Em março de 2023, 210 trabalhadores foram resgatados de condições de trabalho análogo a escravidão no Rio Grande do Sul. Eles prestavam serviços para as vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi. Apesar de terem que assinar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) de R$ 7 milhões com o Ministério Público do Trabalho, somente a Fênix, empresa que prestava serviços para as companhias, entrou para a lista suja do trabalho escravo. 

Um ano e meio depois do episódio, o aumento na formalização dos trabalhadores e a adequação dos alojamentos nas propriedades foram as principais medidas tomadas pelas vinícolas da região. A cooperativa Aurora foi uma das empresas que resolveu contratar todos os funcionários via CLT temporária durante a safra, que dura do final de dezembro até o meio de março. 

A empresa não proibiu as contratações via empresas terceirizadas, mas obrigou que todos os trabalhadores devem ficar alojados dentro das propriedades. Os trabalhadores resgatados em 2023 estavam em um alojamento externo.

“Enviamos um questionário digital aos 1.100 cooperados para entender quais as melhorias que precisavam ser feitas. Também fizemos visitas presenciais em que os agrônomos apontavam os pontos de melhorias. Acreditamos que o trabalho tenha sido bem feito, já que a última safra ocorreu sem problemas”, contou o presidente da companhia, Renê Tonello. Ele também afirmou que o contrato com Fênix foi encerrado. 

Melhorias foram de responsabilidade dos cooperados

Como se trata de uma cooperativa de produtores de uvas, todas as melhorias nas propriedades foram de responsabilidade dos próprios cooperados. Tonello esclareceu que eles receberam apoio contábil e jurídico da empresa, que realizou uma lista de pontos que precisavam ser melhorados e também apresentou um projeto de melhoria que teve que ser executado. 

“A maioria das melhorias se tratava de camas e de armários com cadeados e o custo dessas obras chegou a ser de R$ 18 mil em uma propriedade, mas isso dependeu de cada estrutura”, afirmou. Nenhum cooperado foi expulso da cooperativa após o caso. 

De acordo com a Aurora, cerca de 70% dos cooperados precisam contratar, em média, 4 funcionários durante os meses de janeiro e março.

Número de funcionários registrados subiu mais de 200%

O Ministério do Trabalho realizou a operação In Vino Veritas após a safra de 2024, um ano após o resgate dos 210 trabalhadores em situação análoga a escravidão. 

Entre as safras de 2023 e 2024, o número de trabalhadores safristas registrados via CLT temporária subiu 257% no estado, de 2.006 para 7.162. A cidade de Bento Gonçalves foi uma das que registrou maior crescimento: de 60 para 1.783. 

As medidas do MTE incluíram orientação para mais de 14 mil produtores em 36 cidades gaúchas no sentido de formalização dos trabalhadores e melhorias dos alojamentos. 

*A reportagem viajou para Bento Gonçalves a convite da Cooperativa Vinícola Aurora