30/07/2021 - 15:03
Os funcionários da Cinemateca Brasileira divulgaram nesta sexta-feira, 30, um manifesto comentando o incêndio que atingiu o galpão da Vila Leopoldina na quinta-feira, 29, que chamaram de “crime anunciado”, e indicaram o possível inventário de perdas. O Estadão antecipou itens dessa lista na noite do incêndio.
Segundo o manifesto, foram “possivelmente perdidos ou afetados” itens do acervo documental, como grande parte dos arquivos de órgãos extintos do audiovisual, como, por exemplo, parte do Arquivo Embrafilme (1969-1990), parte do Arquivo do Instituto Nacional do Cinema (1966-1975) e Concine – Conselho Nacional de Cinema (1976-1990), além de documentos de arquivo ainda em processo de incorporação.
Do material audiovisual, estima-se parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm, matrizes e cópias de cinejornais únicos, trailers, publicidade, filmes documentais, filmes de ficção, filmes domésticos, além de elementos complementares de matrizes de longas-metragens possam ter sido queimados no incêndio. Segundo o documento, uma parcela do acervo já havia sido parcialmente afetada pela enchente do ano passado. E ainda: parte do acervo da ECA/USP e da produção discente em 16mm e 35mm e itens do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade.
Equipamentos e mobiliário de cinema, fotografia e processamento laboratorial também estão na lista dos trabalhadores da Cinemateca. “Além do seu valor museológico, muitos desses objetos eram fundamentais para consertos de equipamentos em uso corrente, pois, para exibir ou mesmo duplicar materiais em película ou vídeo, é necessário maquinário já obsoleto e sem reposição no mercado”, explicaram na nota.
“O incêndio da noite de ontem é mais um motivo pelo qual não podemos esperar para dar um basta à política de terra arrasada e de apagamento da memória nacional! Estamos em luto, pela perda de mais de meio milhão de brasileiros, e agora pela perda de parte da nossa história. Incêndio na Cinemateca Brasileira em 2016, no Museu Nacional em 2018 e, novamente, na Cinemateca em 2021. Além de todas as mortes evitáveis, nossa história vem sendo continuamente extirpada – como um projeto. Infelizmente, perdemos mais uma parte do patrimônio histórico-cultural brasileiro”, continua o manifesto.
Na manhã desta sexta-feira, 30, um dia após o incêndio, a Secretaria do Audiovisual publicou o esperado edital para seleção da organização social que vai gerir a Cinemateca Brasileira pelos próximos cinco anos.
Em Roma para uma reunião de ministros da Cultural dos países do G20, Mario Frias, secretário Especial da Cultura, disse que vai investigar se o incêndio foi criminoso.
O Estadão tentou contato com a Secretaria Especial da Cultura, para confirmar o prejuízo causado pelo incêndio da Cinemateca, mas até o momento da publicação desta matéria não houve retorno.
Nas redes sociais, cineastas, artistas e intelectuais lamentam o incêndio na Cinemateca.