O uso de sistemas de computação segundo as necessidades e o pagamento conforme o consumo, como se fosse uma conta mensal de luz ou de água, espelham a nova onda de tecnologia que se espraia pelas empresas brasileiras. Segundo esse conceito, batizado de computação em nuvem (cloud computing, em inglês), a computação não será mais realizada nos computadores pessoais, mas sim em grandes data centers equipados com dezenas de milhares de computadores, que podem ser comparados a usinas gigantescas de processamento de dados que nos bombeiam com informações e códigos de software. Os webmails, as redes socais e os jogos online são exemplos desses serviços. Para acessá-los, você precisa de um equipamento que pode ser um tablet, notebook, smartphone ou até mesmo um PC. 

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Os serviços de cloud computing já estão atraindo empresas de todos os tamanhos e de diversos segmentos da economia, que desenvolvem projetos-piloto. Quem já adotou esse novo conceito está conseguindo reduzir os custos com infraestrutura de tecnologia, ganhar mais agilidade e ser mais flexível na contratação de recursos de computação. É o caso da União de Lojas Leader, um dos maiores varejistas de moda do Brasil, com 54 lojas em oito Estados, 18 milhões de clientes e faturamento de mais de R$ 1 bilhão em 2010. Para compatibilizar sua infraestrutura tecnológica com os planos de crescimento – que preveem instalar 25 lojas por ano até 2014, dobrando a receita atual –, a companhia migrou todos os seus aplicativos, inclusive o sistema de gestão corporativa para o data center da filial brasileira da empresa alemã T-Systems. “Como operação de varejo, exposta a várias sazonalidades, era imperativo buscar uma infraestrutura que fosse flexível, segura e com capacidade de atender sob demanda nossas necessidades de crescimento”, diz Marco Carascoza, diretor de desenvolvimento organizacional da Leader. “A solução de cloud computing fornece qualidade e custos compatíveis para essa estratégia de expansão.”

Não se trata de mero marketing ou de mais um modismo tecnológico. “É um novo modelo de negócio”, afirma Andersen Figueiredo, gerente de pesquisa da consultoria americana de tecnologia IDC. A intenção, segundo ele, é permitir que um conjunto de equipamentos padronizados, virtuais, possa ser acessado via rede de comunicação ou internet, de acordo com a demanda dos usuários e das áreas de negócio das empresas. “São recursos de fácil implementação que podem ser pagos como serviço – precificados por transação, tempo de uso ou espaço utilizado”, diz Figueiredo. Como toda tecnologia inovadora, há ainda muito desconhecimento e receios, principalmente em relação à qualidade de conexão em banda larga e aspectos de privacidade e segurança da informação. Pesquisa realizada pela IDC, no início deste ano, com 180 diretores de tecnologia de empresas brasileiras, mostrou que apenas 20% sabiam, de fato, o que era cloud computing. Por outro lado, 98% disseram que o cloud não é uma nuvem passageira, mas sim um conceito real que veio para ficar. “É um mercado que deve crescer numa média anual de 60% até 2015”, afirma Figueiredo. 

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Cibele, da Andrade Gutierrez: ”Computação em nuvem é caminho sem volta”

Em 2009, os serviços de cloud computing geraram receitas de US$ 45 milhões no Brasil. Neste ano, a previsão é de que chegue a US$ 100 milhões – no mundo, devendo movimentar nada menos de US$ 89 bilhões. Em 2014, esse número será multiplicado por cinco, atingindo US$ 500 milhões, de acordo com a IDC. Esse dinheiro será disputado por uma gama de fornecedores, que envolve desde nomes tradicionais, como IBM, Microsoft e Oracle, provedores de serviços de data centers, a exemplo de T-Systems, Tivit e Locaweb, a grandes consultorias, nas quais KPMG e Stefanini. Até os gigantes multinacionais da computação na internet, como Google, Salesforce e Amazon, também brigam por uma fatia desse mercado no Brasil. “A computação em nuvem é uma mudança de paradigma”, diz Cezar Taurion, executivo de novas tecnologias da IBM, uma espécie de técnico evangelista encarregado de mostrar cenários futuros na área de tecnologia. “Ela vai afetar significativamente tanto a indústria como os clientes, que terão que acompanhar esse movimento de transformação.”

 A Microsoft, por exemplo, concentra seu foco no segmento de pequenas e médias empresas e defende que os clientes busquem soluções híbridas que contemplem serviços na internet com os do tradicional desktop. Essa medida faz sentido. Afinal, a companhia com sede em Seattle, nos Estados Unidos, obtém mais de 50% de sua receita de negócios tradicionais, como o sistema operacional Windows e o pacote de automação de escritório Office. É o inverso do posicionamento do Google. A empresa de internet conta com o Google Apps, um pacote de aplicativos que pode ser acessado pela internet. Atualmente, quatro milhões de empresas em todo o mundo já adotaram a solução do Google. “Somos a empresa que mais capitalizou essa transformação”, diz Antônio Schuch, diretor de vendas da Google para a América Latina. Do lado dos clientes, a migração para um cenário de computação mais flexível, em alta velocidade e de custos mais baixos, tem sido gradual e executada em ritmos diferentes. A multinacional brasileira Sabó, que fornece sistemas de vedação e condução para as montadoras automobilísticas, decidiu hospedar o seu sistema de gestão empresarial, o coração de sua operação administrativa, com a T-Systems. “O custo de processamento de dados caiu 18%”, diz Alessandro Laurenti, gerente de tecnologia da Sabó.  

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Os bancos, no entanto, não colocaram ainda suas aplicações críticas nesses ambientes. O Santander abriu uma frente com a IBM para usar esse novo ambiente apenas na área de desenvolvimento e testes de aplicações. “Não trabalhamos com nenhum dado sigiloso”, diz Ivan Levado, consultor de tecnologia do banco espanhol. A Construtora Andrade Gutierrez, uma das maiores do País, com receita de R$ 6,4 bilhões em 2010 e atualmente com cerca de 50 canteiros de obras no Brasil e no Exterior, é ainda mais cautelosa. “Cloud computing é um caminho sem volta”, afirma Cibele Fonseca, diretora de tecnologia da Andrade Gutierrez. De acordo com Cibele, a construtora mineira desenvolveu um ambiente para as aplicações de e-mail e para o sistema de gestão empresarial. “Dessa forma, não precisamos mais investir em estações de trabalho”, diz. Ela também reduziu os custos com os links de comunicação e estuda contratar um provedor externo, que será usado para desenvolvimento, teste e homologação de aplicação. A Andrade Gutierrez só não avança mais porque ainda não está totalmente confortável em relação ao quesito de segurança, principalmente com a gestão de informações em um ambiente compartilhado com outras empresas. “Essa é uma preocupação da maioria dos diretores de tecnologia brasileiros”, afirma Cibele. 

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 por Genilson Cezar

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Tudo pelo social

As redes online, como Facebook e Twitter, transformaram-se em canais poderosos de relacionamento com o consumidor e para a venda de produtos

 

Zappos é a maior loja de venda de sapatos dos Estados Unidos. Mas o que a torna singular não é o mais de R$ 1 bilhão que fatura anualmente, fato que a levou a ser comprada pela Amazon, por US$ 1,2 bilhão, em 2009. São, na verdade, as práticas de seu CEO e fundador, Tony Hsieh, um americano de origem chinesa de 37 anos, que é uma espécie de estrela do Twitter. Sua conta no microblog (@zappos) tem mais de 1,8 milhão de seguidores, o que faz dele um dos empresários mais populares da rede. “O Twitter permite que sejamos mais pessoais com nossos clientes e, dessa forma, possamos construir relacionamentos ao longo do tempo”, diz Hsieh toda vez que é questionado sobre qual o retorno do investimento e da aposta nas mídias sociais. 

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Oliveira, do Walmart: ”A meta é humanizar o relacionamento com o cliente”

Essa postura, adotada por Hsieh desde que fundou a Zappos, em 1999 (ele gosta de dizer que o telefone foi a primeira rede social), só agora começa a ser praticada com mais ênfase por empresas que operam no Brasil. Elas estão descobrindo que as redes sociais, como o Facebook e o Twitter, podem se transformar em grandes centrais de atendimento ao consumidor online. Esse é o caso do Walmart, terceira maior rede de supermercados do Brasil, que está em busca do engajamento de seus clientes. A companhia americana tem perfil no Twitter, com mais de 48 mil seguidores, e no Facebook, com mais de 100 mil fãs. Nesses canais, a operação local abriu espaço para críticas e elogios de seus consumidores. “Nossa meta principal é humanizar o relacionamento com o cliente, não apenas vender”, afirma Roberto Wajnsztok de Oliveira, diretor de marketing e novos negócios do Walmart.

