Apesar do dólar em nível um pouco mais confortável mais cedo, a R$ 5,41 na mínima e a R$ 5,46 no fechamento desta terça-feira, Brasília fez preço nesta terça-feira, especialmente no Ibovespa, com uma série de substituições não antecipadas no Ministério da Economia, no dia da instalação da CPI da Covid, na qual o senador Renan Calheiros (MDB-AL) foi indicado para a relatoria, mesmo após o governo ter manobrado para tentar impedir que a função, central nos trabalhos da comissão, fosse atribuída a um adversário. Assim, a sensação de desmonte na equipe econômica, combinada à expectativa de aumento da temperatura política pouco depois de o governo ter se mostrado refém do Centrão na longa deliberação sobre o Orçamento de 2021, colocou o índice da B3 na mínima do dia a 119.003,27 pontos, menor nível desde o dia 13.

Nesta terça, o índice da B3 fechou em baixa de 1,00%, a 119.388,37 pontos, maior perda em porcentual desde 1º de abril (-1,18%), tendo saído de máxima na sessão a 121.012,34 pontos, com abertura a 120.594,61 pontos e giro financeiro a R$ 30,3 bilhões. Na semana, o índice cede 0,95%, limitando os ganhos do mês a 2,36% – no ano, tem ainda leve avanço de 0,31%.

A princípio, as baixas na equipe econômica observadas pela manhã – a saída da assessora especial para a reforma tributária, Vanessa Canado, indicada na noite de segunda-feira, seguida nesta terça pela do número 2 da Economia, Waldery Rodrigues, da secretaria especial de Fazenda – foram recebidas de forma branda na Bolsa que, embora em baixa, conservava até então a linha de 120 mil pontos que tem prevalecido nesta segunda quinzena de abril. A substituição de Waldery por Bruno Funchal, vindo da secretaria do Tesouro, foi bem recebida pelo mercado: um quadro técnico por outro, sem o desgaste do primeiro, que havia entrado há um bom tempo em rota de choque com o Palácio do Planalto ao propor corte de benefícios como o abono salarial.

Pouco antes das 14 horas, contudo, o índice da B3 passou a acentuar perdas, com o sinal de que as mudanças, conforme observou uma fonte, seriam no “atacado”, como uma “debandada”. Pela manhã, a percepção era de que uma mudança ou outra no Ministério da Economia poderia ser até saudável, para injetar ânimo novo na equipe, debilitada por sucessivas derrotas políticas, especialmente na definição do Orçamento. À tarde, a lista de baixas cresceu, com a indicação de que Martha Seillier, secretária do PPI, também está de saída do governo, assim como a secretária-adjunta de Comércio Exterior, Yana Dumaresq, e o secretário de Orçamento, George Soares.

No limite, o temor é de que o Ministério da Economia venha a ser fatiado para acomodar interesses políticos, especialmente em um Planejamento, Trabalho ou mesmo Desenvolvimento recriado às vésperas da batalha que parece se avizinhar no Senado, sobre o calcanhar-de-aquiles do governo: a má gestão da pandemia. Neste pior cenário, mais do que um desmonte de equipe, o que estaria entrando em decomposição, segundo a percepção de analistas, é o próprio ministério, com Paulo Guedes como capitão cada vez mais solitário no navio que faz água.

“Estamos longe de um ‘Guedes Day’, isso não está na conta e mesmo que venha a acontecer, haveria uns dias ruins, mas, a depender de quem viesse e da costura feita, a reação poderia ser boa com o tempo. No médio prazo, uma recomposição com maior presença do Centrão no governo pode ser positiva, se houver compromisso com o avanço das reformas, que estão paradas. A CPI da Covid, com o governo em dificuldade na comissão, é um obstáculo a mais nisso. Acho que no momento o olhar está mais na CPI do que propriamente nas mudanças na equipe econômica, que não vêm de hoje”, diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vítreo.

Ele chama atenção também para o fato de o câmbio e os juros terem embutido mais o risco fiscal e político até a sanção do Orçamento do que a Bolsa, que vinha se alinhando aos dias positivos no exterior para reduzir o atraso no ano e passar a acumular um leve ganho em 2021, ameaçado nesta sessão. “Hoje, temos um dólar mais tranquilo para a situação atual, enquanto a Bolsa ajusta mais, o que é natural. Olhando para além do dia, o cenário ainda é positivo para a Bolsa, há muitas coisas acontecendo na esfera corporativa, com concessões, negócios em andamento entre as empresas, para além do que nos chega de Brasília”, acrescenta.

Mais cedo, na agenda econômica, o IPCA-15, abaixo do esperado para abril e também da leitura de março, contribuía para algum conforto na sessão. Na B3, o balanço da Vale no primeiro trimestre, da noite de segunda-feira, colocou a ação ON da mineradora em alta de 1,43% no fechamento desta terça-feira, enquanto as ON e PN da Petrobras registraram, respectivamente, perdas de 2,40% e de 2,86% na sessão, em que os destaques foram CVC (+5,66%) e Braskem (+3,89%), na ponta do Ibovespa. No lado oposto, BRF cedeu 5,91%, Via Varejo, 5,37%, e Hering, 5,17%.