Cisse no chão: o craque francês quebrou a perna em amistoso. Prejuízo para o Liverpool, seu time

O meia Michael Owen, da seleção da Inglaterra, contundiu-se seriamente no empate de 2 a 2 com a Suécia, na primeira fase da Copa do Mundo da Alemanha. O jogador rompeu os ligamentos do joelho da perna direita e deve ficar seis meses afastado dos gramados. Uma pena para o English Team e um prejuízo danado para o NewCastle, que pagou US$ 25 milhões pelo craque. O caso Owen era a faísca que faltava para detonar a guerra entre os clubes de futebol e a Fifa. O chamado ?G-14?, formado pelas 14 equipes mais ricas da Europa, exige alguma proteção para seus craques ? ou ativos (para ficar numa linguagem mais corporativa). Quem paga a conta no caso de uma contusão que um clube é obrigado a ceder seus craques para as seleções, sem que isso represente ganho financeiro algum? Foram essas questões que levaram o G-14 a entrar na Justiça contra a entidade chefe do futebol mundial. A alegação: abuso de poder. Os clubes pedem, a rigor, mais transparência e abertura da Fifa. Chegaram a exigir indenizações fixas em caso de atletas jogando por seleções, mas recuaram. ?Os clubes se esquecem que a Copa do Mundo é a grande vitrine para os jogadores?, diz William Gaillard, diretor de comunicação da Uefa, de mãos dadas com a Fifa neste embate.

De qualquer forma, depois dos processos iniciados pelo G-14, a Fifa decidiu criar um fundo próprio de seguros para jogadores. No caso de Owen, deve desembolsar alguma coisa para bancar o período de afastamento do inglês. Um seguro contra acidentes contratado pela Federação Inglesa pressupõe o pagamento do salário completo do atleta em seu período parado. Resultado: seriam, para Owen, algo ao redor de 4,3 milhões de euros. Mas a equipe de Owen, o Newcastle, exige pagamento da Fifa. É a mesma exigência do Liverpool em relação ao atacante Djibril Cisse. O francês contundiu-se em um amistoso com a China, a ponto de ser cortado do Mundial. A seleção de seu país lamentou, mas quem chiou foi o clube inglês, que pagou US$ 27 milhões em 2004 para contratar o craque junto ao Auxerre. Estima-se que, com a contusão, o Liverpool perca o montante gasto na transação.


A dor dos astros: Owen (acima) sai de maca do jogo contra a Suécia. Rompeu os ligamentos do joelho e vai ficar seis meses parado. Robinho teve mais sorte. Machucou-se, mas ainda deve jogar a Copa

É briga que promete. No início do ano, a Fifa decidiu organizar um fundo exclusivamente dedicado a resolver problemas com jogadores a serviço das seleções. O fundo tem 6 milhões de libras, o equivalente a 8,7 milhões de euros. ?Mas a Fifa não pode arcar com tudo. O clube deveria fazer o seu próprio seguro?, defende Wagner Ribeiro, empresário que negociou Kaká com o Milan e hoje representa os interesses de Robinho. Robinho, aliás, é outro que está machucado, mas deve voltar em breve à Seleção Brasileira. ?Existe um risco de contusão? Sim. Mas duvido que um clube prefira não correr o risco. Seleção e Copa valorizam jogadores?, diz Ribeiro. Pode não ser bem assim. Além da contusão, há outros problemas que deixam os cartolas dos times de cabelo em pé. Um deles: craques escalados em posição errada não rendem o esperado e podem voltar da Copa desvalorizados. Outro: teimosia ou esquema dos treinadores podem colocar a estrela de determinado time no banco. ?O problema dos dirigentes de clubes é que eles perdem o controle sobre seus ativos durante uma Copa?, diz um empresário que circula nos principais clubes do mundo.
De imediato, o G-14 tem uma proposta na gaveta: a organização de uma Copa do Mundo de Clubes. Na prática, seria a Liga dos Campeões (hoje com 32 equipes disputando 125 jogos). Os cartolas da Fifa, ansiosos em manter o poder da entidade, já reclamaram. Joseph Blatter, presidente da Fifa, vai direto ao ponto de seu interesse. ?A globalização no futebol exerce influência maligna?, diz. ?Gera, a rigor, uma espécie de comércio de homens.?

?Trabalhamos com força total?, diz Masami Sakamoto, diretor da fabrica japonesa Molten, cuja filial da Tailândia foi designada pela Adidas para a fabricação da pelota. Ali, quase mil trabalhadores confeccionam cinco milhões de bolas anuais, aí incluindo as de basquete e voleibol. Em ano de Copa, a atenção aos fabricantes aumenta e com ela olhar vigilante típico do planeta globalizado e socialmente injusto: mais de 80% delas são feitas na região nordeste do Paquistão, em condições nem sempre adequadas. Este ano, transferiu-se a produção da bola oficial também para a Tailândia. A preocupação com denúncias antigas de trabalho infantil e descuido com o meio ambiente, gerou uma operação de guerra. Cientistas desenvolveram uma cola quimicamente menos agressiva aos pulmões dos operários. Novas instalações puseram as linhas de montagem na categoria ISO 14001. Afastou-se o trabalho das casas pobres, como costumava acontecer, de modo a seguir as regras do chamado Acordo de Atlanta, que impôs aos fabricantes esportivos limites muito rígidos na contratação de profissionais. ?Mesmo assim os salários pagos, de menos de US$ 50 ao mês, não são suficientes para garantir educação às crianças?, diz Barbara Schimmelpfennig, porta-voz da ONG Gepa.