As mídias sociais estão também se tornando um importante canal de vendas. A história da marca de moda feminina carioca Farm, com 40 lojas em 15 Estados, é um exemplo dessa nova postura. A empresa, como muitas do setor, abriu uma loja virtual para vender seus produtos. Mas a associou com uma comunidade online. Para comprar pelo site, é preciso fazer parte da rede,  batizada de Eu quero Farm. “Queríamos promover a ideia de exclusividade no comércio eletrônico”, afirma Marcello Ribeiro Bastos, dono da Farm. “Começamos com duas mil pessoas, hoje temos mais de 313 mil.” A loja online, que estreou em março deste ano, vendeu R$ 1 milhão em produtos em apenas 45 dias. O próximo passo é montar sua vitrine virtual no Facebook, a exemplo do que fazem outras empresas dos setores de venda de ingressos, passagens aéreas, vinhos, serviços financeiros e música. Estima-se que em 2011 o comércio social, como é chamada essa nova modalidade, movimente US$ 5 bilhões.

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Uma forma indireta de comércio pelas redes sociais é a que está sendo praticada pela empresa paranaense Compra3, fundada por André Monteiro e Bruno Medeiros. A ideia da dupla foi criar um sistema em que os usuários recebem de volta até 25% do dinheiro desembolsado na compra de um produto. Quanto mais consumidores comprarem aquele item no mesmo mês, maior o valor do reembolso. O modelo começou com lojas tradicionais. Agora migrou para a internet. Quem compra algum item no Submarino, na Americanas, Compra Fácil e Sack’s Perfumaria, entre outros sites, e espalha comentários positivos pelas redes sociais pode ganhar descontos e até o dinheiro de volta. “A recomendação de quem compra tem mais peso do que uma ação tradicional”, diz Monteiro, diretor-executivo da empresa.

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Em alta velocidade

Grandes centros urbanos já podem contar com internet rápida com taxas de transmissão que chegam a 100 Mbps. O desafio agora é aumentar a competição e reduzir os preços dos serviços

 

Os serviços de banda larga no Brasil ainda são lentos, caros e ineficientes. Não bastasse isso, eles são para poucos. De acordo com a consultoria especializada em telecomunicações Teleco, havia 15,2 milhões de conexões no Brasil no segundo trimestre de 2011. Mas isso pode começar a mudar. O governo brasileiro aprovou uma lei que permite a entrada das empresas de telefonia no mercado de tevê a cabo. Além disso, anunciou um pacote de desoneração de até R$ 4 bilhões para quem construir redes de fibras ópticas. Com a medida, espera que as empresas de telefonia invistam R$ 70 bilhões até 2014, o que vai aumentar a oferta da ultrabandalarga com velocidades que podem chegar a 100 Mbps (megabits por segundo). Essa oferta atualmente é muito restrita, pois os preços ainda são altos e grandes centros urbanos, com habitantes com alto poder aquisitivo, podem usufruir desses serviços. 

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A estimativa é de que aproximadamente 600 cidades tenham estruturas de fibra óptica para oferecer banda larga em alta velocidade aos seus cidadãos. Esses municípios, no entanto, atingem 70% da população brasileira. “Já podemos oferecer conexão de internet a 300 Mbps”, diz Rodrigo Marques, vice-presidente de estratégia e de gestão operacional da empresa de tevê a cabo NET, que deve se unir a à Embratel e à Claro, empresas da mexicana América Móvil, do magnata Carlos Slim. “Mas a demanda por 100 Mbps está começando a crescer.” Atualmente, a maioria dos quase quatro milhões de clientes do serviço de internet rápida da NET compra pacotes de 10 Mbps. A companhia que está mais avançada na oferta de banda larga em altíssima velocidade é a GVT, comprada pelo grupo francês Vivendi por R$ 7 bilhões em novembro de 2009. Quase 70% de seus clientes usam conexões com velocidades superiores a 10 Mbps. 

 

Das novas vendas, 60% dos assinantes compram pacotes com velocidades de 15 Mbps. No mês passado, ela resolveu popularizar o serviço a 35 Mbps em uma oferta com preços inferiores a R$ 100, em um pacote que inclui também telefonia fixa e tevê por assinatura. “Nossa estratégia é elevar as velocidades sem elevar os preços”, afirma Alcides Troller, vice-presidente de marketing e vendas da GVT. A oferta da GVT está restrita a 106 cidades, em 17 Estados e no Distrito Federal. A empresa adiou indefinidamente  os planos de chegar à cidade de São Paulo em 2011. Telefônica e Oi, duas empresas que têm o maior legado de cabos de cobre e a maior base de clientes, são as que enfrentam maiores dificuldades para oferecer altas velocidades aos seus clientes. É fácil entender a razão. Ao contrário de GVT e NET, que construíram redes novas, elas herdaram infraestruturas antigas e antiquadas. Só agora começam a investir.

