Tal como um personagem dos velhos filmes de bang-bang, o presidente da Cisco Systems, John Chambers, anda disparando em várias direções. Ao assumir a postura de um ?Cisco Kid?, Chambers, na verdade, quer mostrar aos acionistas que ainda há muito dinheiro a ser ganho no mundo da tecnologia, apesar dos estragos causados pelo estouro da bolha da internet, em 2000. Um dos alvos desse ?pistoleiro? high-tech são as operadoras de telefonia. Em meados de outubro, Chambers usou a Feira Mundial de Telecomunicações de Genebra (Suíça) para fazer uma previsão bombástica: ?As operadores que não mudarem sua forma de agir não irão sobreviver?. No futuro desenhado por ele só haverá lugar para quem souber tirar proveito das vantagens oferecidas pela tecnologia Internet Protocol (IP). Através dela é possível transmitir voz, dados e imagens em altíssima velocidade, mesmo se o cabeamento for de fios de cobre. E com sensível redução dos custos de administração e manutenção das redes atuais. A Telecom Italia entrou na onda preconizada pelo presidente da Cisco. Ao migrar toda sua rede para a plataforma IP, a operadora reduziu 66% as despesas.

Na alça de mira de Chambers não cabem apenas clientes bilionários. Outro alvo da Cisco são os profissionais liberais e as companhias de pequeno e médio portes. Para brigar no chamado mercado SoHo (Small Office, Home Office), a Cisco repetiu a estratégia de entrar pelo topo. Pagou US$ 500 milhões pela compatriota Linksys Group, líder do segmento com uma fatia de 60%. Em termos globais, o mercado SoHo movimenta US$ 3,7 bilhões por ano, devendo bater US$ 7,5 bilhões em 2006, de acordo com a consultoria Sinergy Research. Esse filão é tratado com especial atenção pela subsidiária brasileira. De acordo com Luis Carlos Rego Júnior, diretor de Tecnologia e Engenharia de Vendas, há um grande potencial a ser explorado. Pelas suas contas, no Brasil existem cerca de 3 milhões de médias e pequenas empresas. ?Queremos mostrar que eles também podem se beneficiar de tecnologia e serviços usados atualmente apenas pelas grandes corporações?, diz. A família de equipamentos vai de telefone IP a ?caixas? onde videogame e aparelho de som podem ser acoplados à TV, garantindo total interatividade entre esses equipamentos. É com essas ferramentas que a Cisco espera aumentar suas receitas no Brasil em 10% este ano. Os números da filial são mantidos em segredo.

Mística. O analista Paulo Hoffmann, da consultoria Frost & Sullivan, elogia os esforços de diversificação da Cisco. ?O mercado de redes de telefonia e roteadores para internet está saturado?, diz, acrescentando, no entanto, que a empresa poderá ter dificuldades no novo nicho. ?O segmento SoHo é bastante agressivo e as compras são decididas pelo preço.? Rego Júnior e sua equipe mantêm inabalada a confiança na mística de Chambers. Nos últimos anos, o chefe conduziu a empresa em relativa segurança pelos mares revoltos do mercado de telecomunicações. A receita e o lucro da Cisco, é verdade, congelaram em US$ 20 bilhões e R$ 6 bilhões, respectivamente. Mas ao contrário de rivais como Siemens, Nortel e Alcatel, a empresa tem dinheiro em caixa (US$ 22 bilhões) para arriscar tacadas arrojadas. Resta saber até quando ?kid? Chambers continuará com a pontaria certeira demonstrada até agora.