27/06/2024 - 8:44
Diante ao aquecimento global, que afeta as colheitas e provoca a disparada dos preços, os profissionais do setor do azeite querem redobrar os esforços para encontrar soluções, trabalhando em conjunto com a ciência.
“A mudança climática já é uma realidade à qual devemos nos adaptar”, afirmou Jaime Lillo, diretor executivo do Conselho Oleícola Internacional (COI), na quarta-feira, durante o primeiro Congresso Mundial do Azeite, que reúne 300 participantes até sexta-feira em Madri.
Uma “realidade” dolorosa para todo o setor, que enfrenta há dois anos uma queda de produção sem precedentes, em um contexto de ondas de calor e de seca extrema nos principais países produtores, como Espanha, Grécia e Itália.
Segundo o COI, a produção global caiu de 3,42 milhões de toneladas em 2021-2022 para 2,57 milhões de toneladas em 2022-2023. E segundo dados transmitidos pelos 37 Estados-membros da organização, deverá diminuir novamente em 2023-2024, para 2,41 milhões de toneladas.
Uma situação que resultou na disparada dos preços no último ano, oscilando entre um aumento de 50% e 70% dependendo das variedades. Na Espanha, que produz metade do azeite mundial, os preços chegaram a triplicar desde o início de 2021, para desespero dos consumidores.
Cenários ‘mais complexos’
“A tensão nos mercados e a escalada dos preços têm sido um teste de estresse particularmente exigente para o nosso setor. Nunca vivemos nada semelhante antes”, disse Pedro Barato, presidente da organização interprofissional do azeite espanhol.
“Temos que nos preparar para cenários cada vez mais complexos que nos permitam enfrentar a crise climática”, afirmou, traçando um paralelo entre a situação dos olivicultores e as “turbulências” vividas pelo setor bancário durante a crise financeira de 2008.
As perspectivas não são muito animadoras.
Hoje, mais de 90% da produção mundial de azeite vem da bacia mediterrânea. No entanto, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), a região – descrita como um “ponto quente” da mudança climática – aquece 20% mais rápido do que a média.
Uma situação que pode afetar a produção global no longo prazo.
“Estamos perante uma situação complexa” que envolve “mudar a forma como tratamos as árvores e o solo”, resumiu Georgios Koubouris, pesquisador do Instituto Grego da Oliveira.
“A oliveira é uma das plantas mais adaptadas ao clima seco, mas em caso de seca extrema, ativa mecanismos para se proteger e não produz nada. Para termos produção é necessária uma quantidade mínima de água”, explicou Lillo.
Genética e irrigação
Entre as soluções propostas está a pesquisa genética. Durante vários anos, centenas de variedades de oliveiras foram testadas para identificar as espécies mais adaptáveis à mudança climática, com base principalmente na data de floração.
O objetivo é encontrar “variedades que tenham menos necessidade de horas frias no inverno e que resistam melhor aos estresses que encontram devido à diminuição das chuvas em momentos muito específicos”, como a primavera, explicou Juan Antonio Polo, chefe de assuntos tecnológicos no COI.
A outra grande área em que os cientistas trabalham é a irrigação, que busca melhorar graças ao armazenamento de águas pluviais, à reciclagem de águas residuais e à dessalinização da água do mar, além de aumentar a sua eficiência.
Isso implica abandonar a “irrigação superficial tradicional” e generalizar os “sistemas de gotejamento”, que levam a água “diretamente às raízes das árvores” e evitam perdas, contribuiu Kostas Chartzoulakis, também do instituto grego.
Outra proposta, mais radical, é abandonar a produção em determinados territórios que se tornam muito desertos e levá-la para outros mais favoráveis.
Um fenômeno que “já começou”, embora em pequena escala, com “novas plantações” em regiões até então não relacionadas com a oliveira, afirmou Lillo, que se disse “otimista” apesar dos desafios que o setor enfrenta.
“Com a comunidade científica, com a cooperação internacional, vamos aos poucos encontrar soluções”, acrescentou.