08/09/2021 - 17:00
Os investimentos, há muito tempo em nível insuficiente para garantir um crescimento sustentado da economia, devem manter um quadro de estagnação, ou de alta muito lenta, até pelo menos o próximo ano, segundo especialistas. O quadro, que já não é dos mais positivos, deve ser agravado pela crise político-institucional e também pela crise hídrica.
No 2.º trimestre, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB) anunciados na semana passada pelo IBGE, os investimentos caíram 3,6% em relação ao 1.º trimestre. Com isso, a taxa de investimentos (o total de aportes como proporção do PIB) ficou em 18,2%, bem inferior aos 32,9% médios registrados nos países emergentes e também abaixo da média de 22% das economias desenvolvidas, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para o Ministério da Economia e o ministro Paulo Guedes, após ser duramente atingida pela covid-19, a economia brasileira está “voltando em V” – e com “qualidade” -, puxada pelo setor privado, com mais investimentos, mas não é o que dizem os analistas. “Podemos até ter uma retomada puxada por investimentos, sim, mas o ritmo não parece ser tão intenso. Até a própria recuperação da economia, no ano que vem, não parece ter o crescimento mais forte. Estamos voltando para o cenário de crescimento baixo”, diz Rodolpho Tobler, responsável pelas sondagens de confiança empresarial da FGV.
Os indicadores de confiança da FGV exemplificam esse cenário. O Indicador de Intenção de Investimentos, que mede a disposição de se investir nos próximos 12 meses, até subiu neste 3.º trimestre, mas nos ramos de serviços (110,9 pontos) e de construção (103,6 pontos) ainda segue abaixo do nível de antes da pandemia. Na indústria, o número é maior (129,2 pontos), mas recuou em relação ao 1.º trimestre (132,8 pontos). Quando esse indicador fica acima de 100 pontos, mostra que o número de empresas relatando alta nos aportes é maior do que a quantidade relatando queda.
Vários fatores justificam a moderação no otimismo com os investimentos. Em primeiro lugar, o desemprego elevado e a aceleração da inflação, na esteira da crise hídrica, seguram o consumo das famílias, freando o ritmo de crescimento econômico – como já mostrado na retração de 0,1% no PIB do 2.º trimestre. E o cenário de fragilidade no consumo doméstico – que se arrasta desde a recessão de 2014 a 2016 – se reflete nos aportes das empresas.
“O que move o investimento? Crescimento da demanda e expectativa de lucro”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon). “Quem está tomando decisão de investimento já percebeu que o padrão de crescimento econômico do Brasil é muito baixo. Não adianta investir porque não tem demanda para isso.”
Após a divulgação da retração do PIB do 2.º trimestre, economistas revisaram para baixo suas previsões de crescimento econômico. Neste ano, a economia deverá avançar pouco mais de 5%, se recuperando do tombo do ano passado, mas, para 2022, as estimativas estão entre 1% e 2%. O ritmo dos investimentos vai arrefecer junto. Nas projeções da consultoria Tendências, os investimentos poderão crescer 9,5% este ano – inflados artificialmente por mudanças nas regras do Repetro, regime tributário do setor de petróleo -, mas o ritmo deverá arrefecer para 3,1% em 2022.
A crise hídrica pode ser um grande obstáculo. Além de elevar a inflação, a estiagem leva a quebras de safras, ameaçando aportes na agropecuária, por exemplo. E tudo pode piorar se a estiagem baixar os reservatórios das hidrelétricas a tal ponto que provoque racionamentos de energia.
A crise político-institucional também tem um papel importante nesse cenário difícil. Segundo Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B, projeta crescimento nos aportes em infraestrutura neste ano, por causa dos planos de empresas que já estão no Brasil, enquanto novos investidores estrangeiros esperam as eleições. Projetos de infraestrutura são uma “aposta no futuro” e, por isso, têm na incerteza uma variável “fundamental”, afirma o consultor.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.