Como já dizia o mestre Noel Rosa no samba “Com que roupa”, dinheiro não é fácil de ganhar. Ainda mais para aqueles que investem em ações de varejistas de moda. Afinal, esse mercado está sujeito a intempéries não apenas macroeconômicas como também climáticas, que influenciam diretamente no lançamento das coleções e no volume de estoques. Em meio a tantas opções – Renner, Hering, Guararapes, Marisa e Arezzo –, qual papel o investidor deve escolher? Na pesquisa feita pela DINHEIRO junto a analistas, Renner e Guararapes têm sete recomendações de compra cada, enquanto a Hering aparece na carteira teórica de nove profissionais.

O bom momento vivido pela Renner é resultado da decisão do presidente da rede gaúcha, José Galló, de deixar sua operação redonda, a partir de 2005. Ele conseguiu. Tanto que, no segundo trimestre, a empresa elevou seu lucro líquido em 20,9% para R$ 118,5 milhões e as ações acumulam alta de 19,3%, no ano. O preço alvo é de R$ 76 e atualmente as ações estão sendo negociadas por R$ 68,50. “A recomendação para a Renner é de compra, pelo fato de ela ter deixado sua operação mais robusta, o que ainda deve garantir bons resultados”, afirma Luis Gustavo Pereira, analista da Guide Investimentos.

A explicação para o bom desempenho, segundo Laurence Gomes, diretor financeiro da Renner, é uma combinação entre uma coleção acertada, gestão de estoques, controle rigoroso de despesas, além de um plano de investimento audacioso. “Até 2021, queremos praticamente dobrar de tamanho, ao passar de 217 lojas para 408”, afirma. A companhia também está investindo na construção de dois novos centros de distribuição e na implantação de um centro de serviços compartilhados, que vai centralizar atividades administrativas, como contas a pagar e recursos humanos.

“Queremos crescer de forma eficiente e, assim, vamos nos tornar ainda mais competitivos”, acrescenta. A estratégia será mantida mesmo com um período mais desafiador pela frente. O consumidor está mais endividado e a economia tem crescido menos, o que pode aumentar a concorrência entre as varejistas e reduzir suas margens. Isso fica claro na pesquisa realizada pelo Programa de Administração do Varejo, da Fundação Instituto de Administração, em parceria com a Felisoni Consultores Associados, que mostra que a intenção de compra de vestuário e calçados no terceiro trimestre caiu 1% em relação ao segundo trimestre.

Mesmo assim, Fábio Hering, presidente da companhia que leva o seu sobrenome, acredita em um segundo semestre melhor. “Agora, estamos com os estoque saudáveis e vamos conseguir melhorar o sortimento de peças”, afirmou o executivo em teleconferência de resultados. Entre janeiro e junho, a empresa registrou uma perda de 16,5% em seu lucro, para R$ 74 milhões. O motivo, segundo o executivo, foi a junção entre os feriados da Copa do Mundo e o desempenho ruim das lojas da rede. Resultado: no ano, as ações recuam 26,10%.

“A Hering enfrenta uma dificuldade recorrente com problemas logísticos e a agilidade de renovação de coleções. O cenário para os papéis da empresa nos próximos meses não é positivo”, afirma Pereira, da Guide. No entanto, no dia 25 passado, dia da teleconferência, os papéis da Hering subiram 6%, o que mostra que os investidores acreditam que o pior já passou. Tanto que o preço alvo está em R$ 29, sendo que as ações são negociadas a R$ 21. Mesmo assim, os papéis da fabricante saíram da carteira recomendada da corretora Magliano.

“Tiramos porque já tivemos uma rentabilidade muito boa. Agora, vamos esperar a maturação da nova estratégia da empresa de focar no público infantil, o que deve acontecer a partir de 2015”, afirma Henrique Kleine, analista-chefe da Magliano. Segundo Mario Roberto Mariante, analista da Planner, a Hering sofre mais que as concorrentes por ter um modelo de negócios que depende de poucas coleções, enquanto Riachuelo e Renner podem diversificar as receitas com outros produtos. Em teleconferência com analistas, os executivos da Grendene destacaram que, para os próximos meses, não esperam crescimento de volume, mas, sim, uma ligeira alta na receita e no lucro líquido.

“Será um desafio manter as margens de 2013, pois começamos o ano com custos mais elevados. Contudo, estamos confiantes. Em tempos turbulentos, nosso crescimento sempre ocorreu”, disse Francisco Schmidt, diretor de finanças da Grendene. Já a Guararapes, controladora da Riachuelo, vem expandindo o número de lojas por todo o Brasil e opera também uma financeira (aproximadamente 45% de suas vendas são feitas por meio do cartão private-label). Para o analista do Itaú BBA, Lucas Tam­bellini, a empresa realizou avanços importantes no ambiente e no layout das lojas.

Em relatório, ele recomenda compra e estima preço alvo de R$ 135, com avanço de quase 30%. A Marisa tem recomendação de compra de três corretoras e indicação de manutenção em seis. O preço alvo médio é de R$ 17 e atualmente as ações são negociadas a R$ 14,86. “A varejista deve reportar resultados ainda fracos no segundo trimestre, com queda de 39% no lucro líquido, impactado pelas despesas”, escreve Alan Cardoso, analista do J.Safra Corretora, sobre o balanço que será divulgado na quinta-feira 7.