Os professores já estão cansados de ouvir que são importantes, quando na prática são desrespeitados e desvalorizados. Nesta data, eles gostariam é de mais ações e menos promessas.Que tipo de homenagem já está cansado(a) de receber no Dia do Professor? Esta foi uma das perguntas que fiz ao entrevistar 29 docentes brasileiros de 11 estados.

A resposta de Luana da Silva, docente pernambucana, representa bem a de seus colegas: “O discurso da profissão como dom, sacerdócio e ‘por amor’. Eu trabalho com amor, mas por amor, não. A profissão é uma parte da minha vida, mas minha vida não se resume a ela.”

Os professores são unânimes: “vocês são heróis” ou “sem vocês não teria nenhuma outra profissão”, embora muitas vezes proferidas com a melhor das intenções, soam vazias e não cobrem as lacunas deixadas por décadas de desrespeito e desvalorização.

O que gostariam de homenagem?

Se for para ser palavras, que sejam proferidas em um anúncio formal e seguido de ações reais e concretas: “A partir de hoje vocês receberão o piso nacional, que é lei. Terão um plano de saúde digno. Portanto, não precisarão mais trabalhar três turnos para ter uma vida razoável”, diz Nivia Cardoso, docente há 37 anos na rede carioca.

Além disso, querem melhores condições de trabalho e ter a oportunidade de não mais lecionar em turmas superlotadas, muitas delas sem uma climatização básica.

O que os professores querem dizer?

Yaciara Mendes, docente no Distrito Federal, gostaria de deixar uma mensagem para os leitores desta coluna: “Queria dizer que estou bem, que amo meu trabalho e que me sinto realizada, mas a verdade é outra: estou exausta. E sei que não estou sozinha. Estamos todos cansados, sobrecarregados, desmotivados. E isso dói. Dói porque a gente não deixou de se importar. O problema é justamente esse: ainda nos importamos demais, mesmo quando ninguém parece se importar conosco ou ficam apenas nos discursos.”

Ela prossegue: “É difícil continuar acreditando quando parece que estamos gritando num vazio. As condições são cada vez piores, o respeito cada vez menor. A cobrança só aumenta. E o apoio? Quase nenhum. Estamos adoecendo, física e emocionalmente. Fingindo força para seguir mais um dia, mais uma aula, mais uma correção de prova.”

Muitas razões para desistir, mas resistem

Dentre os professores entrevistados, 65% já pensaram em desistir da profissão. Joseane Alves, docente alagoense, está dentro do time majoritário. Segundo ela, a maior razão é: “O tanto de trabalho que levamos para casa parece não ter fim. Minha casa virou outro local de trabalho, e isso é cansativo.”

Ana Kevia, docente cearense, concorda e complementa: “O que mais cansa não é o ensinar, o esforço de preparar aulas, corrigir provas e nem lidar com diferentes temperamentos. O que realmente cansa é a falta de valorização. É ver tanto amor e dedicação sendo ignorados por quem deveria apoiar. É trabalhar sem recursos, improvisar todos os dias e ainda ouvir que ‘professor reclama demais’.”

Ela complementa: “O que faz pensar em desistir é perceber que a educação virou jogo político, que quem está na ponta — na sala de aula, nas escolas do interior, nas comunidades rurais — carrega tudo nas costas, enquanto decisões importantes são tomadas por quem nunca sentiu o cheiro de um giz.”

Por que então resistem? O que os impede de desistir? Pode parecer clichê, mas são justamente as razões que os fizeram ingressar na profissão: simplesmente acreditam na educação como ferramenta e nos estudantes como agentes de transformação.

O que mantém Marilene Alves, docente paulista, resistindo é: “A paixão pelo que faço; também a possibilidade de ver os alunos alçando voos interessantes em vários segmentos da vida, da sociedade, alicerçados em conhecimentos que, muitas vezes, fomos nós que levamos até eles.”

Querem ações concretas e não promessas

A melhor homenagem para os professores em seu dia não são palavras, mas sim ações: uma real valorização, não apenas salarial, mas também através do reconhecimento real da importância do trabalho que desenvolvem. Os professores precisam do básico que qualquer profissional precisa: serem valorizados e respeitados enquanto detentores do conhecimento que estudaram arduamente para adquirir.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.