Ameaça da tarifa de 50% feita por Trump é só a mais recente na longa lista de desgraças que os brasileiros devem à total incompetência política da família Bolsonaro.Quando era um militar da ativa, Jair Messias Bolsonaro foi desonrosamente considerado culpado, num inquérito militar, de planejar explosões de bombas em quartéis. Ele passou as três décadas seguintes como um deputado inexpressivo, sem qualquer iniciativa legislativa digna de nota. Como presidente, acumulou um escândalo após o outro, sem deixar para o país nenhuma conquista duradoura.

Após o fim do seu mandato, enfrentou vários julgamentos, incluindo por abuso de poder político e econômico, perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o impediu de concorrer em eleições até 2030.

E quem não se lembra das joias sauditas que ele tentou vender por baixo dos panos? Ou dos duvidosos certificados de vacinação contra a covid-19, das centenas de milhares de vítimas da pandemia no Brasil e da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus?

E agora ele corre o sério risco de ser condenado e preso por tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito nas urnas pelos brasileiros.

Segundo a acusação, os golpistas queriam até mesmo matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Parece o enredo de uma novela rocambolesca – como se diz, seria cômico de não fosse trágico.

Lobby contra o Brasil em Washington

Os filhos de Bolsonaro, popularmente conhecidos pela numeração de 01 a 04, também não ficam para trás. No momento a primazia cabe ao 03. Depois de meses insistindo, Eduardo Bolsonaro finalmente conseguiu engajar o presidente dos EUA, Donald Trump, na causa do clã. Como resultado de tanto empenho, o Brasil pode ser punido, a partir desta sexta-feira (01/08), com uma tarifa de importação de 50% nos EUA se o Judiciário não encerrar a sua “caça às bruxas” contra Bolsonaro.

Fazer lobby em Washington sempre foi o trabalho dos sonhos de Eduardo. O pai, quando ainda era presidente da república, queria até nomeá-lo embaixador do Brasil na capital americana. Suas qualificações: inglês quebrado e experiência em fritar hambúrgueres.

Só que seus atuais esforços de lobby estão se revelando contrários aos interesses do Brasil e um desastre cada vez maior. O que os apoiadores de Bolsonaro queriam era uma sanção individual pela Lei Magnitsky ao juiz Alexandre de Moraes. Em vez disso, o governo americano impôs uma punição coletiva à economia do país.

Com isso, Eduardo não deu apenas um tiro no próprio pé, pois seu comportamento antipatriótico provavelmente terá sérias consequências pessoais para ele no Brasil. Ele ainda diminuiu as chances de anistia para os condenados nos distúrbios de 8 de janeiro de 2023, bem como as perspectivas de clemência judicial para o papai Jair. E como se já não bastasse, a tarifa punitiva atinge sobretudo empresários e agricultores que estão na base de votos de Bolsonaro.

Sem renovação na direita brasileira

Quem saiu ganhando foi Lula, que viu sua popularidade crescer com as trapalhadas de Eduardo. Lula, aliás, tem muito a agradecer ao clã Bolsonaro, começando pela vitória na eleição de 2022, que só foi possível devido à impopularidade e à incompetência política de Bolsonaro.

Se a direita tivesse então um outro candidato, a campanha teria sido bem mais difícil para Lula, que estava enredado em escândalos de corrupção. Há anos que o PT vai mal em eleições municipais, e desde os tempos da ex-presidente Dilma Rousseff o partido é associado à incompetência administrativa.

Mas enquanto o caótico clã Bolsonaro mantiver a direita brasileira em transe coletivo, a urgente renovação vai ter de esperar. Em vez dela, o que se tem são figuras bizarras, como Carla Zambelli e Roberto Jefferson, que ganharam relevância na esteira do sucesso da família Bolsonaro – é um verdadeiro habitat para bizarrices políticas.

Há que se desejar que a direita brasileira finalmente se liberte do seu encanto com o clã Bolsonaro. Afinal, os rumos do Brasil são mais importantes do que o destino de uma família que não sabe fazer outra coisa além de semear o caos. A cultura política brasileira se beneficiaria muito de uma força política de direita que se possa levar a sério.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há mais de 25 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, desde então, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há doze anos.

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