Dez anos após a descoberta da embarcação, governo colombiano apresenta primeiros objetos recuperados de galeão naufragado em 1708 no Caribe. Propriedade do tesouro ainda é alvo de disputas internacionais.Dez anos após a descoberta do lendário galeão espanhol San José , o governo da Colômbia apresentou na semana passada os primeiros artefatos recuperados da embarcação, que afundou no século 18 no Caribe, próximo à Cartagena das Índias

A autoridade arqueológica do país revelou as cinco primeiras peças extraídas do naufrágio: um canhão, uma xícara e outras peças de porcelana, além de três moedas de ouro e bronze.

O San José, que pertencia à Armada espanhola, foi afundado por uma frota de corsários ingleses em 8 de junho de 1708, quando se dirigia a Cartagena das Índias carregado, segundo crônicas da época, com cerca de 11 milhões de moedas de oito escudos em ouro e prata, recolhidas na feira de Portobelo (Panamá).

O navio à vela foi redescoberto em 2015 , gerando disputas internacionais sobre a propriedade do tesouro repleto de joias, pedras preciosas e metais, cujo valor é estimado em bilhões de dólares.

Alhena Caicedo, diretora do Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH), afirma que o objetivo do trabalho é “compreender melhor como os materiais podem se comportar quando expostos ao oxigênio”.

Uma nota do ICANH afirma que o objeto de porcelana de origem chinesa retirado do galeão “é a peça mais completa e melhor preservada do período Kangxi (1662-1722)”. Mesmo naquela época, as xícaras de porcelana deixaram de ser artigos de luxo para serem usadas no cotidiano de diferentes populações ao redor do mundo, observa a instituição.

Robôs e braços mecânicos para recuperar tesouros

Com a utilização de robôs controlados remotamente e equipamentos de vídeo de alta tecnologia, os cientistas atingiram uma profundidade de quase 1.000 metros para avaliar com precisão cada canto do navio e a condição dos destroços.

Os cientistas usaram um braço robótico operado remotamente e outras técnicas precisas para analisar o tesouro. Eles também recuperaram amostras do sedimento que se acumulou ao longo dos anos no galeão.

Os materiais serão analisados para “melhor compreender as causas do naufrágio” e outras hipóteses sobre extração de recursos, manufatura e rotas comerciais daquela época, acrescentou Caicedo.

Um tesouro que alimentou disputas diplomáticas

Os restos do galeão têm sido alvo de disputas diplomáticas. A Espanha reivindicou a carga com base em uma convenção das Organizações das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) da qual a Colômbia não é signatária.

Contudo, os indígenas bolivianos da comunidade Qhara Qhara argumentam que as riquezas foram retiradas de suas terras.

Ao mesmo tempo, o governo de Gustavo Petro defende a utilização de seus próprios recursos para recuperar os vestígios arqueológicos do oceano, contribuindo para a ciência e a cultura do país, independentemente das controvérsias sobre a distribuição da riqueza.

rc/cn (EFE, AP, AFP)