21/12/2001 - 8:00
Há uma estranha coincidência no mar de lama do futebol brasileiro. É como mero fruto do acaso que a Confederação Brasileira de Futebol e a Ambev, controlada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, explicam o fato de os intermediários do contrato de patrocínio da Seleção Brasileira serem pessoas próximas tanto da confederação como da companhia. São eles Renato Tiraboschi, amigo pessoal de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e Roberto Osório, pai de Carlos Roberto Osório, que é casado com Ana Victoria, filha de Lemann. Pelo contrato negociado com a Ambev, a MB Consultoria, empresa dos dois, fará jus a uma parcela de US$ 9 milhões do patrocínio de US$ 180 milhões fechado com a Seleção Brasileira. Por meio de sua assessoria, Lemann afirmou que o parentesco é ?mera coincidência?. O que importa, segundo os assessores, é apenas saber se a comissão está dentro dos padrões de mercado. Para Tiraboschi, também não há nada de errado no cruzamento de relações familiares e profissionais. ?Muitos negócios nascem pelos contatos?, diz.
É, pode ser. Mas o contrato despertou o interesse da Comissão Parlamentar de Inquérito do Futebol. No relatório final do senador Geraldo Althoff (PFL-SC), está descrito o episódio em que a MB Consultoria S/A faz a intermediação do patrocínio. O que surpreendeu os deputados foi o fato de uma empresa ter sido contratada para intermediar um negócio praticamente fechado. E o relator apresentou indícios disso. No dia 10 de abril de 2001, Ricardo Teixeira esteve no Congresso e explicou aos deputados o acordo que estava sendo costurado com a Ambev, uma vez que a entidade estava insatisfeita com a Coca-Cola, que então a patrocinava. Naquele dia, o presidente da CBF afirmou que não havia necessidade de qualquer intermediário, já que se tratava de um patrocinador nacional. Mas dois dias depois do depoimento de Teixeira à CPI, a MB Consultoria era constituída negociadora do contrato. Foi uma empresa praticamente criada para receber a bolada. Até porque não tinha qualquer experiência no ramo do marketing esportivo ? em 2000, a MB faturou apenas R$ 6 mil.
Foi por isso que Althoff concluiu que a MB foi apenas um instrumento de fachada para favorecer um amigo de Teixeira. Mas o relator não percebeu que o negócio também ajudava muito um parente do maior sócio da Ambev. Lemann desconversa. Sua assessoria informa que a última vez que ele esteve com Osório foi em um casamento, há mais de um ano. O genro do dono da Ambev também afirma que não há nenhuma ligação entre o parentesco e os US$ 9 milhões de comissão. ?Nunca tive um contrato da empresa. Infelizmente?, conta Carlos Roberto Osório, dono de duas consultorias esportivas no Rio de Janeiro, a Spectatore e a LG Ventures.