Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, está cotado para assumir uma diretoria da Petrobras, disseram duas fontes com conhecimento do convite feito à autoridade, que já ocupou vários postos na área econômica do governo.

O convite a Colnago, que foi ministro de Planejamento no governo Michel Temer, faz parte de um processo de reformulação que está ocorrendo na estatal desde que o presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, assumiu o posto em junho.

Procurado, Colnago não se manifestou.

Eventuais mudanças na diretoria da Petrobras, em especial nas áreas de comercialização ou finanças, que definem os preços dos combustíveis da estatal, levantam preocupações sobre interferência do governo na empresa.

Mas as fontes, que falaram na condição de anonimato e não mencionaram para qual diretoria Colnago foi convidado, garantiram que uma eventual chegada do atual secretário do Tesouro à empresa não teria a motivação de interferir em preços antes de um segundo turno da eleição presidencial, no final do mês.

“Eles convidaram caras do governo para assumir cargos lá (na Petrobras). Convidaram o Colnago”, disse uma fonte do governo em condição de sigilo para comentar sobre o assunto.

“Vamos ver se ele vai aceitar, talvez seja bom pra ele. Vai ganhar muito mais do que ganha no governo. Ele é um cara espetacular e muito competente”, adicionou a fonte.

Na época em que ocupou a posição de chefe da assessoria especial de Relações Institucionais do Ministério da Economia, Colnago era responsável por fazer a ponte entre o Ministério da Economia e Congresso Nacional.

Na Petrobras, ele poderia ocupar uma posição ligada à área financeira. “Todo mundo quer trabalhar na Petrobras. Ele é um craque e já fez muitas coisas boas pelo Brasil”, adicionou uma segunda fonte.

Até agora, o presidente da Petrobras promoveu apenas uma mudança na diretoria, na área de assuntos digitais. Conforme reportou a Reuters no início de setembro, essa seria a primeira de outras alterações em estudo.

A expectativa é que novas trocas aconteçam em breve.

“As mudanças vão acontecer dentro do seu curso natural de uma troca de comando. O timing quem define é a própria Petrobras mas elas inevitavelmente vão ocorrer”, disse uma das fontes.

“Todas as áreas (diretorias) estão sendo avaliadas como em qualquer empresa normal. Não tem hora para reformulação. O que vai acontecer é o que acontece em qualquer empresa do mundo. Gestão nova, gente nova. Mas nada absolutamente traumatizante. Uma evolução normal e natural”, adicionou uma segunda fonte.

A informação de que Colnago está sendo cogitado para uma diretoria da Petrobras foi publicada antes pelo TC Mover.

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto imediatamente.

“TORCIDAS”

A preocupação sobre a interferência do governo na Petrobras ocorre em momento em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados como a Rússia, conhecidos como Opep+, fizeram profundo corte de produção de petróleo, que está dando sustentação aos preços internacionais.

Se o mercado de petróleo se fortalecer mais, pode exacerbar uma defasagem registrada nos últimos dias nos preços locais ante os valores internacionais, segundo analistas e importadores.

A Petrobras afirma que sua política de preço não repassa volatilidades das cotações, aguardando a definição de uma tendência no mercado antes de qualquer movimento.

“Se a turma fizesse qualquer conta racional, veria que a Petrobras está navegando com tranquilidade. Teve gente que se acostumou a influenciar a Petrobras no gogó. Não cola mais”, adicionou a fonte sobre a pressão do mercado por um aumento.

“Se as pessoas que pedem o reajuste entendessem a formação do preço, as bandas, os índices e a postura da empresa, não estariam perdendo tempo.”

Uma terceira fonte com conhecimento do assunto também disse que em momentos de oscilações do petróleo há muita “especulação, natural, fruto de torcidas em ambiente pré-eleições”.

Mas ela comentou que a política de preços da Petrobras é sólida e blindada contra interferências.

“Mesmo dois anos de prática de preços alinhados (sem repasse imediato das volatilidades do Brent) não impedem desejos de uso político dos preços da Petrobras –pelos dois lados”.

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