01/12/2018 - 9:27
O investimento baixo é o que tem freado a recuperação da economia, na avaliação do ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman. Apesar de imaginar que 2019 será um ano melhor, ele diz que a volta do investimento depende de uma sinalização mais clara de que o governo de Jair Bolsonaro vai conseguir aprovar as reformas que o País precisa. A seguir, trechos da entrevista.
O crescimento de 0,8% no trimestre é um indício de que a recuperação ainda segue lenta?
Crescer 0,8%, em si, não é tão ruim. O que acontece é que quando se olha para o conjunto da obra, aí que se fica realmente desapontado. Desde o fim da recessão, em 2016, o PIB cresceu em torno de 3%. Quando se olha para as outras recessões, é pouco. Era para estar 7% ou 8% acima do pior da recessão, não a metade disso.
Qual a expectativa para o ano?
Crescer perto de 1,3%. Quando me perguntaram, há um ano, como seria 2018, eu imaginava que seria bem melhor. Só que muita coisa aconteceu e as expectativas foram revertidas.
O que ainda está emperrando?
Há uma fraqueza no investimento. Pode ser que, passadas as eleições, as incertezas diminuam. Em alguma medida, o empresariado se sente mais seguro para investir agora, mas não é uma carta branca. O País tem grandes desafios a superar. O investimento cresceu no terceiro trimestre, mas impulsionado por uma movimentação pontual da Petrobrás.
A resolução das reformas vai definir o crescimento em 2019?
Tem uma agenda grande. Resultados fiscais, que embora tenham melhorado um pouco, ainda são ruins. Tem uma tendência de crescimento da dívida pública, que não se resolve só por decretar um teto de gastos. Precisa de uma reforma da Previdência, de uma desvinculação de uma série de despesas. Se o governo conseguir entregar isso, tira muito da incerteza que tem sobre o endividamento explosivo do País e ele consegue crescer mais rápido.
Arrumar as contas públicas destravaria os investimentos?
Com a casa em ordem, do ponto de vista fiscal, o investimento volta. As duas coisas estão intimamente ligadas. Vamos falar a verdade: quem está disposto a fazer um programa de investimentos para daqui a cinco anos sem saber o que vai acontecer com o País e olhando para a escalada do endividamento do governo?
Por onde começar?
A verdade é que o País tem esses problemas há muito tempo e que só começaram a ser resolvidos há relativamente pouco tempo. O teto de gastos, da forma que existe hoje, é sustentável por mais dois anos, talvez. A partir disso, se começa a entrar em questões de como a máquina pública vai funcionar.
O governo eleito tem espaço para fazer essas reformas?
Tenho dúvida se a sociedade deu a este governo um mandato para fazer um ajuste fiscal no País. A eleição não foi sobre temas econômicos. Isso não quer dizer que o governo não deva tentar fazer reformas, mas é preciso lembrar que não é uma decisão monocrática, tem de passar pelo Congresso.
O consumo das famílias, aparentemente, saiu de uma letargia e cresceu 0,6% no terceiro trimestre. Isso é sustentável?
No ritmo atual, não tem nada que torne o consumo insustentável. Ele não vem crescendo muito rápido, mas outros indicadores mostram que o consumo está bastante ancorado na expansão da massa salarial. Como tem uma baita capacidade ociosa na economia, tem espaço para crescer.
O ano que vem deve ser de crescimento mais expressivo?
Acredito que a economia deve crescer um pouco mais, entre 2% e 2,5%. Mas esse ritmo é modesto, perto do tombo que o País levou. A impressão é que o Brasil cresce muito menos do que poderia. A economia não deslancha, porque as pessoas ainda estão, com razão, com medo do futuro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.