29/07/2021 - 7:45
As catástrofes naturais e os fenômenos extremos não são as únicas consequências da mudança climática para a humanidade. Ela também modifica a linguagem, acrescentando novas palavras.
Alguns fenômenos climáticos surgem, ou se reforçam, como os “redemoinhos de fogo”. Podem ser desencadeados por incêndios muito intensos, se as diferenças de temperatura e os ventos instáveis criarem um redemoinho capaz de aspirar as chamas. Podem se multiplicar na Califórnia e na Austrália.
As “tempestades de fogo” são acompanhadas por relâmpagos e trovões, mas sem chuva. Embora difíceis de prever, seus princípios básicos são sempre os mesmos: os grandes incêndios provocam um calor extremo e muita fumaça que, ao se elevar, interage com a umidade do ar para formar uma nuvem.
Depois de lançar uma tempestade de fogo, esta nuvem passou a ser chamada de “pirocumulonimbus” (ou nuvens de fogo). A Austrália viveu isso em 2019 e em 2020.
Nas cidades, a onda de altas temperaturas é acompanhada da “ilha de calor urbana”, quando a falta de vegetação, a substituição das coberturas naturais por superfícies artificiais e a poluição disparam o termômetro, em comparação com as zonas rurais.
– Transformação em savana –
Ainda mais preocupante é o fenômeno do “termômetro úmido”, ou TW: essa medida leva em consideração a umidade relativa e suas possibilidades de evaporação.
Como um corpo não consegue perder calor se esta temperatura externa TW exceder a sua, os cientistas deduzem que as pessoas não podem sobreviver por muito tempo a 35 graus TW.
Os cientistas acreditavam que esse teto nunca seria ultrapassado. No ano passado, porém, pesquisadores americanos observaram dois locais – um, no Paquistão, e outro, nos Emirados Árabes Unidos -, onde isso aconteceu por um breve intervalo de tempo.
Em processo de análise e validação por parte de 195 países, as novas previsões dos especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU são preocupantes.
Elas destacam a crescente ameaça representada por alguns “pontos de ruptura” climáticos que podem levar a uma mudança dramática e irreversível. É o que relatam fontes que tiveram acesso ao versão preliminar do texto.
Entre esses pontos de inflexão, está a transformação em savana, ou “savanização”, que, no pior dos casos, pode ocorrer na Amazônia.
Também estão-se criando círculos viciosos que reforçam as mudanças. Na Groenlândia, por exemplo, o efeito albedo – ou seja, a capacidade de refletir uma parte da energia solar – está diminuindo.
Na falta de tempestades que tragam neve fresca, a Groenlândia escurece. Esta ligeira mudança de cor tem consequências: como é menos branca, a neve reflete menos luz solar, o que acelera seu aquecimento.
– Descrença e esperança climáticas produzindo novas palavras –
Outras ameaças surgem do permafrost, um solo continuamente congelado que ocupa 25% das terras do hemisfério norte. Ele contém o dobro de carbono que a atmosfera, mas está derretendo, devido ao aquecimento global. Isso faz dele uma bomba-relógio.
Diante dessas catástrofes anunciadas, alguns decidem não agir, porque consideram que seja tarde demais, algo que passou a ser chamado de “doomism” em inglês. Em uma tradução livre para o português, “doom” significa ruína, destino trágico.
Outros são levados pela “solastalgia”, a angústia causada pela degradação do planeta e pela perda do meio ambiente, ou pela “colapsologia”, a teoria do colapso da nossa civilização.
No lado oposto, está a jovem sueca Greta Thunberg, que motivou parte de sua geração a agir, uma corrente conhecida na Itália como “Gretini”.
Há também os que se veem atraídos pelo “turismo de última chance” para visitar e conhecer paisagens, ou animais em risco de extinção. Outros decidem ficar em terra por causa do “flygskam”, palavra usada em sueco para “vergonha de pegar avião”).
Para eles, sempre tem a opção de ler um romance, ou assistir a um filme, de “ficção climática”, ou “cli-fi” (também no inglês), ou ver um documentário sobre o “carbono azul”, a capacidade dos oceanos de absorverem CO2.