Eleições, incerteza macroeconômica, juros altos, inflação… Não faltam ingredientes para fazer da bolsa de valores um lugar para investidores com nervos de aço. Dez em cada dez especialistas em ações afirmam que o ano tem tudo para ser um ciclo de alta volatilidade, grandes perdas e ganhos, e de difícil previsibilidade. Nada disso, no entanto, significa que investir em papeis de empresas listadas na B3 será um mau negócio. Alguns dos maiores bancos e corretoras do País, ouvidos pela DINHEIRO, traçam um panorama do ambiente para a bolsa neste ano e fazem recomendações de empresas e setores para investidores que buscam baixo, médio e alto risco nas companhias de capital aberto.

Sócio da Rio Gestão, André Querne afirmou que o cenário externo não preocupa. “Toda a problemática de bolsa está no cenário interno e resultado da política macroeconômica.” Ele destacou a preocupação do mercado com o equilíbrio fiscal do governo e com “uma eventual alta de gastos por motivação populista”. Em ano eleitoral, isso pesa muito no humor da bolsa. Tanto que boa parte desse eventual descontrole está precificado. “O mercado já ajustou para um nível bem baixo”, disse Querne. Previsão semelhante é a do analista-chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko. “O ano de 2022 promete ser recheado de incertezas e de maior volatilidade justamente por ser ano de eleição. A polarização política deve se acirrar. A elevada taxa de juros e a inflação persistente deterioram a atratividade para o mercado de ações.” Ainda assim, para o analista da Ágora Investimentos, Ricardo França, “a bolsa tem um potencial de upside (valorização) de 20% neste ano. Nas projeções mais otimistas, vai atingir 168 mil pontos. Nas previsões mais pessimistas, recuar para próximo de 93 mil pontos.”

Na manhã da quinta-feira (6), o Ibovespa oscilava em torno de 101 mil pontos, após ter recuado 2% na véspera, devido a uma notícia que veio dos Estados Unidos: o Federal Reserve (Fed, autoridade monetária do país) tem acenado com alta de juros. Segundo analistas, é praticamente certo que haja aumento de 0,25% dos juros nos EUA na próxima reunião do Fed, em março. O impacto dessa perspectiva sobre a economia global foi suficiente para causar a maior retração na bolsa brasileira desde novembro – comprovando que os eventos no exterior continuarão afetando o humor do mercado interno.