Belém está se embelezando para a COP30. Além de questionamentos sobre a relevância e eficácia do evento, também fica a pergunta: quem, no final, vai realmente se beneficiar dos bilhões gastos na conferência?Passei uma semana em Belém, a contraditória cidade amazônica, com seu centro histórico degradado e cheio de potencial desperdiçado de um lado, e seus luxuosos edifícios de apartamentos e condomínios para os ricos do outro, que, como sempre, se isolam da realidade brasileira.

Um aspecto positivo é que Belém, graças à transformação de antigos galpões em espaços gastronômicos e comerciais, se abriu para o Rio Guamá – bem diferente de Manaus, a outra grande cidade no Amazonas, que, social e geograficamente fragmentada, dá as costas para o Rio Negro.

Além disso, a cena gastronômica de Belém é mais diversa e criativa do que a de Manaus. Um paradoxo comum em ambas as cidades no meio da selva é a escassez de árvores e áreas verdes. Apenas 44% dos moradores de Belém vivem em ruas com árvores. Concreto, asfalto, casas de tijolos mal-acabadas, umidade, fiação exposta e a típica falta de regulamentação predominam no cenário urbano.

Palco da COP30

Daqui a seis meses, Belém sediará a 30° edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), com a expectativa de receber de 50.000 a 60.000 visitantes.

Após a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016 e o G20 do ano passado, o Brasil novamente estará no centro das atenções. O país quer se mostrar e o governo gostaria de apresentar a Amazônia como a chave para conter as mudanças climáticas.

Lula – fã de grandes palavras e gestos simbólicos que, na maioria das vezes, não geram efeitos – provavelmente pedirá novamente bilhões de dólares dos países desenvolvidos; dinheiro que ele poderia exigir da próspera indústria do boi brasileiro, responsável pela maior parte da destruição da floresta e pelas emissões de metano – os maiores responsáveis pela desastrosa balança climática do Brasil.

Agora, em Belém, é palpável como a cidade está se preparando para o grande evento da COP30. Quem pode, está preparando suas casas para alugá-las em novembro, muitas vezes a preços exorbitantes, que ninguém realmente será capaz de pagar.

Mas, como faltam quartos de hotel, a grande demanda diante da oferta insuficiente acaba elevando os preços. Quem tem o dinheiro, compra uma casa para reformar e espera poder cobrir parte dos custos com o aluguel para alguma delegação desesperada, uma ONG ou uma empresa de mídia. Vive-se um clima febril de especulação em Belém.

Enquanto isso, a cidade está se embelezando com grandes empreendimentos que têm pouco a ver com a proteção climática. A cidade está aproveitando os quase cinco bilhões de reais do governo federal para, por exemplo, criar uma paisagem de parque ao longo do canal da Doca, um canal de esgoto ao ar livre que passa pelo bairro rico do Umarizal.

Construir é, sem dúvida, o método mais popular de todo prefeito brasileiro para gastar dinheiro público. As obras deixam os empreiteiros felizes. Além disso, são visíveis e, assim, mais atrativas para as campanhas eleitorais do que investimentos em educação ou saúde, cujos efeitos positivos muitas vezes só aparecem a médio e longo prazo. Claro, é possível também valorizar alguns bairros, geralmente os dos já privilegiados.

Críticas

Uma crítica em Belém é que o canal da Doca, que vem sendo limpo e dragado, está tendo o seu lamaçal e entulho depositados justamente em frente à Vila da Barca, um dos maiores bairros de palafitas da América Latina, com mais de 7.000 habitantes. Estive na Vila da Barca e conversei com moradores. Eles reclamam da falta de um sistema de esgoto, moram praticamente em cima de uma imensa fossa. Além disso, falta água potável e a coleta de lixo quase não ocorre.

Portanto, parece um deboche que, justamente diante da favela, será construída uma estação de bombeamento (apresentada como um projeto da COP30) para desviar os esgotos do bairro rico de Umarizal. Os moradores da Vila da Barca reclamam de não serem incluídos nos processos decisórios dos projetos que os afetam diretamente. É típico do modo de governar no Brasil. Para os ricos, constrói-se e melhora-se, para os pobres, nem se pergunta o que eles precisam.

André Godinho é o secretário extraordinário de Belém para a COP30 e responsável pelos grandes projetos de infraestrutura. Ele afirma que Belém não é perfeita e não se apresentará como perfeita, mas que finalmente algo está sendo feito na cidade, após décadas de negligência.

“Estamos aproveitando a oportunidade para tornar Belém mais agradável.” E ele se empolga ao falar de um plano para restaurar a Cidade Velha que, um dia, poderia se parecer com Lisboa. Um colega dele chegou a se emocionar com essa visão. Vamos ver se a grande emoção vai resultar em grandes resultados.

Uma COP para inglês ver?

Além dessas questões, o tema da COP30 – como gerenciar as mudanças climáticas – acaba ficando em segundo plano.

Há graves acusações de que a sociedade civil, especialmente os povos indígenas do Brasil e as comunidades extrativistas, com seu vasto conhecimento sobre o uso sustentável da floresta amazônica, estão sendo ignoradas. O governo do Pará, por sua vez, parece tratar o clima como uma oportunidade de negócio, buscando entrar de forma grandiosa no mercado de créditos de carbono, um mercado ainda extremamente opaco e, frequentemente, ineficaz.

Seria melhor se concentrar em combater de forma eficaz o desmatamento ilegal para pastagens e os garimpos ilegais, além de garantir a segurança de ambientalistas e indígenas que defendem suas reservas.

Se desconsiderarmos a eficácia das conferências mundiais sobre o clima, frequentemente decepcionantes, mas extremamente intensas em CO₂, Belém se mostra certamente um local mais adequado para a COP30 do que as absurdas cidades petrolíferas de Dubai e Baku.

Mas ficam várias questões: Belém se apresentará apenas para inglês ver? Qual o grau de corrupção, comum no Brasil, que permeia os projetos de construção? E, por fim, a qualidade de vida da população em geral realmente melhorará ou apenas a dos já privilegiados?

O governo de Lula precisa ainda se perguntar como irá melhorar a posição catastrófica do Brasil entre os maiores responsáveis pelas mudanças climáticas no mundo, em vez de se limitar a recorrer à retórica simbólica.

=================================

Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha, Suíça e Áustria. Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.