Após ter interrompido nesta quarta, 16, sequência de sete perdas – a mais longa desde agosto de 2023 -, o Ibovespa ameaçou retornar ao campo negativo nesta quinta-feira, 17, mas conseguiu reter a linha dos 135 mil pontos no intradia e no encerramento, tendo experimentado a marca de 134 mil pontos durante as três sessões anteriores.

No fechamento de hoje, o índice da B3 mostrava leve alta de 0,04%, aos 135.564,74 pontos, entre mínima de 135.016,25 e máxima de 135.792,48 na sessão, em que saiu de abertura aos 135.515,23 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 17,9 bilhões nesta quinta-feira que precede o vencimento de opções sobre ações. Na semana, o Ibovespa recua 0,46% e, no mês, acumula perda de 2,37%. No ano, sobe 12,70%.

Na B3, entre os bancos, as ações de Itaú (PN +1,51%), Santander (Unit +1,81%, na máxima do dia no fechamento) e BTG (+1,61%) conseguiram evitar o mau humor. No grupo das blue chips, o ajuste maior foi sentido por Petrobras (ON -0,70%, PN -1,01%), em baixa mesmo num dia de ganho acima de 1% para o Brent e o WTI. Vale ON, a principal ação da carteira, ficou perto do zero a zero (-0,18%) no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Pão de Açúcar (+6,52%), WEG (+2,36%) e Prio (+2,15%). No lado oposto, Hypera (-4,43%), Ultrapar (-2,25%) e Vibra (-2,22%).

“Nos 135 mil pontos, o Ibovespa se mantém em patamar alto, embora já tenha acumulado uma correção de 5% em relação ao nível recorde de 141 mil pontos, do início de julho”, observa Felipe Moura, gestor de portfólio e sócio da Finacap Investimentos. “Desde abril, houve um fluxo interessante de ingresso de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira, embora estejam prevalecendo saídas nessas últimas semanas. Há uma certa perda de tração nesse fluxo externo, o que afeta as cotações”, acrescenta Moura.

Ele destaca os ruídos sobre tarifas e IOF – ainda que não alterem no longo prazo, na sua visão, um quadro estrutural que ainda favorece as ações, considerando a perspectiva de que os juros caiam nos Estados Unidos e no Brasil, mais adiante. No meio da tarde, a Receita Federal informou que não haverá obrigatoriedade de cobrança retroativa do IOF para instituições financeiras após a decisão de ontem do ministro do STF Alexandre de Moraes – o que contribuiu para firmar levemente o Ibovespa no campo positivo, ainda que esta fosse mesmo a expectativa majoritária do mercado com relação ao assunto.

Para Lucas Almeida, sócio da AVG Capital, a possibilidade de a cobrança do IOF vir a ser retroativa gerava insegurança jurídica, contribuindo também para aumento da percepção de risco quanto à condução da política fiscal e o ajuste de prêmios pelo mercado – o que acaba afetando, também, o desempenho do Ibovespa, que esteve sob pressão desde que renovou máxima histórica, em 4 de julho. “A volatilidade da Bolsa, sem dúvida, é reflexo direto, também, da deterioração do ambiente institucional e fiscal. A decisão do STF sobre o IOF pegou mal: não só pelo impacto arrecadatório, mas pela insegurança jurídica que pode gerar”, acrescenta.

“O maior problema do mercado continua a ser a tarifa de Trump, depois vem a Selic e, no momento, também a saída de fluxo dos estrangeiros da Bolsa”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença. Com agenda de dados domésticos nesta quinta-feira esvaziada, o mercado monitorou não apenas a resolução de Moraes em relação ao IOF, mas também os desdobramentos em torno do tarifaço americano, aqui e no exterior.

Na falta de um denominador comum entre Congresso e Executivo, a decisão do magistrado do STF foi na direção correta, avalia o economista-chefe da Warren Investimentos e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. “Moraes fez a interpretação dos atos normativos e a Constituição é muito clara, reservando ao Executivo a possibilidade de movimentar as alíquotas do IOF para fins regulatórios. Não está escrito com essas palavras, mas o IOF tem esse tratamento.”

Salto reconhece que há um efeito óbvio sobre a arrecadação, que o próprio Ministério da Fazenda já havia sinalizado e que, por isso, a decisão de Moraes ajudará o governo a cumprir as metas fiscais neste ano. “O que Moraes fez foi tirar a parte do decreto que cobrava IOF sobre risco sacado, que era uma inovação. Não existia essa alíquota”, acrescenta o economista.

A decisão de Moraes em relação ao IOF também não foi considerada uma surpresa por William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. “O que nos surpreende e nos desagrada é a forma com que foi tomada essa medida pelo governo: de forma unilateral, sem conversar com as pessoas que fazem parte”, acrescenta.

No noticiário externo, a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), está considerando uma nova rodada de medidas retaliatórias contra as amplas tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, que imporiam restrições ao comércio de serviços e aquisições. O Comissário de Comércio, Maros Sefcovic, sugeriu a ideia durante uma reunião dos ministros de Comércio da UE na segunda, e disse que o trabalho preparatório estava em andamento para medidas além de bens, disseram quatro diplomatas da UE, segundo o site Politico.

O presidente Lula afirmou à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, que nunca imaginou comprar uma briga com os Estados Unidos, porque sempre teve uma “boa relação” com os antigos líderes do país. A entrevista foi veiculada nesta quinta. “Eu nunca imaginaria brigar com os EUA, nunca. Você sabe muito bem que tive um relacionamento extraordinário com todos os ex-presidentes, desde Bill Clinton, George W. Bush, Barack Obama e o Joe Biden.”

Em outra situação, o presidente Lula afirmou hoje, durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), que “não é um gringo que vai dar ordem para este presidente da República”. Recorrendo ao jogo de truco, Lula usou uma metáfora para explicar a posição brasileira. “Quando o cara truca, a gente tem que escolher: eu corro ou grito ‘seis’ na orelha dele. Eu estou jogando. O Brasil gosta de negociação”, acrescentou. Sem fornecer mais detalhes sobre a possível medida, Lula disse também no evento da UNE que o governo vai cobrar imposto de empresas digitais americanas.

A crise diplomática entre EUA e Brasil pode ser um ‘presente’ para o presidente Lula no momento em que o seu caminho para a reeleição parecia ‘incerto’, avalia a TS Lombard. A taxação de Washington sobre o Brasil ajudou a unificar o governo, trouxe ganhos para o petista em casa e, internacionalmente, pode contribuir para mais acordos comerciais com outros países, avalia a consultoria, reporta de Nova York a correspondente da Broadcast, Aline Bronzati.