Com o mergulho de Petrobras (ON -6,78%, PN -6,04%) e as perdas nas ações de grandes bancos (BB ON -1,29%, Santander Unit -2,06%) na sessão, o Ibovespa tendeu para baixo nesta quarta-feira, cedendo 0,38%, aos 128.027,59 pontos, no fechamento. A notícia que pautou o dia veio na noite anterior: a substituição de Jean Paul Prates por Magda Chambriard na Petrobras, definida pelo presidente Lula com apoio dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil), adversários do ex-senador que teriam presenciado o desligamento com “regozijo”, nas palavras do demitido.

De forma geral, a manobra foi recebida como a consumação de antigo desejo do principal acionista, a União, de influir nas decisões da empresa, especialmente com relação a investimentos que contribuam para a economia girar. Com a chegada de um nome associado ao governo Dilma Rousseff, a impressão inicial é de que lições mal assimiladas do passado – como as encomendas domésticas para impulsionar setores como a indústria naval – estarão de volta com a engenheira Chambriard, ex-funcionária de carreira da estatal e ex-diretora-geral da ANP, a Agência Nacional do Petróleo, órgão regulador do setor.

“Prates tinha conquistado a confiança do mercado. Embora várias das mudanças na estatal – política de precificação de combustíveis, diminuição de dividendos, flexibilização do estatuto – tenham ido contra a geração de valor para os acionistas, a companhia seguia com forte desempenho operacional e boas projeções”, observa o analista Mateus Haag, da Guide Investimentos.

“Indicação de Chambriard para a presidência da Petrobras é negativa – e também o próprio movimento para tirar Prates, da maneira como foi, com atrito e para emplacar um nome mais alinhado ao governo”, diz Gustavo Corradi Matos, CIO da Medici Asset. “Temas como a política de preços, distribuição de dividendos, plano de investimentos, entre outros, são cada vez mais determinados pelo governo e menos pelas demandas do mercado”, aponta o economista Bruno Mori, da Sarfin.

Dessa forma, o foco no noticiário doméstico deixou em segundo plano leitura comportada sobre a inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos em abril, divulgada pela manhã, que contribuiu para recuo nos rendimentos dos Treasuries e avanço dos índices de ações em Nova York neste meio de semana. Destaque para alta de 1,17% no índice amplo (S&P 500) e de 1,40% no de tecnologia (Nasdaq), com as três referências, o que inclui o Dow Jones, em novas máximas históricas.

Aqui, o noticiário em torno da Petrobras deu o tom para os negócios na B3 ao longo desta quarta-feira, com perdas semelhantes, nas ações da estatal, às registradas pelos ADRs da companhia no after market da noite anterior, em Nova York, em baixa então perto de 7% no encerramento.

“A nova gestão, possivelmente menos orientada ao mercado, traz preocupação quanto a intervencionismo na estatal. Mas, de forma geral, não foi um dia tão negativo para ativos brasileiros, com devolução de prêmios nos vértices mais longos da curva de juros doméstica, acompanhando ajuste nos juros futuros americanos após o CPI”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, destacando também a alta no índice de small caps, que reúne ações com menor capitalização de mercado.

“A leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos mantém sobre a mesa a chance de corte de juros por lá em 2024, possivelmente com primeira redução em setembro”, diz Spiess. “As apostas sobre o número de cortes de juros nos EUA estão se consolidando para os meses de setembro e dezembro – ou seja, dois cortes neste ano”, enfatiza Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

Contudo, na B3, para além da Petrobras e dos grandes bancos, o dia também foi negativo para outro peso-pesado do Ibovespa, Vale ON, que fechou em baixa de 0,29%. Na ponta perdedora do índice, as ações de Petrobras vieram à frente de CVC (-3,59%), Azul (-2,25%) e Fleury (-2,11%). No lado oposto, JBS (+8,11%), Marfrig (+6,30%), Embraer (+5,64%) e Natura (+4,57%).

Na semana, o Ibovespa ainda avança 0,34% e, no mês, tem alta de 1,67%, restringindo as perdas do ano a 4,59%. O giro financeiro subiu a R$ 32,7 bilhões nesta quarta-feira, dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa.