29/04/2014 - 8:00
Reza a lenda que o filósofo grego Arquimedes pronunciou a palavra “eureka” após descobrir que o volume de qualquer corpo pode ser calculado medindo o volume da água movida quando o corpo é submergido na água.
Não entendeu nada? Não importa. O que interessa, neste caso, é que a palavra passou para a posteridade como uma expressão de triunfo ao encontrar a solução para um problema difícil. Quando dita em alto e bom som significa a celebração de uma descoberta.
Nessas histórias, cinco empresários digitais contam seus momentos “eurekas”, quando descobriram a alma de seus negócios, depois de tentativas em outras áreas.
Confira essas histórias inspiradoras e entenda o que você pode aprender com elas.
1 – Gustavo Caetano, da Sambatech
Em 2005, o empresário mineiro Gustavo Caetano criou a SambaMobile, uma start-up que vendia jogos para o crescente mercado de celulares da época.
Os games, contudo, não eram desenvolvidos pela empresa do brasileiro. Eles eram comprados de uma companhia inglesa e revendidos para empresas de telefonia em toda a América Latina.
Em 2007, a SambaMobile faturou R$ 2,5 milhões, com apenas três pessoas trabalhando. Mas Caetano sabia que era uma questão de tempo até as operadoras de telecomunicações eliminarem o intermediário nesse negócio. “Eu tinha um negócio nas mãos que tinha data para morrer”, afirma Caetano.
Foi quando ele observou o jovem site YouTube ser vendido por US$ 1,6 bilhão para o Google. Foi o seu momento “eureka”. Por que não criar um YouTube para as empresas?
Dessa ideia, surgiu, em 2008, a SambaTech, que desenvolve soluções de vídeos para grandes empresas. Seus clientes atualmente são grandes empresas, como O Boticário, TIM, Estácio e Anhanguera, além das empresas de mídia, como TV Globo e Bandeirantes.
Logo no seu início, recebeu um aporte de R$ 5 milhões do fundo de investimento brasileiro FIR Capital – os investidores fizeram novos aportes, que totalizaram R$ 10 milhões anos depois.
2 – Pedro Cabral, da AgênciaClick
Em 1990, o empresário Pedro Cabral foi para Las Vegas acompanhar uma feira de tendências em tecnologia. Lá, viu pela primeira vez, um computador reproduzindo vídeo. Cabral já trabalha com mídia e teve, naquela momento, sua inspiração. “Sabia que conseguiria fazer publicidade usando aquela máquina.”
A MidiaLog, sua empresa da época, trabalhava com a parte técnica das mídias digitais. Em 1999, ele separou sua nova ideia da antiga companhia e criou a AgênciaClick, a primeira agência brasileira a ganhar um Leão de Ouro, em Cannes, por trabalhos na internet. “Eu me inspirei no Walt Disney, que criou um negócio do zero”, diz Cabral.
A Agência Click, atualmente, faz parte do grupo Isobar, que tem escritórios e empresas por todo o mundo. A aquisição aconteceu em 2007, por US$ 31 milhões. “É muito interessante você ver seu trabalho ser traduzido em valor”, afirmou. “Uma empresa colocar um preço em tudo o que você criou é gratificante”. Hoje, Cabral faz parte do corpo executivo da Isobar, mas observa novas empresas e escolhe apostas com seu grupo de investimento, o Evolution.
3 – Gilberto Mautner, da Locaweb
O paulista Gilberto Mautner trabalhou nos Estados Unidos no início dos anos 1990. No solo americano, ele foi um observador privilegiado dos primeiros passos da internet comercial. Em 1997, voltou para o Brasil decidido a usar essa experiência para criar algum negócio digital.
Em conjunto com seu primo Cláudio Bora, então, resolveu unir a especialidade da família, a área têxtil, com a rede de computadores. A ideia era desenvolver um portal para empresas e lojas do setor. Eles investiram em estrutura, tiveram bastante trabalho para colocar o site no ar, mas, até pela imaturidade da internet à época, não tiveram sucesso.
Os problemas para colocar o site no ar fizeram Mautner ter seu momento “eureka.” Com as máquinas comprada, mais a experiência de solavancos para subir o endereço na rede, ele criou em dez dias a LocaWeb, empresa de hospedagens de sites líder do mercado no País.
