17/03/2022 - 8:53
A Bolsa de Moscou terminou o ano de 2021 em alta, com dinheiro e investimentos em abundância, mas a ofensiva na Ucrânia provocou um ‘crash’ e bloqueios sem precedentes que deixam muitos russos em apuros.
Na manhã de 24 de fevereiro, a Bolsa abriu como sempre, mas o mundo havia mudado. Durante a noite, as tropas russas haviam entrado na Ucrânia.
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O índice Moex despencou 33% e quase 190 bilhões de dólares evaporaram em apenas um dia.
Em 25 de fevereiro, a Bolsa decidiu encerrar a maior parte de suas atividades, um fechamento que se prolongará, ao menos, até 21 de março.
Desde então, os ativos dos russos – que haviam investido em massa no mercado de valores nos últimos anos com a esperança de enriquecer – estão congelados.
“Me sinto totalmente frustrada. Não sei o que fazer”, disse a designer gráfica Anna Mechtchanova, 30 anos, à AFP.
“Me pareceu importante ter um colchão financeiro e uma boa aposentadoria, já que não há certezas de que o Estado vá proporcionar uma boa quantidade de dinheiro na velhice”, recorda.
Durante a pandemia, ela investiu principalmente em ações russas e americanas cerca de 10.000 rublos por mês (90 dólares hoje, 150 na época).
Mas agora, considera que seu dinheiro “já está perdido”. Quando a Bolsa reabrir, calcula suas perdas em 4.500 dólares.
– 2021, ano da prosperidade –
As Bolsas e os bancos russos levaram anos trabalhando para atrair os particulares, com aplicativos, podcasts e blogs financeiros.
“Em 2021, registramos uma enorme entrada de particulares ao mercado de valores, tanto como na Bolsa de Moscou como na de São Petersburgo. A tendência começou já em 2019, quando os intermediários simplificaram o procedimentos para os investimentos”, afirma Alexander Saiganov, chefe de análises da Invest Heroes.
O número de investimentos individuais na Rússia cresceu de entre dois e três milhões em 2018 para mais de 15 milhões em 2021.
Em 2021, a Bolsa de Moscou, a maior do país de longe, se viu impulsionada pela recuperação após a pandemia e alcançou níveis recordes de investimento, com 6 entradas na Bolsa, as primeiras em anos.
Porém, a partir de outubro, as turbulências geopolíticas, prelúdio do conflito na Ucrânia, começaram a afetar os ativos.
– 2022, ano péssimo –
Até 24 de fevereiro desse ano, estava seguro que o dinheiro guardado no banco ou em um conta de investimentos sempre estaria ali, que sempre me ajudaria, mas me equivoquei”, lamenta Anna Mechtchanova.
“Entendo que agora estou completamente desprotegida. A única coisa que me resta é manter algo de efetivo em moeda estrangeira”, disse.
O analista Alexander Saiganov continua otimista e acredita que “o mercado russo sobreviverá” como uma “forma de manter as economias em rublos para proteger-se da inflação”, que superou 9% em fevereiro e deve aumentar ainda mais nos próximos meses.