John Chambers, presidente da Cisco, voltou a sorrir. Um sorriso leve, não como aquele dos tempos áureos da companhia, que já chegou a valer mais do que a Microsoft na Bolsa americana. Ainda assim, o executivo está conseguindo achar gotas de otimismo no sofrido mercado de infra-estrutura para a internet. Há duas semanas, a Cisco animou seus acionistas com lucros de US$ 600 milhões no último trimestre. É um número significativo para uma empresa que vinha de um período de prejuízos e demissões. Para Chambers, de 52 anos, o resultado prova que a Cisco está conseguindo melhorar sua imagem no mercado. No ano passado, com previsões estratosféricas que não se realizaram, a Cisco teve um encalhe de US$ 2,2 bilhões em componentes que nunca foram utilizados. Desde então, um time de profissionais vem trabalhando especialmente para salvar a empresa. O projeto, conhecido internamente como eHub, tenta identificar os setores que conseguem obter melhores resultados. A Cisco ganhou projeção mundial com a oferta de equipamentos que gerenciam o tráfego na internet, os chamados roteadores. A derrocada das pontocom deu um banho de água fria na gigante. Quando a tormenta parecia ter passado, foi a vez dos clientes em telecomunicações cancelarem suas encomendas. Os executivos da Cisco, assim como da sua concorrente, a Juniper, acreditam que os pedidos serão retomados em 2002, mas o mercado está menos confiante.

Queda nas vendas. Paul Johnson, analista da firma de investimentos americana Robertson Stephens, disse a DINHEIRO que pela quinta vez consecutiva a Cisco Systems apresentou queda nas vendas, apesar do aumento na receita. Para reverter esta situação, tanto ela quanto as demais empresas do setor estão apostando em roteadores mais poderosos, de maior potência. São esses equipamentos que fazem o tráfego de dados na rede e nos quais a Cisco tem 89% de participação. Como os provedores de acesso à web não têm previsão de aumento na demanda, fica difícil desenhar o futuro da empresa de Chambers. A companhia de investimentos Credit Lyonnais acredita que os gastos globais dos provedores com equipamentos de rede devam cair 19,9%, este ano, para US$ 113 bilhões. Mas Chambers não parece tão preocupado. Em entrevista para investidores, ele reafirmou o interesse da Cisco em adquirir pelo menos oito empresas em 2002. Como se sente, diante disso, o executivo que demitiu oito mil pessoas em menos de dez meses? ?Oh, isso magoa?, disse ele na ocasião do anúncio. ?Pela primeira vez em toda a minha vida, eu não tinha vontade de ir trabalhar.? Logo ele, que em 1995 assumiu uma companhia com faturamento anual de US$ 1,2 bilhão para levá-la a uma receita de US$ 20 bilhões ? o melhor resultado financeiro já visto. Especialistas em tecnologia deram a John Chambers o título de melhor CEO dos anos de 1999 e 2000. O que ele não esperava é que a queda fosse tão brusca: a companhia que vinha crescendo 70% ao mês esbarrou no decréscimo de 30% nas receitas. ?Parecia que a empresa tinha se tornado matematicamente inviável?, disse ele a uma revista americana.

Agora a Cisco está aprendendo a viver com vacas magras e números mais realistas. A parceria com operadoras de telefonia parece ser uma das formas de levantar as encomendas. Há duas semanas, a empresa fechou um contrato com a AT&T para fornecer uma plataforma multisserviço, que transporta dados, voz e imagem. Boa parte da produção dos equipamentos continua nas mãos de terceiros ? como Solectron e Flextronics ?, mas o sistema está mais flexível, permitindo freadas nas fábricas. A banda larga também faz parte da esperança na Cisco. Ela e outros grandes do setor de tecnologia vêm pressionando o governo americano por subsídios à implantação da internet veloz ? que estimularia a venda de roteadores. Os menos otimistas acreditam que a fusão da Cisco com outra companhia do setor é apenas uma questão de tempo. Mas John Chambers não quer nem pensar nessa possibilidade: ele vê uma luz no fim do túnel e acredita que pode mostrá-la ao resto do mercado.