13/03/2021 - 12:30
Com 29 pessoas à espera de UTI covid-19 na rede pública, o sistema de saúde de Foz do Iguaçu, no Paraná, está em colapso. Além de absorver a demanda da região, a cidade da fronteira ainda recebe pacientes vindos do Paraguai, que também vive crise por cuja crise sanitária também colocou o governo local em xeque. Estimativas das autoridades de saúde apontam que cerca de 1/3 dos pacientes atendidos vêm do país vizinho. Nesta sexta-feira, 12, Foz tinha ocupação de 104% dos leitos de terapia intensiva.
Já nas alas de enfermaria, a lotação no município paranaense é de 97,75%. Desde o início da pandemia, a cidade já registrou 475 óbitos – 70 apenas este mês. Março deve superar dezembro, mês com maior número de mortes (77).
O guarda municipal Gervasio Bergmann, de 59 anos, está na lista dos seis últimos óbitos registrados na cidade. Ele estava na UPA Walter Cavalcante Barbosa e aguardava havia quatro dias uma vaga de enfermaria covid.
Os pacientes à espera da UTI covid são da 9ª. Regional de Saúde, que abrange Foz do Iguaçu e outros oito municípios da região. E, apesar de oficialmente não estar nesta lista, cidadãos do Paraguai procuram a saúde pública e engrossam a fila de espera por leitos. Estimativas da Secretaria de Saúde indicam que pelo menos 30% dos pacientes atendidos pela rede de Foz são paraguaios ou brasileiros que vivem no país, os chamados brasiguaios.
Uma profissional de saúde de Foz, que não quis se identificar, disse ao Estadão que muitos pacientes chegam ao serviço de saúde já em estado grave e há dificuldade para conseguir ventiladores. Médicos, enfermeiros e fisioterapeutas estão no limite e, quando não são afastados por terem contraído a doença, ficam esgotados psicologicamente.
O Paraguai vive um cenário de instabilidade política após uma semana de protestos que tomaram as ruas do país. Os manifestantes reclamavam da falta de vacinas e medicamentos adequados no tratamento de pacientes com covid-19. Opositores políticos têm defendido o impeachment do presidente Mario Abdo Benítez.
Fiscais vistoriam veículos com placas paraguaias
A procura de paraguaios e brasiguaios pelo sistema de saúde de Foz não é novidade. A prática é antiga, mas com a covid a situação se complicou em razão da necessidade de internação. Preocupado com a corrida dos vizinhos à rede de saúde, o prefeito Chico Brasileiro (PSD) decidiu apertar as medidas.
Nas últimas semanas, fiscais da prefeitura começaram a vistoriar vans e veículos com placas paraguaias que costumam trazer pacientes para o lado brasileiro da fronteira. Barreiras volantes foram montadas na região da Ponte da Amizade, aberta desde outubro. Não há a mesma preocupação em relação à Argentina porque a Ponte Tancredo Neves, que liga Foz do Iguaçu a Puerto Iguazú, está fechada há quase um ano.
Para conter a escalada da doença, a prefeitura também anunciou toque de recolher e fechamento do comércio. Na semana passada, somente serviços e estabelecimentos essenciais, como supermercados e farmácias, ficaram de portas abertas. Neste fim de semana, haverá toque de recolher das 18h às 5h e, no domingo, o comércio estará totalmente fechado, inclusive supermercados. A liberação de funcionamento é só para entrega de alimentos prontos.
Atrativos turísticos e locais de hospedagem ficam abertos, mas com restrição de 30% na ocupação. Os moradores de Foz não podem ter acesso aos atrativos, sob pena de multa. As aulas presenciais na rede pública municipal e estadual foram suspensas e, na rede privada, serão liberadas a partir de segunda-feira, 15, apenas para educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, com limitação de 30% de alunos.
Brasileiros são presos por festa em cidade paraguaia
Do lado paraguaio da fronteira, os brasileiros também são motivo de preocupação – alguns vão para Ciudad del Este para fugir do toque de recolher em Foz. No último domingo, cerca de 100 brasileiros foram detidos pela polícia paraguaia quando participavam de uma festa em um bar, sem respeitar medidas sanitárias. Eles foram colocados em um ônibus e voltaram para a cidade paranaense.