O presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela, Renato Meirelles, afirmou que a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco salários mínimos é um dos principais trunfos que o governo Lula tem para tentar conquistar a classe C, decisiva para qualquer disputa eleitoral desde a redemocratização. Para ele, medidas como essa e o fim da jornada 6×1 falam diretamente com esse grupo, que representa mais da metade da população, mas vive uma crise de perspectiva e não se identifica plenamente nem com Lula nem com Bolsonaro. A entrevista foi concedida ao programa Matinal, do canal Amado Mundo (youtube.com/@amadomundo).
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Leia abaixo os principais trechos ou assista à íntegra no fim do texto.
Como a população brasileira entende o que é democracia?
Democracia é um conceito que a maioria vê como algo que permite ser ouvida. Não tem a ver apenas com a organização do Estado ou com a vontade da maioria, mas também com o respeito à minoria. Essa, porém, é uma definição distante da percepção da maior parte dos brasileiros. Temos dois extremos — cerca de 20% de cada lado — que acreditam que democracia é fazer valer a própria voz, e um conjunto de 60%, dividido entre mais à esquerda e mais à direita, que entende que democracia é o que permite que as pessoas convivam em harmonia. Só que os 20% de cada lado são os mais barulhentos.
Existe avanço conservador entre os mais pobres?
Depende do que chamamos de conservador. Temos pesquisas quantitativas e qualitativas; estas ajudam a entender o que está por trás das respostas. Segurança, por exemplo, é tema muito importante. Para um homem conservador, ser “implacável com bandidos” significa armar a população; para uma mãe conservadora, é ter policiamento na porta da escola.
No aborto, a maioria é contra. Mas, ao perguntar se uma mulher estuprada deve ser obrigada a ter o filho, quase 80% dizem que não. Ou seja, a forma de colocar o debate muda as respostas.
Na visão de Estado, bolsonaristas e petistas se assemelham mais entre si do que ao centro político: todos defendem participação do Estado na economia. Na eleição de 2022, Bolsa Família e Auxílio Brasil foram consenso entre Lula e Bolsonaro. A decisão de voto está ligada à percepção do presente e às expectativas de futuro.
Quais diferenças políticas há entre as classes C, B, D e E?
A classe C representa 53% da população, com renda per capita entre pouco mais de R$ 500 e R$ 1.500. Não pensa de forma uniforme: homens se engajam mais em pautas ideológicas; mulheres, em serviços públicos.
Tem mais dinheiro que a classe D, mas não recebe apoio do Estado; não tem a poupança das classes A e B. Vive sem proteção social e sem reserva financeira, o que gera um sentimento de abandono.
Quando o governo promete isenção do IR até cinco salários mínimos ou o fim da jornada 6×1, fala diretamente com essa classe. Essas pautas emparedam a oposição e podem ajudar Lula a recuperar apoio desse grupo, maioria absoluta do eleitorado.
Como será a disputa pela classe C em 2026?
Ninguém sabe o cenário com mais de um ano de antecedência, mas é possível analisar os movimentos. O governo não precisa aprovar formalmente o fim da jornada 6×1; precisa defendê-lo, deixando a oposição na defensiva. A isenção do IR dificilmente não será aprovada e trará dinheiro real para a classe C, que associará o benefício ao governo.
Há um mês, Lula vivia seu pior momento nas pesquisas, acusado de taxar demais e de não ter bandeiras. Hoje, aparece como patriota ao enfrentar Trump, enquanto bolsonaristas defendem as tarifas impostas pelo ex-presidente americano. A maré mudou. Isso não garante a reeleição, mas melhora o cenário e ainda racha a direita.
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