Subdivisão do ensino para fins de aprofundamento pode, muitas vezes, dificultar a compreensão mais ampla de problemas da vida prática.A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) está organizada em grandes áreas, dentre elas as muito conhecidas que também dividem as áreas do conhecimento na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), como: Linguagens; Ciências Humanas; Ciências da Natureza e Matemática.

O currículo das escolas, deve, em teoria, corresponder a essas subdivisões, feitas tanto para fins de organização dos conhecimentos, quanto para aprofundamento em cada uma dessas áreas. No entanto, as matérias são ministradas separadamente, muitas vezes, por professores diferentes, especializados em determinado recorte de uma ciência inteira.

Por um lado isso é bom, pois possibilita explorar os saberes com maior detalhamento, mas por outro, a especialização pode impossibilitar frutíferos diálogos entre disciplinas que estão dentro de uma mesma grande área. Quais são as fronteiras entre essas noções? Seria essa subdivisão nociva?

Como estudante de letras e, até pouco tempo atrás, estudante da educação básica oriunda de uma lógica voltada para o vestibular, proponho uma reflexão necessária sobre o fomento à interdisciplinaridade do ensino e como essa subdivisão pode ser produtiva até certo ponto.

Compartimentação produz saberes difusos em uma sociedade global

Com a expansão cada vez mais acelerada da globalização, as informações fluem com maior rapidez e somos, o tempo todo, bombardeados com uma grande quantidade de informações. Ou seja: para compreender as partes isoladas, é preciso desenvolver a capacidade de visualizar e compreender o todo.

Sob o prisma educacional não é diferente. Nesse sentido, um modelo de educação que está habituado a dividir – e subdividir essas divisões cada vez mais – não está em consonância com as exigências de percepção de um mundo global.

As disciplinas agrupadas em grandes áreas são ainda mais subdivididas. Ora, na Língua Portuguesa, por exemplo, os docentes se especializam em redação, literatura ou gramática, como se fosse possível redigir um texto sem conhecimentos gramaticais, ou como se a gramática não fosse aplicada ao texto e o texto à literatura. Isso é produtivo por um lado, mas se as subdivisões se fixam sem uma estratégia de diálogo entre as frentes, formam-se indivíduos igualmente fragmentados, com concepções fragmentadas.

Por uma educação que pense estratégias integralizadoras

Defendo que as escolas pensem em estratégias que permitam o diálogo entre todas essas frentes e subdivisões.

Um projeto que relacione, por exemplo, a história e a literatura no estudo das escolas literárias poderia analisar como cada período histórico influenciou escritores, como eles retratavam em suas obras a vivência e os costumes de um tempo e até acontecimentos históricos, como é o caso do clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, do célebre Machado de Assis, que pode ser relacionado com o Período Regencial, no Brasil e o fim da Era Napoleônica, na França.

Poderia citar outros inúmeros exemplos. Fato é que a integração das partes enriquece o todo, pelo estabelecimento de analogias, oposições, relações que ajudam, inclusive, a fixar os conteúdos.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Maria Clara Sousa Costa, 20 anos, estudante de letras na Universidade Federal do Piauí (UFPI), e reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.