A Netflix abriu o dia em baixa, e opera oscilando entre -2,5%. O desempenho ruim na bolsa, porém, é generalizado entre as gigantes de tecnologia, com Tesla, Apple, Google e Amazon seguindo a tendência de baixa. No entanto, diferentemente de suas concorrentes, a empresa de streaming tem algo a comemorar.

Os resultados do último quarto bimestre da empresa surpreenderam a todos os analistas. Enquanto muitos esperavam que o número de assinantes crescesse apenas 7,6 milhões no período, a empresa anunciou aumento de 8,8 milhões de assinantes. Já o lucro ficou como o esperado, US$ 4,19 bilhões ante US$ 4,21 da previsão de Wall Street.

Porém, há um enorme influxo de dinheiro chegando na companhia, uma vez que anunciaram o maior aumento de mensalidade da história nos Estados Unidos e em alguns países da América Latina (o Brasil de fora), passando de US$ 11 para US$ 13 no plano mais básico. As assinaturas são hoje a única fonte da renda da Netflix, e seu aumento pode ser explicado pelos planos para 2019 de investir US$ 15 bilhões em conteúdos originais, aumento de 25% em relação ao ano passado. Em 2018, o crescimento dos investimentos em produções próprias foi de 35%, mostrando que o foco da empresa nos últimos anos está em criar conteúdos exclusivos, e a estratégia trouxe seu maior resultado com os indicados ao Oscar de 2019.

Netflix: de reprodutora para produtora

Com o anúncio dos indicados ao Oscar de 2019, a Netflix já sai como grande vencedora da premiação, com seus filmes Roma e A Balada de Bustar Scruggs, que juntos receberam 13 indicações. O resultado não traz apenas prestígio a companhia, mas também indica que sua transição está em pleno vapor e funcionando como o esperado.

Não, a Netflix não irá mudar seu modelo de negócios, nem menus ou sistema de assinatura. A mudança de rota é estrutural. O grande salto da empresa foi enxergar o tamanho e a abrangência que serviços de streaming teriam no mundo do audiovisual. O modelo de mensalidade para ter acesso ilimitado ao conteúdo foi revolucionário na época, motivo que fez com que outros players do mercado se movimentassem, como a Amazon. O problema foi quando veteranos do setor enxergaram no modelo, o futuro.

Inicialmente, a Netflix era apenas reprodutor de conteúdo, negociando direitos de transmissão para deixar sua biblioteca mais graúda. Mas conforme seu modelo foi se espalhando, produtoras veteranas iniciaram planos de lançar suas próprias plataformas de streaming, esvaziando as ofertas da Netflix. Foi nesse momento que Reed Hasting, CEO da empresa, teve que mudar seu foco.

Desde então, a plataforma iniciou estratégia agressiva de criar conteúdos próprios. Por ser um serviço caseiro, as primeiras produções da empresas eram séries – produções feitas para serem veiculadas em televisão – e o sucesso foi estrondoso com séries como House of Cards, Stranger Things e Orange is The New Black. Mas, faltava entrar no universo do cinema.

A primeira empreitada em longa metragem foi com Beasts of No Nation, que apesar de ter sido bem recebido pela crítica, não foi aceito em alguns festivais por não ter sido lançado no circuito comercial, apenas direto para o streaming. Com a lição aprendida, a empresa chamou o vencedor de Oscar Alfonso Cuarón para realizar um filme mexicano, introspectivo, preto e branco e falado em espanhol.

Primeiro colocou em circuito restrito para participar de festivais – menos Cannes, que já declarou guerra ao serviço – e depois jogou em sua plataforma. O resultado foram 10 indicações ao Oscar, que junto com A Balada de Buster Scruggs (dos renomados irmãos Coen) colocam a Netflix como a principal produtora dessa atual temporada de premiações com 13 indicações ao maior prêmio do cinema mundial.

Com a eminência da Disney/Fox criar seu próprio serviço, outras produtoras podem seguir o mesmo caminho, tirando seus títulos da Netflix. Mas os resultados das produções originais da Netflix mostram que ela pode sim viver muito bem só de seus conteúdos originais.