02/10/2018 - 14:44
Com a compra de uma fatia majoritária da RCB Investimentos, que ainda depende de aval dos órgãos reguladores, o Bradesco divide o negócio de recuperação de créditos no banco em duas frentes, de acordo com o vice-presidente do banco, Eurico Fabri. De um lado, a instituição seguirá vendendo carteiras de créditos inadimplidas e já baixadas a prejuízo ao mercado. Numa outra frente, o Bradesco se utilizará da expertise da nova sócia para aprimorar a recuperação de empréstimos ainda ativos, ou seja, que não foram lançados a perda.
O objetivo do banco, conforme Fabri, é melhorar entre 20% e 25% a recuperação de créditos inadimplentes nos próximos dois anos a partir da sociedade com a RCB, que prestará serviços à instituição. “Nossa performance de recuperação de crédito melhorou 44,8% nos últimos quatro anos mesmo em meio à crise que o País atravessou. Acreditamos que há espaço para avançarmos ainda mais”, disse ele, em teleconferência com a imprensa, realizada nesta terça-feira, 2.
Fabri acrescentou que o negócio, que não tem compromisso de venda de uma fatia futura ao banco, visa a buscar sinergias na venda de carteiras e também na cobrança dos créditos. Sem abrir o volume de operações inadimplentes passíveis de retomada, o executivo explicou que a RCB vai participar de um processo competitivo com a área interna do banco para recuperar empréstimos ativos. Sobre a possível venda dessas operações ao mercado, ele afirmou que, por ora, o banco não cogita essa possibilidade.
“A RCB tem R$ 20 bilhões em carteiras adquiridas”, afirmou, completando: “Não temos meta para aquisições”.
De fora desse segmento até o final de 2016, o Bradesco tem mantido uma frequência constante no mercado de NPL. De lá para cá, já teria se desfeito de quase R$ 18 bilhões, conforme informações obtidas pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A RCB Investimentos não terá, contudo, exclusividade na compra de carteiras futuras que o Bradesco oferecerá ao mercado. Terá de continuar a participar das concorrências que o banco vier a fazer com os demais concorrentes. O diretor executivo do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, reforçou que a RCB vai permanecer independente. “A empresa vai continuar com a sua estratégia e a venda de carteiras permanecerá sendo uma decisão do banco”, esclareceu ele.
Sobre a investida do Bradesco mais tardia que seus demais concorrentes na área de recuperação de crédito, Fabri disse que a estratégia da instituição não é só no negócio de compra de carteiras. A parceria, conforme ele, visa a desenvolver ainda mais esse setor dentro do banco, mas também a continuidade de ambos os negócios.
A investida recente dos grandes bancos no mercado de NPL começou com a venda da Recovery, antes do BTG Pactual, para o Itaú Unibanco, em 2015. Na sequência, o Santander Brasil comprou 70% da gestora Ipanema, que foi rebatizada e passou a se chamar Return. Antes, o Banco do Brasil já atuava com a sua própria gestora, a Ativos, e agora o Bradesco fecha esse ciclo.
O movimento dos pesos pesados do varejo bancário em recuperação de crédito faz todo sentido. Isso porque os bancos são especializados em emprestar, no entanto, o elevado volume de créditos inadimplentes e não pagos e que foi agravado pela recente crise que o Brasil passou, fez com que essas instituições passassem a olhar esse segmento com mais atenção. Como as empresas especializadas têm melhor performance na recuperação, retomando em menor tempo os créditos não pagos, a saída foi incorporá-las como os grandes bancos já fizeram em outros segmentos, como, por exemplo, o de crédito consignado (com desconto em folha).
FIDCs e governança
Em paralelo ao anúncio de compra de parte da RCB, o Bradesco informou ainda a constituição de dois Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDICs) para a compra de carteiras de créditos não-performados. O vice-presidente do Bradesco afirmou que o valor dos mesmos ainda não foi definido. O funding para os fundos, que serão administrados pela RCB, virá de forma proporcional, sendo 40% do banco e o restante dos outros sócios.
O Bradesco terá também a maioria dos membros do Conselho de Administração da RCB Investimentos. Na diretoria, o banco indicará dois nomes, sendo um dos atuais executivos da empresa e o outro para ocupar a cadeira de diretor financeiro (CFO, na sigla em inglês). Assim sendo, a expectativa é de que os atuais sócios-fundadores da RCB, Alexandre Nobre e Renato Toledo, permaneçam à frente do negócio.
Segundo Fabri, os nomes que serão indicados pelo Bradesco estão sendo discutidos. Ele explicou ainda que a investida na RCB não tem relação com o período que o banco foi proibido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de fazer aquisições por conta da compra do HSBC no Brasil, uma vez que se trata de uma prestação de serviços.