Ao praticamente consolidar as apostas já majoritárias de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai flexibilizar a política monetária neste mês, o payroll de agosto foi o principal vetor de baixa sobre as taxas de juros futuros domésticas no pregão desta sexta-feira.

Terminados os negócios, a taxa de contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,97% no ajuste da quinta-feira para 13,92%. O DI de janeiro de 2028 diminuiu a 13,21%, de 13,317% no ajuste da véspera. O DI de janeiro de 2029 passou de 13,289% no ajuste antecedente a 13,16%. Na parte mais longa da curva, o DI de janeiro de 2031 marcou 13,475%, vindo de 13,628% no ajuste de quinta-feira.

No balanço da semana, considerando níveis de fechamento, o saldo foi de leve redução em todos os principais vértices. Os DIs para janeiro de 2027 e janeiro de 2028 caíram 5 pontos-base e 6 pontos-base, respectivamente. A taxa futura de janeiro de 2029 cedeu 4 pontos-base, e a de janeiro de 2031, 3 pontos-base.

Publicada nesta sexta, a principal métrica de mercado de trabalho dos EUA mostrou que a economia americana abriu apenas 22 mil vagas no mês passado, bastante abaixo da expectativa mediana de 76 mil postos do Projeções Broadcast. Já a taxa de desemprego subiu 0,1 ponto na passagem mensal, a 4,3%. Ao longo da semana, outros indicadores endossaram a percepção de fraqueza dos dados de emprego nos EUA, observa o diretor de pesquisa econômica do Pine, Cristiano Oliveira, tais como o relatório ADP e os componentes de vagas das pesquisas de atividade industrial e de serviços.

“Com isso, a curva de juros nos EUA passou a precificar quase 100% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto porcentual na próxima reunião do Federal Reserve, em 17 de setembro, além de mais quatro cortes nos meses seguintes”, nota Oliveira.

Por aqui, a curva de juros futuros aponta atualmente 40% de chance de corte de 25 pontos-base na Selic em dezembro, com concentração das apostas (92%) para janeiro de 2026, destaca Luciano Rostagno, estrategista-chefe da EPS Investimentos. “Com a agenda local bem fraca, o relatório de emprego dos EUA deu direção aos negócios nesta sexta”, afirma.

A queda dos juros nos EUA aumenta o diferencial da taxa básica americana em relação à do Brasil, o que ajuda a valorizar o real, diz Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus. “Nossa moeda continua se apreciando, o que gera um efeito deflacionário para o mercado doméstico”. Essa tendência contribui para visão mais benigna a respeito da inflação corrente e futura, o que também afeta as expectativas para os cortes da Selic, diz.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, a queda dos DIs na sessão desta sexta reflete em boa parte o payroll, mas também um componente político doméstico, uma vez que o mercado de juros já abriu a sessão com desempenho benigno.

Borsoi cita entrevista do presidente do PP, Ciro Nogueira, à Folha de S.Paulo, publicada no período da manhã, na qual o político destaca uma fala do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de que não haverá anistia aos condenados do 8 de janeiro antes do julgamento, mas depois essa passaria a ser uma “questão política”. “O mercado já abriu positivo, com quedas na curva inteira, mas o payroll mandou no ‘price action'”, disse.

Na próxima semana, os investidores vão ficar atentos a dados de atividade e inflação locais. Serão publicados o IGP-DI e o IPCA referentes a agosto, que saem na segunda-feira e na quarta-feira, pela ordem. O IBGE vai divulgar, ainda, os resultados das vendas do varejo e do volume prestados de serviços de julho. No campo político, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF será monitorado e pode fazer preço sobre a curva, a depender de potenciais retaliações dos EUA ao seu desfecho. “Na medida em que o julgamento avançar, pode haver sanções por parte de Trump, o que pode causar mudanças no mercado”, diz Rostagno, da EPS.