Por um longo período, minha concepção foi formada por visões estereotipadas sobre a leitura – que seria algo chato e irritante. Mas minha perspectiva foi transformada, e de uma forma que eu nunca imaginei ser possível.Em minha infância e pré-adolescência, eu possuía um certo preconceito a respeito da leitura. Para mim, devia ser algo completamente enfadonho, eu não conseguia entender como existiam pessoas que amavam aquele hábito que me parecia tão difícil. Porém, quando eu tinha doze anos, tudo mudou.

Preconceito

Não consigo reportar de onde surgiu esta minha visão sobre a leitura, pois sempre fui estimulada por meus familiares a ler, desde a minha alfabetização.

Entretanto, em basicamente todas as escolas que estudei, eram passados livros clássicos para os estudantes, como O Alienista, de Machado de Assis.

Não me entenda mal, eu sou fascinada por todas as obras do escritor, mas as mesmas podem ser um tanto complicadas quando lidas por uma criança de onze anos, e foi isso que eu senti quando tentei ler a obra. Foi como se as palavras estivessem se embaralhando em minha mente, aquilo parecia extremamente confuso e irritante para mim. Foram estas opiniões que adentraram na minha mente durante muito tempo, e, provavelmente, estes fatos contribuíram para a minha visão distorcida do hábito de ler.

O dia em que tudo mudou

Aos doze, por influência de minha mãe, decidi, finalmente, ler meu primeiro livro por vontade própria. O escolhido foi O Pequeno Príncipe, um clássico atemporal. Confesso que, no começo, eu estava bem relutante, achando que aquele seria mais um livro complicado, o qual eu não entenderia nada.

Mas, ao longo da leitura, percebi que estava completamente errada, e não me foi enfadonho, pelo contrário, fiquei completamente presa na leitura, senti como se meu mundo estivesse se expandindo, eu senti felicidade, me encantei pelos personagens que eu havia acabado de conhecer, senti ânsia por mais.

Como eu podia ter esperado tanto tempo para experenciar aquilo? Naquele momento, vi como os meus preconceitos eram inadequados e falsos, eu vi como a leitura expandiu minha mente, vi a mesma acalentando a minha alma ansiosa de criança. E, por mais que eu não tenha entendido completamente naquele momento todas as nuances que O Pequeno Príncipe aborda, eu me senti realizada, pois eu havia sido “cativada” pela leitura.

Transformações

Desde aquele dia, nunca mais consegui parar de ler, me tornei uma leitora voraz. Posso, facilmente, dizer que esta prática mudou intrinsecamente a minha vida. Me tornei uma pessoa com uma visão de mundo diferente, com um maior pensamento crítico, com capacidade de expressar minhas emoções e os meus pensamentos. Este costume me fez uma aluna melhor, mais capacitada, mais interessada. Me fez compreender melhor todos os tipos de textos que me eram apresentados, a leitura me destacou.

Digo que existe uma Isabela antes e uma Isabela depois dos livros. Eu me fiz outra, em todos os sentidos da minha vida, tanto pessoal quanto estudantil. E, redigindo este texto, sinto meu coração se alegrar, sinto vontade de chorar de felicidade, sinto gratidão pelos livros existirem.

Me sinto agraciada por ter a oportunidade de viver várias vidas, de estar em vários lugares, de conhecer inúmeras pessoas, de sentir inúmeras emoções, apenas sentada, lendo.

Assim, de modo geral, vejo que os meus preconceitos me impediram de viver coisas maravilhosas – sensações inéditas, aprendizados, reflexões e sonhos – por muito tempo, mas, felizmente, as coisas mudaram. E de uma forma imensamente linda.

Dessa forma, eu espero que todos possam viver, pelo menos um pouco, a beleza que é a leitura, este ato transformador de vidas. Que todos tenham a possibilidade de sentir os sentimentos que eu mesma senti, que tenham seus ideais transformados. Como disse o filósofo Aristóteles: “a leitura é o caminho mais curto para o conhecimento” – e, na minha opinião, o mais divertido.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Isabela Da Silva Couto, 15 anos, de Ananindeua (PA). O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.