10/08/2021 - 8:00
Nesta segunda-feira (9), a ONU divulgou um dos mais alarmantes relatórios científicos sobre como a ação do homem pode inviabilizar a vida saudável na Terra no próximo século. De acordo com os dados do relatório AR6 produzido por mais de 800 cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) caso nada seja feito imediatamente, a temperatura do planeta vai aumentar 1,5 °C nas próximas duas décadas. E se as emissões de gases do efeito estufa (GEE) continuarem crescendo, o aumento chegará a 4,4 °C em 100 anos.
Se as projeções de fato acontecerem, todo o debate sobre países desenvolvidos e em desenvolvimento, sobre fortuna e pobreza, sobre economia e negócios não terá servido de nada, pois o planeta estará muito próximo do completo caos. Os eventos climáticos extremos vão inviabilizar a vida humana em algumas regiões e a biodiversidade de fauna e flora tal qual é conhecida hoje não existirá mais.
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Neste cenário, o Brasil e os países da bacia amazônica tornam-se peça-chave. De acordo com o relatório, a Amazônia terá papel essencial na remoção do carbono da atmosfera sendo crucial para o equilíbrio térmico. Mas o que já se registra é que o mau uso da terra e a derrubada de árvores já são as maiores fontes emissoras de GEE do País, com 44,5% do total. O maior ativo do Brasil está se transformando em sua maior vulnerabilidade devido a uma gestão míope que favorece ilegais e prejudica a todos.
Mas não é somente a gestão da Amazônia que está sob escrutínio internacional. A agropecuária, que hoje é a segunda maior fonte emissora do País com 27,52%, também. Desse total, 61,1% vieram da fermentação entérica, digestão de materiais orgânicos pelos ruminantes responsável por 22% das emissões de metano. Ou seja, além de ser um fator de pressão sobre a floresta, a pecuária é também emissora de gases para os quais o IPCC pede mais atenção.
O quadro é alarmante. “No Brasil, onde boa parte de nossa energia já é limpa, o desafio é zerar todo o desmatamento”, afirmou Maurício Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil. A responsabilidade é do governo federal. “A melhor ciência do planeta está nos mostrando que o Brasil de Bolsonaro escolheu o caminho da catástrofe e é isso que não podemos aceitar: interesses eleitorais e setoriais não podem prevalecer sobre o bem comum da nação”, disse.
O olhar míope de autoridades jurássicas impede que o Brasil olhe para a economia verde como oportunidade de liderança global. O que é, além de tudo, uma estupidez econômica. Estudo publicado há seis anos pela Universidade Nacional da Austrália estimou que, em pé, a floresta poderia render ao Brasil cerca de US$ 1,83 trilhão por ano em valor bruto, esse é exatamente o valor do PIB brasileiro em 2019, ano antes da pandemia. Ou seja, se enxergasse a Amazônia como recurso e não como despesa, o Brasil poderia dobrar de tamanho e ser uma potência na geopolítica mundial. Mas, o divertido, por aqui parece ser ganhar alguns trocados para o bolso de quem é ilegal, corrupto e imoral.