A economia alemã está em recessão, enquanto o Brasil vem crescendo há quatro anos. Seria de se esperar que a Alemanha tivesse mais interesse na maior economia da América Latina. Mas esse não é o caso.Há uma clara discrepância entre o clima nas filiais brasileiras de empresas alemãs e o nas suas matrizes: na Alemanha, os mais importantes grupos empresariais de capital aberto estão anunciando demissões em massa e programas de redução de custos. Com raras exceções, todos os carros-chefes da indústria alemã têm sido afetados por essas medidas.

A situação e as perspectivas também não são nada animadoras. Há dois anos e meio, a economia alemã está em recessão, e as previsões indicam que não se recuperará significativamente neste ou no próximo ano.

Muito diferente do clima no Brasil, onde 82% dos chefes de empresas do ecossistema de negócios Brasil-Alemanha contam com uma aceleração da economia brasileira nos próximos 12 meses, conforme uma pesquisa recente da consultoria empresarial PwC.

Muitas vezes as mesmas empresas que precisam economizar na Alemanha estão no azul no Brasil, beneficiando-se da boa conjuntura econômica há quatro anos. A maior economia da América do Sul cresce anualmente mais de 3% desde 2021. Taxas de crescimento de mais de 2% também são esperadas para este e o próximo ano.

E não se trata somente do mercado do Brasil, com seu mais de 210 milhões de habitantes. O país está no centro da América do Sul, que também cresce. As outras quatro principais economias sul-americanas – Argentina, Chile, Peru e Colômbia – também estão crescendo, e a previsão é de que continuarão nos próximos anos.

A América do Sul é um mercado com 440 milhões de participantes – mais ou menos tão grande quanto o da União Europeia, mas com uma renda média significativamente menor. Ainda assim, as perspectivas não são necessariamente boas: a mudança na situação geopolítica mundial e as próximas campanhas eleitorais na região aumentam as incertezas.

Mas, em vista das ameaças de Washington de fechar cada vez mais seu mercado às importações, é surpreendente as empresas e os políticos alemães não estarem adotando uma postura mais agressiva no Brasil e na América do Sul.

Menos investimentos

Há alguns dias, uma delegação de 50 representantes do estado alemão da Baixa Saxônia esteve no Brasil e assinou com o estado de São Paulo um acordo de “cooperação aprofundada”. Em principio, trata-se de uma declaração inicial de intenções, nenhum projeto concreto de investimento foi anunciado. Bem o contrário de dinamismo econômico.

Em conversas com empresários alemães in loco, ouvi que as matrizes alemãs estão reduzindo ou até cancelando investimentos no Brasil, mesmo que os negócios estejam indo bem.

Dificilmente alguma empresa alemã deve expor em grandes feiras como a Agrishow, marcada para o final de abril, a terceira maior do setor agrícola do mundo – uma área em que o Brasil é líder internacional. O mesmo se aplica à Gamescom Latam, um dos eventos mais importantes do mundo para jogos de computador e videogames, setor que também cresce rapidamente. Também aqui, a participação alemã será mínima.

Essa falta de interesse da Alemanha contrasta com o dinamismo econômico que empresas alemãs e de outros países europeus têm vivenciado no Brasil, entrando em nichos de mercado e sendo muito bem-sucedidas. Tive dezenas de conversas sobre isso nos últimos dias e fiquei surpreso como oportunidades surgem onde não se espera.

Essas são boas notícias para a cooperação econômica Brasil-Alemanha. Agora elas precisam encontrar ouvidos abertos também nas sedes das empresas alemãs.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.