Os primeiros clientes chegaram rapidamente. A internet, apesar de poucos usuários nos anos 1990, estava em franca expansão no Brasil. Em seis meses, a Locaweb já contava com 100 clientes. Mautner oferecia seus serviços e sua experiência para quem estava querendo colocar seu site no ar. “Praticamente não tínhamos lucro”, diz Mautner. “Tudo que entrava, investíamos na empresa”.
Doze meses depois, a Locaweb já contava com mais de cem funcionários, mil clientes. Em 1999, tiveram que trocar de escritório por três vezes. “Precisávamos de lugares maiores.”
Hoje, a Locaweb hospeda 500 mil sites. Estima-se que seja dona de um quarto deste mercado. Em 2010, o fundo americano Silver Lake investiu na empresa.
4 – Julio Vasconcellos, do Peixe Urbano
Em 2009, Julio Vasconcellos era um dos brasileiros ligados em tecnologia que trabalhavam no Vale do Silício. Formado na universidade de Stanford, ele estava de malas prontas para voltar ao País para integrar a equipe do Facebook no Brasil. Apesar de tudo acertado, ele não estava satisfeito. “Queria começar meu próprio negócio”, diz Vasconcellos. “Observava o mercado procurando áreas onde eu pudesse inovar”.
O contato com o mercado americano foi vital. Quando chegou ao Brasil, percebeu que o País tinha poucas empresas online que faziam negócios locais. “As compras coletivas eram febre nos Estados Unidos à época”, diz o empreendedor. “Pensei em um modelo para oferecer ofertas localizadas e com descontos altos”. Ele, então, deixou de lado a chance de trabalhar para Mark Zuckerberg e lançou o Peixe Urbano, que foi, de certa forma, o pioneiro do mercado de compras coletivas no País.
Os primeiros meses da empresa foram, basicamente, de “evangelização”. A novidade para o mercado brasileiro deixava os empresário em dúvida sobre sua eficácia. Foi preciso muito papo e saliva para fechar os primeiros grandes contratos de desconto e de marketing digital.
“Os primeiros casos de sucesso foram um alívio para o Peixe Urbano”, diz Vasconcellos. “Com eles conseguimos atrair mais pessoas, foi uma bola de neve”.
Em 2011, a área de compras coletivas movimentou mais de R$ 1 bilhão e o Peixe Urbano se tornou líder neste setor, conseguindo investimentos de seis grandes fundos globais de investimentos, entre eles a General Atlantic e a Tiger Global Management.
Mas essa rápida expansão veio acompanhada de uma enxurrada de problemas de atendimento ao consumidor. Resultado: uma rápida desaceleração. “Hoje estamos centrados em nossa especialidade, as compras coletivas”. Apesar de não estar tão aquecido quanto antigamente, ele acredita no potencial de vendas. Os números ajudam, em janeiro de 2014, o Peixe Urbano teve seu melhor mês de venda desde 2012, quando o mercado começou a declinar.
5 – João Ricardo Mendes, do Hotel Urbano
O Hotel Urbano surgiu na onda dos sites de compras coletivas, voltado para hotéis. Mas a enxurrada de sites nessa área fez com que os fundadores da empresa, os irmãos José Eduardo e João Ricardo Mendes, mudassem rapidamente de ideia, criando uma agência online de pacotes turísticos.
“O mercado precisava de uma agência de viagens online focada em hospedagem e pacotes de viagem”, diz João Ricardo. “As empresas que existiam quando começamos focavam quase que exclusivamente em passagens aéreas.”
Em 2010, quando foi fundado, o Hotel Urbano era uma típica start-up, com apenas cinco funcionários e um escritório modesto. Três anos depois, seus números são de gente grande. O site conta com 18 milhões de viajantes cadastrados, tem 4 mil parceiros e já vendeu, desde o começo, 5 milhões de diárias.
“Sempre acreditamos fortemente em nosso modelo de negócios”, afirma João Ricardo. “Apesar de tudo, não considero e nunca vou considerar que nada deu certo, o céu de brigadeiro não vai durar para sempre.”
João Ricado acredita que sua empresa ainda está dando seus primeiros passos, apesar dos resultados positivos. Segundo ele, o mercado de turismo brasileiro é muito novo e isso dá a oportunidade para o Hotel Urbano crescer com ele e se tornar modelo no segmento.
“Se o Booking.com nasceu em Amsterdã e se tornou a maior agência de viagem do mundo, dando um dos maiores retornos de todas as ações que compõe o S&P 500 nos últimos 10 anos, por que não podemos fazer o mesmo?”