10/04/2024 - 13:57
Enquanto as expectativas de inflação nos Estados Unidos parecem preocupar o mercado financeiro, as ações da Levi Strauss & Co terminaram março em alta de mais de 10% e já acumulam ganhos perto de 2% em abril. Isso porque, se a tendência dos preços da economia parecem apontam para um cenário incerto para o consumo, a famosa marca de calças jeans conta com um impulso extra: Beyoncé.
Isso porque a alta da ação LEVI em Wall Street vem na esteira do anúncio do lançamento do álbum “Act II: Cowboy Carter” da cantora, que inclui uma faixa que cita a marca de moda – inclusive no título. A canção se chama “Levii’s jeans”, que significa “jeans da Levi”, porém com um “i” a mais.
A música gerou repercussão entre fãs de música e investidores da bolsa. “A Beyoncé tem um impacto muito grande na fomentação de cultura jovem, isso fortalece muito o marketing da empresa”, comenta Gerson Brilhante, analista da Levante Inside Corp.
Para ele, a alta recente das ações está sim relacionada ao lançamento da música, mas o movimento deve perdurar em razão também dos fundamentos da Levi’s. “A empresa reportou lucros acima do esperado no último trimestre, dada uma forte movimentação de corte de custos e o mercado gostou”, diz.
No último dia 3, a companhia reportou ao mercado que teve receitas de US$ 1,6 bilhão no primeiro trimestre de 2024. “Temos uma visão otimista para o papel. A empresa tem uma marca forte e vem apresentando bons resultados pós crise de 2020”, analisa Brilhante.
Diante dos últimos números da empresa, André Vasconcellos, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), ressalta que a música de Beyoncé “pode até potencializar o aquecimento da demanda pelos produtos da marca e consequentemente as expectativas dos acionistas da companhia aberta, mas a disciplina financeira parece ser o fator preponderante para a atual valorização do papel, já que se trata de uma tendência observada há pelo menos os seis últimos meses”.
Expectativas depois da alta
Mas o economista e investidor Bruno Corano avalia o cenário com alguma cautela. “Tudo isso vai gerando publicidade, visibilidade. Acaba que é uma propaganda para que mais pessoas comprem a ação e ela suba ainda mais. Mas eu diria que isso não faz com que seja um papel interessante, tendo em vista que já subiu muito quando comparado à melhora dos números”.
“Não adianta os números melhorarem 10% e as ações subirem 50%. Existe um descolamento aí”, acrescenta ele.
Já Brilhante cita como ponto positivo para a ação LEVI a expectativa de que o corte de juros nos Estados Unidos beneficie empresas do varejo, o que inclui a Levi’s. No entanto, as notícias mais recentes sobre a inflação no mercado norte-americano jogaram dúvidas sobre essas previsões.
Enquanto isso, no mundo do marketing, a Levi’s aproveita para surfar a onda iniciada por Beyoncé. Em suas redes sociais, a marca mudou o nome de seu perfil para Levii’s, incluindo a letra extra do nome da música também em seu logotipo, e ainda fez um post com emoji de cowboy em alusão ao álbum.
Não foi só com calças jeans
Esta não é a primeira vez que a Levi’s ganha algum impulso graças à obra de Beyoncé, como lembra Vasconcellos. “Em 2018, a abertura de sua apresentação no Coachella, popularizou os shorts 501 da fabricante. Na época, a peça se tornou o ‘uniforme’ do festival, com as vendas subindo 50% no 2º trimestre daquele ano, período em que ocorreu o festival na Califórnia, conforme reportado na época nos balanços da companhia aberta.”
Ele cita ainda que, “anteriormente, outras empresas também já se beneficiaram da arte de Beyoncé, como a cadeia de restaurantes de frutos do mar Red Lobster, que teve um aumento de 33% nas vendas depois uma menção da cantora em Formation em 2016”.