Chanceler alemão ignora protocolo diplomático e faz comparação depreciativa sobre Belém. No Brasil, porém, alguns exageram nas reações críticas.Na Alemanha , já se sabe que o chanceler federal Friedrich Merz às vezes se expressa de maneira vista como ofensiva por várias pessoas. Os alemães se perguntam se ele faz isso intencionalmente ou se simplesmente não percebe o impacto de suas declarações controversas . Agora, Merz causou nova polêmica com um comentário sobre sua viagem a Belém do Pará .

Na última quinta-feira, ele resolveu falar sobre as belezas da Alemanha no Congresso Alemão de Comércio. Mas, em vez de se pronunciar sobre isso em uma simples frase, ele acabou fazendo uma comparação com a metrópole de Belém , no norte do Brasil, onde está sendo realizada a Conferência do Clima da ONU, a COP30 .

“Senhoras e senhores, vivemos em um dos países mais belos do mundo. Na semana passada, perguntei a alguns jornalistas que estavam comigo no Brasil: Quem de vocês gostaria de ficar aqui? Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, na noite de sexta para sábado, especialmente daquele lugar onde estávamos.”

A declaração, é claro, não foi bem recebida no Brasil . O prefeito de Belém, Igor Normando, a classificou como “infeliz, arrogante e preconceituosa”. Concordo com ele quanto à parte do “infeliz” – Merz também deve considerar as potenciais consequências diplomáticas dos discursos que faz na Alemanha. A menos, é claro, que ele simplesmente não se importe, o que parece improvável, dado o compromisso do chanceler com as boas relações internacionais.

Quanto a ele ser “arrogante e preconceituoso”, porém, já não tenho tanta certeza.” Nas redes sociais, é comum ler brasileiros expressando a opinião de que pessoas do “primeiro mundo” olham para o “terceiro mundo” com arrogância e condescendência.

Em primeiro lugar, essa divisão em mundos distintos é por si só questionável. Em segundo lugar, o resto do mundo tem uma visão muito positiva do Brasil. O soft power do país – futebol, alegria, carnaval – molda a imagem do Brasil no exterior muito mais do que as duras realidades dos altos níveis de violência, da pobreza extrema e da desigualdade social.

Brasileiros não reagem bem a críticas

Nos 25 anos em que vivi no Brasil, pude certamente notar que os brasileiros não reagem bem quando os estrangeiros dizem algo negativo sobre o país – mesmo que compartilhem exatamente da mesma opinião. Eles até mesmo atacam o Brasil verbalmente com mais veemência do que fariam os estrangeiros. Os brasileiros têm permissão para fazer isso, mas os estrangeiros não. Suspeito que isso também aconteça em outros países. Talvez defender a própria nação seja simplesmente parte de um orgulho nacional saudável. Isso eu sou capaz de entender.

Contudo, as reações no Brasil ao discurso de Merz são ambivalentes. As reações ao vídeo do prefeito rebatendo as críticas de Merz oscilam entre declarações de “orgulho de ser paraense” e críticas à organização da COP em Belém. Alguns disseram que “Belém é quente demais” e que Merz tem razão. Em outros casos, os comentários na internet também oscilam entre críticas severas a Merz assim como aos organizadores por realizarem a COP em uma cidade exposta a condições climáticas extremas, onde a pobreza e a poluição são visivelmente evidentes.

Se entendi corretamente, a intenção do presidente Lula era realizar a COP justamente onde os problemas são mais evidentes. Visitei Belém e a região amazônica vezes suficientes para saber que pode ser simplesmente quente demais para muitos. Mesmo alguns dos pavilhões da COP não resistiram às chuvas torrenciais. Aliás, nenhum dos meus amigos e conhecidos brasileiros já passou férias em Belém; a maioria não quer ir para lá por considerar o clima “infernal”.

Necessidade de se conversar sobre o Brasil

Na minha opinião, o repórter André Trigueiro exagerou completamente ao criticar as declarações de Merz na emissora GloboNews como xenófobas e associá-las à supremacia ariana, “de um povo melhor que os outros”, e à Segunda Guerra Mundial . Trigueiro afirmou em um vídeo compartilhado no Instagram que tais declarações agradariam aos alemães de extrema direita e os neonazistas . Infelizmente, isso o coloca na companhia dos que gostam de brandir cegamente o porrete da história contra tudo. Isso, no entanto, não faz justiça aos eventos históricos.

Enquanto muitos comentários no vídeo de Trigueiro criticam Merz, também há declarações de apoio ao chanceler: “Ele não mentiu”, comentou alguém. “Não estamos acostumados a ouvir a verdade”. Outros comentários diziam que “a COP foi realizada num lugar péssimo”, ou que “negar que a fala do chanceler retratou a mais pura verdade, é manter o povo no atraso e no caos”. Além do fato de Merz precisar de aulas de diplomacia, me parece que também há entre os próprios brasileiros uma necessidade de se conversar sobre o Brasil.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há mais de 25 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, desde então, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há doze anos.

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