10/03/2022 - 9:53
Em eleições tão complexas quanto decisivas, os colombianos vão renovar o Congresso no próximo domingo (13), completar a lista de candidatos à presidência e definir se a esquerda vai avançar sobre a direita no poder.
Quase 39 milhões de pessoas poderão eleger as duas câmaras do desacreditado Parlamento de 296 assentos. Em 2021, sua imagem desfavorável chegou a 86%, segundo pesquisa Invamer, devido a escândalos de corrupção.
As expectativas estão, no entanto, concentradas no processo paralelo de primárias, ou consultas partidárias, e em uma possível quebra da abstenção eleitoral. Tradicionalmente, ela tem sido em torno de 50%.
O país é convocado às urnas marcado pela violência que se seguiu ao pacto de paz com a extinta guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), pelos estragos econômicos da pandemia da covid-19 e pela repressão de protestos recentes e massivos.
Daí sairá o mapa político com vistas às eleições presidenciais de 29 de maio.
– Segundo plano –
Haverá duas eleições simultâneas com voto voluntário: a do Congresso e as primárias entre os candidatos à sucessão do impopular presidente Iván Duque. Por lei, ele não pode se reeleger.
“Há uma presidencialização destas eleições legislativas”, afirma Yann Basset, analista da Universidad del Rosario.
Com as primárias em segundo plano, uma ampla gama de movimentos sociais medirá forças contra os partidos tradicionais.
Depois de um Congresso, no qual nenhum partido teve maioria, os especialistas antecipam “algumas mudanças, devido à ausência de grandes” figuras, diz Patricia Muñoz, da Faculdade de Ciência Política da Universidade Javeriana.
Entre as ausências, a mais notória é a do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), o político de direita mais influente deste século. Ele renunciou ao Senado, após obter o maior número de votos nas eleições legislativas de 2018, pressionado por seus problemas na Justiça por suposta manipulação de testemunhas.
Seu partido, o Centro Democrático, chegou ao poder com Duque e foi o mais votado no Senado. Agora, porém, os analistas projetam um voto de punição por parte dos eleitores.
Os outros “partidos vão mobilizar menos (eleitores) e ter bancadas menores, então, deve haver um avanço nas listas das coalizões de esquerda”, diz Muñoz.
– Uribismo –
A esquerda e as coalizões de centro-esquerda e de centro-direita definirão suas cartas presidenciais. No total, são 15 aspirantes e praticamente apenas uma certeza: a nomeação do senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, que vence em todas as pesquisas.
Petro, de 61 anos, derrotado por Duque, enfrentará seus rivais no domingo. Enfraquecido, o uribismo se inclinou para o ex-ministro Óscar Iván Zuluaga, rebaixado nas pesquisas, enquanto o independente Rodolfo Hernández e a ex-refém das Farc Ingrid Betancourt já estão na disputa.
“Quando o governo é impopular, há alternância, e a oposição vence, mas na Colômbia é novo: a esquerda nunca esteve realmente em condições de ganhar uma eleição”, explica Basset.
Ainda assim, em um país historicamente governado pela direita, ninguém considera o uribismo morto. O ex-prefeito Federico Gutiérrez é o favorito para ganhar a indicação da centro-direita, enquanto na centro-esquerda o que tem mais chances é o ex-candidato presidencial Sergio Fajardo.
– Assentos da paz –
Como grande novidade, as vítimas do conflito armado poderão se candidatar nas próximas duas legislaturas (2022-2026 e 2026-2030), em que serão eleitos 16 representantes por ciclo. Os assentos da paz fazem parte do pacto que levou ao desarmamento das Farc, o grupo guerrilheiro outrora mais poderoso do continente.
Embora o acordo tenha diminuído a guerra por um tempo, a violência tem ganhado força novamente. Vários dos 167 municípios onde serão escolhidos os deputados das vítimas estão sob fogo cruzado de grupos armados que são financiados por narcotraficantes, o que gera temores em relação à segurança e à transparência da votação.
“O paradoxo é que a violência não parece mais estar no centro da campanha, e o que domina a agenda hoje é como vamos sair da crise econômica e social”, diz Basset.
Comunes, o partido formado por ex-guerrilheiros das Farc, enfrenta seu próprio teste. Embora o acordo de paz garanta a eles dez cadeiras até 2026, a sigla irá às urnas para medir sua aceitação, após o desastre de quatro anos atrás, quando obteve 0,3% dos votos.
“O acordo de paz saiu do centro da agenda”, reafirma o analista Muñoz.
E, considerando-se o aumento da violência e as novas preocupações sociais, Comunes pode, desta vez, obter um “resultado igual, ou inferior”, acredita.