portas e janelas foram reforçadas e as escolas têm vínculos próximos com a polícia.
Agora as crianças americanas são ensinadas a responder a uma situação de “ataque a tiros” e os funcionários são treinados a criar barreiras em suas salas.
– Melhor segurança nas escolas –
Os eventos recentes ilustram a importância desses passos: um homem matou cinco pessoas em um acesso de fúria no norte da Califórnia em novembro. Ele havia tentado entrar em uma escola primária, mas não conseguiu.
Demorou cerca de 50 segundos para a escola entrar em modo de bloqueio, ajudando a evitar um possível banho de sangue.
Sandy Hook também deu origem a novas organizações visando a questão da violência armada nos Estados Unidos, que mata 90 pessoas por dia.
Um desses grupos, o Sandy Hook Promise, trabalha para prevenir ataques a tiros identificando sinais de alerta, como jovens em situação de isolamento social, ou que mostram interesse por ideias mórbidas.
Mas o ataque também deu espaço a teorias da conspiração, animadas por alguns opositores ao controle de armas, que afirmam que o massacre foi encenado.
Um professor de uma universidade da Flórida foi demitido depois de insistir que Sandy Hook era uma farsa, e perdeu um processo nesta semana alegando que seu direito à liberdade de expressão foi violado.