10/04/2002 - 7:00
O ex-presidente da Transbrasil, Antonio Celso Cipriani, de 55 anos, passou os últimos meses em silêncio. Nesse período, foi descrito como um empresário rico de uma companhia quebrada. Dono de uma montanha nos EUA, Cipriani foi acusado de desviar dinheiro da Transbrasil para contas no exterior. Uma das credoras da Transbrasil, a GE, contratou sete escritórios de advocacia para rastrear seus bens. Em contraste com a prosperidade do empresário, nesta semana um juiz dará o voto que pode decretar a falência da Transbrasil. Às vésperas da sentença de vida e morte para a empresa, Cipriani vem a público se defender e atacar. Ele diz que não se manifestou antes porque estava se tratando de um câncer no esôfago e ameaça, em entrevista à DINHEIRO, processar todos os que o acusaram.
DINHEIRO ? Como a Transbrasil chegou a esse ponto?
ANTONIO CELSO CIPRIANI ? Recebemos um golpe mortal da GE. Estávamos reestruturando a empresa, quando a GE pediu nossa falência para cobrar uma promissória que já tinha sido paga. Foi uma represália porque não quisemos declarar perda total num avião que havia saído da pista. Eles queriam receber seguro de US$ 35 milhões, mas o valor de mercado do avião era de US$ 20 milhões. Com o pedido de falência, os credores não quiseram negociar mais conosco.
DINHEIRO ? A Transbrasil faliu?
CIPRIANI ? Não. Além de R$ 350 milhões em créditos a receber dos governos estaduais, temos três aviões 767-200 e três Brasílias que cobrem parte de nossas dívidas. Temos a chance de voltar a voar. Estamos conversando com um grupo nacional que tem interesse na continuidade da Transbrasil.
DINHEIRO ? O último sócio que a Transbrasil arrumou estava quebrado. Depois veio o Clube do Feijão Amigo…
CIPRIANI ? Aprendemos a lição. Esse empresário (Dilson Prado) apareceu com linha de crédito de US$ 25 milhões. Depois descobrimos que deu como garantia nossos aviões. Era golpe. Convidamos o Michelão, do Feijão Amigo, para ser presidente por seus contatos com agentes de viagens.
DINHEIRO ? O sr. foi apontado como dono até de uma montanha nos EUA. Qual é o seu patrimônio?
CIPRIANI ? Possuo o que foi dito, mas foi colocado de forma maldosa. Ganhei 17,5% de participação numa mina de alexandrita ao colocar o negócio para funcionar. Tenho uma companhia de táxi aéreo. Sou dono de um avião de US$ 1,7 milhão, mas devo US$ 1,8 milhão do financiamento. Comprei participação numa montanha no Colorado, pela qual adiantei US$ 500 mil e contraí dívida de US$ 30 milhões. Sou sócio de construtora e de fábrica de monitores. Tenho uma casa em Florença, mas não é um castelo como dizem.
DINHEIRO ? O sr. era um investigador de polícia que virou funcionário da Transbrasil, casou-se com a filha do dono da empresa e, nos últimos tempos, trabalhava como executivo na companhia. Como arrumou dinheiro para tantos negócios?
CIPRIANI ? Na Transbrasil, eu ganhava R$ 40 mil por mês. A mineração me dá R$ 800 mil por ano. Além disso, fiz muitas dívidas para tocar meus negócios. Disseram que eu tinha patrimônio de US$ 300 milhões. Gostaria que 10% desse total fosse verdade. Tenho entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões.
DINHEIRO ? O sr. é acusado de desviar dinheiro para contas pessoais em bancos no exterior. Foram apresentados documentos com números das contas dos bancos.
CIPRIANI ? Para avaliar esses documentos teria que ver os originais. Não transferi dinheiro para mim. Nem eu nem meus parentes temos contas na Suíça.
DINHEIRO ? As denúncias incluem o uso de notas frias para justificar a saída de US$ 200 mil da empresa. As notas diziam que o serviço prestado era ?estudos de orçamento?…
CIPRIANI ? O trabalho foi feito. Eram estudos complexos.
DINHEIRO ? Por que não se defendeu antes?
CIPRIANI ? Eu estava lutando pela minha vida. Tive câncer no esôfago, fiz duas cirurgias no Japão e acredito que estou curado. Atribuo essas denúncias ao fato de ter cortado privilégios de um lobista que trabalhava na Transbrasil e distribuía passagens para defender interesses que não eram da companhia. Também fui atacado por vingança pessoal. Vou responder na Justiça.