25/09/2025 - 6:12
Para que a ciência no Brasil progrida e seja bem-sucedida, é necessário que as universidades públicas tenham suas autonomias salvaguardadas e não precisem condicionar suas pesquisas a interesses políticos.No Brasil, universidades públicas não são só prédios cheios de livros ou laboratórios caros. Elas são espaços de resistência, de questionamento e de transformação social. Defender a autonomia das universidades públicas não é uma questão de burocracia, mas sim de democracia.
Quando o governo corta verba, interfere na pesquisa ou tenta controlar o que se ensina. Quem perde não é só aluno ou professor e sim a sociedade inteira, que deixa de ter acesso à pesquisa independente, formação crítica e inovação de verdade.
O que é autonomia universitária?
A autonomia universitária se sustenta em três pilares: financeira, pedagógica e administrativa. É ela que permite decidir orçamento, planos de carreira, métodos de ensino e políticas de pesquisa.
Sem autonomia, a universidade deixa de ser espaço de reflexão crítica, virando uma extensão dos interesses políticosou econômicos do momento. Nos últimos anos, cortes e contingenciamentos mostraram bem como a dependência de repasses governamentais enfraquece tudo: autonomia financeira é autonomia de verdade. Sem recursos, professores, estudantes e servidores ficam reféns de agendas externas.
Dependência financeira e suas consequências
Essa dependência financeira tem efeitos claros: pesquisas podem ser direcionadas por quem financia, e não pelo interesse acadêmico ou social; decisões sobre contratação e desenvolvimento de projetos podem se alinhar a prioridades externas. O debate intelectual, que deveria ser livre e crítico, fica moldado por interesses alheios.
O caso da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2024 ilustra bem essa vulnerabilidade. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a reitora Raiane Assumpção alertou que a instituição só conseguiria manter serviços básicos de segurança, limpeza, energia e água até setembro daquele ano, caso os cortes persistissem. O orçamento de 2024 foi cerca de 10% menor que o de 2023.
Mais do que números, essa realidade afeta diretamente a vida estudantil: estudantes podem abandonar cursos por falta de bolsas ou infraestrutura, pesquisas estratégicas ficam suspensas e a formação de profissionais qualificados é comprometida.
Segundo levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o valor das verbas discricionárias nos orçamentos das universidades caiu 55% entre os anos de 2015 e 2022.
A escassez de verbas não é só estatística: é um entrave concreto à autonomia, ao planejamento e ao papel crítico que a universidade deveria exercer. Uma universidade que depende mês a mês de repasses emergenciais não consegue planejar o futuro: vive à mercê de decisões políticas imediatistas.
Defender a autonomia das universidades não é apenas proteger instituições, mas decidir que tipo de país queremos ser. Um país capaz de sustentar pensamento crítico ou um país que entrega o conhecimento às pressões do poder e do mercado? A escolha não é abstrata: ela define se o Brasil terá futuro livre ou apenas presente controlado.
______
Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinicius B. D’Amaceno, de 19 anos, estudante de história na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.