A inteligência artificial tem provocado mudanças significativas no cenário escolar. Como ela afeta os hábitos de leitura e escrita nos alunos? A escola está preparada para enfrentar esse novo desafio?A inteligência artificial (IA) está revolucionando o século 21. Quando usei pela primeira vez, percebi que tinha em minhas mãos uma ferramenta poderosa: com apenas um clique, algo aparecia pronto. Por ser algo novo, isso anima — na mesma proporção que assusta. E uma mudança tão avassaladora não passaria despercebida no âmbito da educação.

Inteligência Artificial e sua mudança na escrita e leituta

A IA vem transformando os espaços escolares. Percebo isso na mudança de hábitos de leitura e escrita dos alunos, que, diante dessas atividades, recorrem à IA para escrever a resposta de uma questão ou até mesmo uma redação completa. É, literalmente, “copiar e colar”. Em uma atividade em que fui aluna, vi colegas de classe usarem a IA para “ficarem livres”, com textos similares — e sem ler o que foi gerado.

Pergunto, como futura educadora: o aluno está aprendendo? Ou está usando a IA como um “atalho” para realizar as tarefas mais rapidamente? E o pensamento crítico e suas opiniões, como ficam? Ora, se alguém “copia e cola” um texto gerado, quem é o autor, se as nuances humanas não estão ali?

A força do aprender está em errar, experimentar, refazer e entender o que está fazendo e o porquê. Do que adianta um texto esteticamente “perfeito”, mas com conteúdo superficial? Ou pior: com um pensamento que sequer é do aluno?

Penso em quanto as discussões escolares com colegas me ensinaram. Os estudantes de hoje terão experiências assim ou serão reféns do “resuma para mim…”?

Além da escrita, a IA resume textos em segundos. A leitura tradicional, que é focada e reflexiva, está sendo substituída por uma leitura rápida, fragmentada e artificial, guiada por essa tecnologia. Este cenário é preocupante em um país onde o estímulo da leitura vem diminuindo, dando lugar para atividades digitais.

O papel da escola na formação leitora e escritora de seus alunos

A escola, que tem como função vital preparar os “cidadãos do futuro”, deve pensar, parafraseando a educadora Magda Soares, sobre “letramento artificial”. Ler e escrever são habilidades fundamentais da história da humanidade e da vivência individual. São caminhos para pensar e se posicionar, e não podem ser trocados por respostas prontas. O pensamento e o olhar humano fazem toda a diferença não só por causa de uma nota, mas na forma como cada indivíduo se posiciona diante de uma problemática.

Ao mesmo tempo, é fundamental equilibrar esse olhar com a cibercultura e as e Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs). A educação precisa se adaptar, sem abrir mão do pensamento crítico diante das novas tecnologias e na transmissão de conteúdos. Deve-se pensar em medidas éticas sobre o uso da inteligência artificial, tanto por professores quanto por estudantes. Não sou contra seu uso. Toda tecnologia deve ser acolhida, mas seu uso precisa ser transformador, elevando o pensamento humano, e não o substituindo pela praticidade.

Se não mudarmos a forma como lidamos com a IA, iremos evoluir ou empobrecer? Ela ampliará o conhecimento ou tornará a leitura mais superficial e acrítica? Como a milenar atividade da escrita será afetada? A tecnologia está em nossas mãos, porém o filtro crítico e valores humanos continuam sendo nossa responsabilidade.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Évila Policarpo Caldas Silva, baiana e estudante de letras no Centro Universitário Jorge Amado (UniJorge).