22/06/2005 - 7:00
Até bem pouco tempo atrás, dizer que suco pronto era prioridade para a americana Coca-Cola podia soar como provocação. Afinal, a multinacional dos refrigerantes nunca admitiu interesse no negócio e sempre tratou o crescimento desse mercado como temporário. Só que de uma hora para outra, a história mudou. Adivinhe com quem a brasileira Sucos Mais admite avançados entendimentos? Com ela mesma, a Coca-Cola. O tom das conversas ainda é sigiloso, mas DINHEIRO apurou que falta apenas definir o formato da operação. Em outras palavras: o desejo da gigante dos refrigerantes é arrematar a companhia por inteiro, mas os controladores locais só aceitam uma associação. Eis o impasse, que deverá ser solucionado nas próximas semanas. ?A transação vem acontecendo há cerca de quatro meses, mas ainda não está fechada. Só vamos concretizar o negócio, depois de definidas as porcentagens da parceria?, afirmou João Luiz Castanheira, diretor-geral do grupo mineiro WRV. Ele apenas não revela o valor da transação. De propriedade da WRV (dona da rede de supermercados Epa) e da também mineira Monte Santo Tavares (de Ricardo Tavares, ex-dono do Café Três Corações), a companhia é o que se chama no mundo dos negócios de um ?case de sucesso?. Precisou de apenas três anos para alcançar um faturamento de R$ 100 milhões (2004), o que lhe rendeu a segunda posição neste setor no País. A líder desse mercado (que movimentou R$ 900 milhões no ano passado) foi a cinqüentenária mexicana Sucos Del Valle, que desembarcou no País em 1997.
Mesmo longe dos R$ 212 milhões que a Del Valle registrou no Brasil, a Sucos Mais não sofre de nenhum complexo de inferioridade. Muito pelo contrário. Ela virou a menina dos olhos desse setor no País, depois que o controlador do grupo mexicano, Roberto Albarrán, afirmou que a sua empresa não está à venda. Prova disso é o constante recebimento de propostas. Antes da Coca-Cola, a compatriota Pepsi, a seguradora AIG e até a portuguesa Compal bateram à porta dos mineiros, mas as conversas simplesmente não passaram de uma consulta. Sequer valores foram discutidos. Aliás, conversar sobre dinheiro não é o assunto preferido dos controladores brasileiros. Eles não falam, por exemplo, sobre a proposta feita pela Coca-Cola. Os mineiros gostam mesmo é de comer quieto. ?Isso é assunto para depois. Primeiro, precisamos definir os percentuais de cada um na operação?, desconversa o diretor-geral do grupo WRV.
O fato é que o modelo de negócio da Sucos Mais é vencedor. Além de já ter pouco mais de 11% do mercado brasileiro e exportar 20% da produção para 15 países diferentes , a empresa tem registrado taxas de crescimento, que deixariam boquiaberto o presidente Lula. ?O nosso faturamento cresce 35% ao ano?, declarou Humberto Malard, gerente-geral da Sucos Mais. As vendas para o exterior, por exemplo, não aconteceram da noite para o dia. Apesar do movimento recente, é possível encontrar o produto brasileiro na Europa, América do Norte, Ásia e, principalmente, África. Tanto que o primeiro mercado a conhecer o sabor da fruta mineira foi os Estados Unidos. Pelo jeito, foi um sucesso. Atualmente, metade da receita de exportação decorre das vendas para os EUA e para o Japão. No entanto, não é só nos indicadores financeiros ou nas vendas para fora do País que a empresa mostra que acertou em cheio. É também no formato das linhas de produção. Com uma fábrica instalada em Linhares (ES), a companhia tem capacidade para produzir 90 milhões de litros de suco por ano. É algo como 7,5 milhões de litros mensais. Só que no momento a produção está na casa dos 4,5 milhões de litros por mês. Natural. A companhia preferiu investir de uma vez só na fábrica, ao invés de aportar pequenos volumes de recursos de ano em ano. ?Aplicamos de uma vez só o dinheiro, porque vamos ocupar integralmente essa capacidade em seis anos?, prevê Malard. Novos investimentos, contudo, dependem do sucesso da negociação com a Coca-Cola, porque certamente outros aspectos entrarão na pauta de discussão. ?Avaliamos todos os pontos, entre eles como faríamos para abastecer um aumento expressivo do volume da demanda?, declarou João Luiz Castanheira.
Com uma gama de 12 sabores, cinco deles na versão light, a Sucos Mais vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil. Em Minas Gerais, por exemplo, a marca representa 58% do mercado. Para fortalecer e afirmar ainda mais o seu poder de expansão, a empresa prepara o lançamento de dois novos produtos: o primeiro mistura laranja e acerola e o segundo é um mix de laranja, caju e manga. A companhia, contudo, não vive só de novos sabores. A Sucos Mais decidiu fomentar a produção no Estado do Espírito Santo, já que antes da iniciativa não usava nenhuma fruta sequer desse estado. Um fato que incomodava a corporação, já que a fábrica da empresa está instalada em Linhares. Mesmo mantendo o jeitinho mineiro intacto, o que significa a adoção da lei do silêncio quando o assunto é números, a companhia revela que a área plantada é de 10 mil hectares e os primeiros pólos já começaram a dar resultados. Já há colheita de goiaba e manga. ?No ano passado, não usávamos nada do Espírito Santo. Neste ano, 13% das frutas já sairão desta iniciativa. E a meta é ter 60% das frutas retiradas desse estado já em 2006?, conta Roberto Gosende, diretor de marketing da companhia. A preocupação regional fica de lado, quando o assunto é marketing. Embora não esteja presente em campanhas publicitárias em cadeia nacional, engana-se quem pensa que a companhia abriu mão de cobrir o País. Não. Ela só lançou mão de uma estratégia diferente. Todos os vôos da TAM, Varig e Gol oferecem os seus sucos no serviço de bordo, inclusive nas rotas internacionais. A próxima escala da Sucos Mais pode ser Atlanta, sede da Coca-Cola.
R$ 100 milhões é quanto fatura a Sucos Mais, dona de 11% do mercado nacional
R$ 900 milhões é quanto movimentou em 2004 o setor de sucos prontos no Brasil