A Confederação Nacional da Indústria (CNI) contratou um escritório de advocacia nos Estados Unidos para ampliar a interlocução do setor privado brasileiro com as instituições do governo do presidente Donald Trump. Os advogados atuarão tanto em uma resposta à investigação movida pelo USTR (Representante Comercial dos Estados Unidos, na sigla em inglês) como com lobby junto a políticos do Partido Republicado.

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A investigação aberta pelo USTR ocorreu no âmbito da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que estabelece o procedimento para identificar práticas comerciais prejudiciais aos interesses dos EUA. Na abertura do inquérito, foram citadas questões como o Pix, quebras de patentes no comércio da rua 25 de Março e restrições à transferência de dados de brasileiros para empresas norte-americanas.

“Nosso papel com o escritório é preparar, do lado do setor privado, uma argumentação técnica para todos os questionamentos”, afirma o superintendente de relações internacionais da CNI, Frederico Lamego. “Não é uma disputa na Justiça, é dar subsídio jurídico para um processo técnico.”

A investigação pode durar até 12 meses e, caso o resultado aponte que de fato há práticas prejudiciais aos EUA, o relatório recomendará uma ação corretiva. O presidente Donald Trump decidirá então se responderá com a busca de um acordo ou com medidas retaliatórias. Como o inquérito não está relacionado às tarifas já impostas ao Brasil, o resultado poderia ser de novas taxas ou outras sanções ao país.

Frederico Lamego destaca que a resposta preparada pela CNI ocorrerá em paralelo a do governo brasileiro e de outras organizações que serão ouvidas pela investigação.

Exportadores brasileiros e importadores dos EUA

Já na segunda frente de atuação, o escritório busca construir um lobby, apoiado tanto por empresas brasileiras como dos EUA. “Queremos abrir contatos com representantes do governo americano, em especial do partido republicano, para que a gente possa ter uma agenda de positiva, demonstrar o quão importantes são as relações bilaterais entre os dois países”, explica Lamego.

No começo de setembro, a CNI prepara uma missão de empresários brasileiros rumo aos EUA, onde encontrarão representantes de importadoras estadunidenses para tentar, juntos, alcançar uma interlocução na política. Apesar de não citar quais as empresas, o porta-voz da CNI cita os setores de celulose, madeira, suco, entre outras. “Até de produtores de açaí do Pará temos, as demandas estão muito diversas”, diz.

Outras ações da CNI para auxiliar o setor foi o encaminhamento ao governo Lula uma proposta de medidas compensatórias para todos os setores prejudicados e de um mapa de investimentos do Brasil nos EUA, que poderá contribuir nas negociações sobre a atual tarifa de 50%. Segundo Lamengo, as empresas brasileiras têm um estoque de investimento de quase 24 bilhões de dólares no país.

“Estamos também defendendo muito diálogo e bom senso para evitar qualquer medida de retaliação nesse momento”, conclui o superintendente da CNI.