Em um contexto de fim de 2024 com indicadores e projeções severamente distintos dos vistos no início do ano, o Chief Investment Officer (CIO) da XP, Artur Wichmann, comenta que os títulos de renda fixa indexados à inflação estão em patamares extremamente atrativos.

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Wichmann explica que ocorreu uma ‘inversão de narrativas’, e que agora o mercado não enxerga mais a economia brasileira caminhando para o equilíbrio. Com a relação dívida/PIB subindo, o especialista frisa que é muito difícil ter prêmio de risco, fazendo com que o foco siga sendo a alocação em renda fixa pós-fixada.

“Títulos atrelados à inflação chacoalham? Sim. Mas eles têm a proteção contra o maior destruidor de inflação de portfólios, que é justamente a inflação. Com IPCA+7%, seu dinheiro dobra em termos reais a cada 10,3 anos”, aponta.

Desta forma, o CIO da XP aponta que apesar da “trajetória conturbada” dos títulos atrelados ao IPCA – por conta da marcação a mercado – a atratividade segue “inquestionável”.

No relatório ‘Onde Investir em 2025’, a head de Renda Fixa da casa, Camilla Dolle, comenta que, de fato, a predileção segue sendo por títulos atrelados à inflação.

“Mantemos nossa preferência por títulos IPCA+, que oferecem retornos reais acima de 6,5%. Esse patamar continua atrativo em um cenário de inflação projetada acima da meta do Banco Central. Em termos de prazo, indicamos títulos com duration média de cinco anos”, analisa.

“Tomando como exemplo um título com esta taxa e duration, carregado até o vencimento, haveria potencial de um retorno real acumulado superior a 37% no período. Além do retorno, esses títulos oferecem proteção em relação à inflação se carregados até o vencimento, o que é especialmente importante em um cenário de incertezas fiscais e pressões persistentes de preços”, completa.

Sobre os títulos pós-fixados, Dolle sinaliza que com a Selic mantida em patamares elevados, essa classe segue sendo fundamental em portfólios mais conservadores ou para estratégias de liquidez.

“Títulos públicos ou privados pós-fixados permitem combinar boa rentabilidade com baixa volatilidade”.

XP espera estouro na meta de inflação por dois anos seguidos com ‘perda de referência’ do mercado

Com as projeções macroeconômicas revisadas, a XP espera que a meta de inflação seja ultrapassada neste e no próximo ano, ficando acima do teto estabelecido de 4,5%.

Caso essa projeção se concretiza, será a primeira vez desde 2022 que a meta de inflação é estourada.

“O câmbio médio da América Latina depreciou uns 10% nesse ano, mas nós depreciamos entre 20% e 25%, o que faz com que a perspectiva inflacionária piore”, comenta Caio Megale, economista-chefe da XP, em entrevista coletiva à imprensa nesta quarta-feira, 4.

“Quando você junta tudo, as projeções de IPCA começaram a subir, e com a discussão fiscal, o câmbio depreciou ainda mais. A nossa projeção é de 5,2% de IPCA para o ano que vem e 4,5% para 2026, acima do topo da banda da meta”, completa.

Já para este ano, a XP projeta um IPCA de 5% – o que também deixaria a inflação acima do topo da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O especialista frisa que a preocupação com a política fiscal está longe de ser pacificada, e que a relação entre a dívida brasileira e o PIB sobe mesmo com o arcabouço fiscal – que considera expansionista do ponto de vista de despesas.

“Nós entramos em uma tendência de desancoragem de expectativas, de câmbio, de juros, de IPCA. O mercado entrou em um processo de perda de referência. Agora ninguém tem coragem de dizer onde vai parar o dólar, o mercado entrou em um processo de profecia autorrealizável”, comenta Megale.