Expansão das licenciaturas on-line é uma questão que merece atenção. As instituições não podem se isentar da responsabilidade sobre a qualidade da formação que se propõem a oferecer.A formação inicial dos professores abre muitos caminhos para a vida profissional. Apesar de não ser o único momento de estudo da carreira docente (pelo contrário, é apenas o início), é a partir dela que o percurso de aprendizagens é delineado para uma carreira sólida. Assim, vejo a importância de uma primeira formação concreta, capaz de fornecer ferramentas necessárias para o desenvolvimento dos profissionais da educação.

Tendo isso em vista, chamou-me atenção os recentes debates sobre o grande número de cursos de licenciatura à distância no Brasil. Dados levantados pelo Todos Pela Educação, coletados a partir do Censo da Educação, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2022, revelam que dois terços dos docentes formaram-se em Educação à Distância (EaD) e a quantidade de formações em cursos de licenciatura à distância em faculdades particulares mais do que dobrou em dez anos.

Com essa quantidade de cursos que surgiram no país em um tempo tão curto, como é atestada a qualidade de ensino ? Como é garantida que uma formação comprometida com os futuros docentes, e os futuros discentes, está sendo fornecida?

Licenciaturas à distância merecem atenção

É evidente que os cursos à distância possibilitaram o ingresso ao Ensino Superior de pessoas que não teriam essa possibilidade, seja por questões financeiras, seja por questão de disponibilidade ou até devido à localidade remota do estudante. Não questiono, portanto, a legitimidade de cursos remotos, nem a importância deles, mas a qualidade em que estão sendo ofertados.

A formação docente não deve ser presa a métodos e técnicas para “o melhor ensinar”, até porque não existem fórmulas enrijecidas que possam ditar qual é a forma mais eficiente de exercer a profissão, visto que a escola acontece na cotidianidade. Deve-se, portanto, ir além: os cursos de licenciatura devem ser capazes de fornecer, sem perder de vista o conteúdo institucional previsto, questões relativas à educação e ao sujeito, como aspectos históricos, filosóficos, sociais e políticos da educação.

Refiro-me à qualidade, portanto, pensando nas possibilidades de abordagens da educação que um profissional da área deve ter, sempre voltando o olhar para o cotidiano escolar. Pensar em como conseguir reformular uma abordagem do conteúdo a partir de eventos da atualidade; olhar os alunos de forma plural, e não estigmatizada; tomar a decisão ética e política de não se esquecer o seu papel como educador, dentre outros, são aspectos que formam um bom profissional da educação.

Instituições precisam ser responsabilizadas

Além disso, preciso esclarecer que as discussões acerca desse assunto não devem tomar como foco principal o indivíduo. Ou seja, as instituições devem ser responsabilizadas pela qualidade da formação profissional docente quando se trata de currículo. Nesse sentido, deve haver uma preocupação em construir possibilidades que favoreçam um ensino de qualidade, que esteja à par da realidade material e cotidiana da vida escolar.

Para isso, é preciso debate em sala de aula, encontro com o diferente, troca de experiências e o estranhamento para a constante construção e reconstrução do indivíduo, que um curso de licenciatura, formado majoritariamente por aulas gravadas, materiais escassos e pouca ou nenhuma interação entre alunos, e entre professores e alunos, não é capaz de fornecer.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Estela Ferreira Battistini, de 21 anos, estudante de letras na Universidade de São Paulo (USP), e reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.