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Kac, investidor em etfs: “Foi a melhor relação custo-benefício que encontrei”

Dennis Kac, 30 anos, é paulistano e trabalha no mercado financeiro. Pela própria profissão, é natural imaginar que ele administre sua carteira de investimentos sem muitos problemas. Afinal, tem acesso às informações de maneira muito mais ágil que um investidor comum. No entanto, ele não possui nenhuma ação específica. Todos os seus investimentos em renda variável são feitos em fundos de índice, os chamados ETFs (sigla de exchange traded funds), cujas cotas são negociadas na BM&FBovespa. Esses fundos são como cestas de ações, que simplificam a vida dos investidores que querem correr risco de bolsa e seguir determinados índices, mas sem ter a trabalheira toda de acompanhar várias empresas ao mesmo tempo e gerir uma complexa carteira. Febre nos Estados Unidos, os ETFs são novatos no Brasil e mostram grande potencial de crescimento. Será que valem a pena?

Kac, obviamente, acha que sim. “Foi a melhor relação custo-benefício que encontrei”, diz. Uma das vantagens é a taxa de administração. Enquanto em um fundo convencional de ações ela pode ultrapassar 2%, nesse tipo de produto não vai além de 0,54% ao ano. “Esse valor está implícito no preço da cota e compensa muito mais do que as taxas abusivas dos fundos de investimento”, diz Kac, que tem 30% de seu patrimônio investido em dois fundos, BOVA11, do banco Barclays, e PIBB11, do BNDES. “Como eu não tenho tempo para fazer análise de empresas, o ETF faz esse trabalho”, conta.

O PIBB existe na bolsa desde 2004 e acompanha o Ibrx-50. Os três fundos do Barclays, lançados em 2008 em plena crise econômica mundial, seguem os índices Ibovespa, MidLarge Cap e Small Cap. Nos últimos oito meses, eles captaram R$ 315 milhões, uma fração dos R$ 2,2 bilhões do PIBB11, como é chamado em sua segunda versão. Se o Brasil seguir a tendência de outros mercados, como o México e os Estados Unidos, os ETFs tendem a crescer muito por aqui. No México, os 159 fundos existentes movimentaram US$ 19 bilhões em 2009, até julho, entre compra e venda de cotas. Nos EUA, são 1.070 ETFs que negociaram mais de US$ 3,5 trilhões no mesmo período. Por aqui, os números ainda são tímidos, mas evoluem. O BOVA11 tem volumes diários de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões e acumula um patrimônio líquido de quase R$ 300 milhões (leia quadro). E quem investe não deve estar insatisfeito. A oscilação dos fundos, comparada com a dos índices de referência, é equilibrada. Enquanto o Ibovespa subiu 48,5% em 2009, o BOVA11 teve alta de 48%. Já o MILA11 rendeu ganhos de 42,8%, acima dos 38,7% registrados pelo índice MidLarge Caps.

O grande entrave para que esses fundos emplaquem na carteira de ativos dos brasileiros é a baixa liquidez. Principalmente para os fundos de middle e small caps. Enquanto o BOVA11 possui uma média de 300 negócios por dia, o MILA11 é negociado uma ou duas vezes. É muito pouco para atrair o pequeno investidor. E, como as cotas são vendidas em lotes de 100, se o investidor optar por comprar no mercado secundário, acaba ainda mais sujeito à baixa liquidez dos fundos. Não é à toa que apenas 7,9% do patrimônio líquido dos ETFs do Barclays seja de investidores individuais. “Pode levar anos para os ETFs ficarem populares. Nós não temos pressa. O número de cotistas pessoas físicas é extremamente animador”, afirma Marcelo Allain, diretor do Barclays Global Investors (BGI).

Segundo Allain, o crescimento do patrimônio líquido dos fundos desde a criação reflete um cenário animador para os ETFs. Tanto que o banco já planeja o lançamento de novos fundos. “Estamos estudando, mas ainda dependemos dos índices. E o fato de se ter um novo índice não significa que ele será um bom ETF”, diz. Tal opinião não é compartilhada pela BM&FBovespa, que defende que quase todos os seus 14 índices podem gerar bons ETFs. “Apenas o índice de Telecom não recomendamos, pois poucas empresas fazem parte dele”, afirma Adriana Sanches, gerente de produtos de renda variável da bolsa. Segundo Adriana, o próximo passo para estimular o surgimento de novos ETFs é a criação de índices que combinem setores diferentes da indústria, como bancos e energia, por exemplo. No entanto, ela não quis adiantar de quais setores se tratam e nem quando os índices serão lançados. “A bolsa está estudando a demanda, mas esses índices devem ser lançados ainda em 2009”, conclui.