 

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Troller, da GVT – “Nossa estratégia é elevar a velocidade”

 

A Telefônica, por exemplo, já passou cabos de redes de fibra óptica por 400 mil domicílios em São Paulo. A meta é chegar a um milhão de casas até o final deste ano. Atualmente, conta com 20 mil clientes de seu serviço de ultrabanda larga, com velocidades que podem chegar a 100 Mbps. A Oi, que está presente em todos os Estados brasileiros, com exceção de São Paulo, tem metade dos seus 4,4 milhões de clientes com velocidades acima de 2 Mbps. Somente 17% utilizam velocidades acima de 5 Mbps. Isso é consequência direta da presença em mais de 4.854 municípios, a maioria dele de pequenas cidades. “Os concorrentes deveriam fazer investimentos onde a Oi já faz”, disse, recentemente, o executivo Francisco Valim, presidente da operadora. O plano da empresa é ter o serviço em todas essas cidades até 2014.

 

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A era da mobilidade

 

O computador pessoal ficou ultrapassado. Ele foi sucedidopor smartphones e tablets, que ajudam empresas e consumidores a ser cada vez mais produtivos


 

 

PC, nosso velho e conhecido computador pessoal, quem diria, segue inexorável em sua trajetória para deixar de ser o centro da computação. Está sendo destronado de seu longo reinado, que vem pelo menos desde meados dos anos 1980, pela nova era da mobilidade. Cada vez mais, ele perde espaço para os diversos tipos de dispositivos móveis de última geração, principalmente para os smartphones e os tablets. Os novos consumidores de computadores querem hoje ter um smartphone no bolso, um tablet na mão e um notebook na mochila. Em 2011, devem ser vendidos dez milhões de smartphones no Brasil, segundo projeções da consultoria de tecnologia americana IDC. Neste mesmo ano, serão comercializados 16 milhões de PCs, cada vez mais restritos ao ambiente corporativo. Os negócios com os tablets, um equipamento que tem pouco mais de um ano de comercialização no País, são igualmente promissores. Em 2010, segundo a IDC, foram vendidas 100 mil unidades desse novo dispositivo no Brasil. 

 

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Bortolli, da Motorola: vendas de smartphones devem dobrar em 2012

 

Devem chegar a 400 mil neste ano. Um dos setores que mais estão usando tablets no Brasil é o de educação.  A Universidade Estácio de Sá, com mais de 40 mil alunos, por exemplo, fechou contrato com a fabricante brasileira de eletroeletrônicos Semp Toshiba para distribuir, inicialmente, seis mil tablets para estudantes. O objetivo é oferecer material didático aos alunos inteiramente através dos tablets, que são entregues gratuitamente aos alunos, após a renovação da matrícula. “É um novo modelo de ensino que se abre no País”, afirma Pedro Graça, diretor-executivo de marketing da Estácio. Na área de smartphones, os fabricantes também estão se aproveitando do interesse do consumidor por modelos mais potentes, que acessem a internet e e-mails. Observe o caso da Motorola. A empresa americana, que inventou o celular, vinha perdendo mercado nos últimos anos e tendo dificuldades para concorrer com outras companhias, como a Apple e a Samsung. 

 

Mas, com a sua aquisição pelo Google, que pagou US$ 12,5 bilhões por seu passe, em agosto deste ano, a esperança de bons tempos voltou à Motorola.  “Devemos mais do que dobrar as vendas no mercado mundial de smartphones em 2012”, diz Edson Bortolli, diretor de produtos da Motorola Mobility. Neste ano, serão vendidos sete milhões de aparelhos no mundo. A Nokia, que perdeu a liderança do mercado de smartphones para a Apple e a Samsung, no segundo trimestre de 2011, aposta em sua loja de aplicativos para ganhar espaço no Brasil. “São mais de seis milhões de aplicativos baixados por mês, com diversas finalidades – de negócios, e-mails, comunicação com redes sociais até serviços de mapas em 3D”, afirma Marcelo Gonçalves, gerente de produtos da Nokia para a América Latina. Mundialmente, a companhia fez parceria com a Microsoft. Em 2012, deverá adotar o sistema operacional da empresa de Bill Gates. Será uma tentativa para retomar o brilho perdido nos últimos tempos.   

 

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Por Genilson Cezar