Entre fatores domésticos e externos, o Ibovespa voltou a oscilar em sentido negativo nesta quarta-feira, 25, após a modesta recuperação de 0,45% observada na terça-feira, quando havia interrompido uma série de quatro perdas diárias. Nesta quarta, o índice da B3 oscilou entre 135.564,69 e 137.162,54 pontos, na máxima que correspondeu ao nível de abertura. Ao fim, mostrava perda de 1,02%, aos 135.767,29 pontos, com giro a R$ 19,1 bilhões e no menor nível de fechamento desde 9 de junho. Na semana, o Ibovespa recua 0,98%, com perda no mês a 0,92% – no ano, ainda sobe 12,87%.

Após um intervalo em que prevaleceram fatores externos no direcionamento dos ativos brasileiros, o relativo arrefecimento da tensão geopolítica no Oriente Médio abriu espaço para que os investidores voltassem a ponderar, também, questões domésticas. Nesse contexto, não foi bem avaliada, no mercado, a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, de incluir na pauta desta quarta projetos com impacto nas contas públicas e na tributação. Entre os textos estão o que derruba mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o que isenta de Imposto de Renda (IR) quem ganha até dois salários mínimos.

“Hoje, o mercado aqui no Brasil se voltou ao fiscal, de olho em votação na Câmara dos Deputados que pode derrubar o decreto do IOF”, ressalta Alison Correia, analista da Dom Investimentos. Ele observa que, em Nova York, os principais índices de ações dos EUA têm voltado a convergir para suas máximas históricas, em recuperação sustentada desde que se superou o pior momento de desconfiança com relação à guerra tarifária lançada pelo presidente Donald Trump. “O mercado americano tem se recuperado bem”, enfatiza o analista.

No exterior, contudo, o dia também não foi muito favorável ao apetite por risco, com foco voltado ao encontro dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cuja maioria assumiu o compromisso de aumentar gastos com defesa – um fator de pressão adicional sobre a situação fiscal, especialmente entre os países da Europa que integram a aliança de segurança, sob pressão desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, há mais de três anos. Em Nova York, os principais índices fecharam o dia com variações entre -0,25% (Dow Jones) e +0,31% (Nasdaq).

Para Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, com o aumento da dívida pública americana – que já supera 100% do PIB – e os desafios fiscais que pendem também sobre os Estados Unidos, investidores têm buscado alternativas.

Em nota, ele destaca que tal mudança pode abrir espaço para a realocação de capitais em direção a regiões como a própria Europa e alguns emergentes – mas países com fragilidade fiscal, como o Brasil, continuarão sendo evitados pelos investidores, acrescenta o estrategista. Nesse cenário, Giacomelli argumenta que os governos precisam estar preparados para um ambiente global mais exigente, no qual será necessário reforçar o compromisso com o equilíbrio das contas públicas.

No noticiário corporativo, a Petrobras fechou captação de R$ 3 bilhões em debêntures incentivadas, com demanda do mercado chegando a R$ 5,4 bilhões, o equivalente a 1,8 vez o livro de ordens, de acordo com fontes ouvidas pelos jornalistas Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A operação, antecipada pela Coluna do Broadcast, foi precificada na noite da quarta, com a emissão em três séries, com prazos que chegam a 20 anos.

Na B3, Petrobras não conseguiu sustentar os leves ganhos observados mais cedo na sessão, favorecidos então pelo dia moderadamente positivo para o Brent e o WTI, que vêm de forte correção e nesta quarta registraram alguma recuperação, ainda que bastante moderada em direção aos fechamentos de Londres e Nova York, respectivamente. A ON da estatal fechou em baixa de 0,59% e a PN, de 0,51% – esta na mínima do dia, a R$ 31,21. A sessão também foi negativa para Vale ON (-0,12%), a principal ação da carteira Ibovespa.

Após o envolvimento direto dos Estados Unidos no ataque do último sábado a instalações associadas ao programa nuclear do Irã, os preços do petróleo tiveram queda aguda por dois dias seguidos – na segunda e terça-feira – refletindo a expectativa de redução do risco geopolítico corroborada, na noite de segunda-feira, pelo anúncio de trégua entre Israel e Irã anunciada pelo presidente americano, Donald Trump. Mesmo com acusações mútuas de violação do acordo de cessar-fogo, a queda do petróleo nessas sessões sinalizou uma “reavaliação do mercado, indicando que o temor de uma disrupção severa (na oferta) diminuiu”, aponta Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad.

Dessa forma, a recuperação da commodity após dois dias de retração pode ser vista como um ajuste técnico, tendo em vista que a referência global (Brent), desde a terça, permanece abaixo da linha psicológica de US$ 70 por barril. Para Noah Barrett, analista de pesquisa de Energia na Janus Henderson, apesar da trégua desta semana no conflito no Oriente Médio, é cedo para dizer que o risco geopolítico tenha sido superado.

Ainda assim, se não houver disrupção na oferta ou no fluxo de petróleo da região, o analista da Janus Henderson avalia que a commodity poderá permanecer na faixa de US$ 60 a US$ 70 por barril, na medida em que a perspectiva para o segundo semestre é de aumento da oferta já sinalizado pela Opep+, grupo dos maiores produtores liderado pela Arábia Saudita – um movimento iniciado ainda no último mês de abril, após alguns anos durante os quais a produção do cartel vinha sendo contida, destaca Barrett em nota.

Na B3, entre os grandes bancos, as perdas desta quarta-feira chegaram a 1,80%, no fechamento, para Itaú PN, a principal ação do segmento. Na ponta negativa do Ibovespa, Hapvida (-5,52%), CSN (-4,98%) e Brava (-4,76%). No lado oposto, Vamos (+3,48%), RD Saúde (+3,26%), Raízen (+1,83%) e Minerva (+1,48%).