O astro e ídolo da televisão americana Bill Cosby, acusado de estupro por quase 20 mulheres, admitiu em um documento legal ter fornecido um forte sedativo a pelo menos uma vítima para manter relações sexuais com ela.

Na transcrição de seu depoimento de 2005, que só foi divulgado agora pelas autoridades americanas no site pacer.gov, Cosby admite que deu Quaalude, um sedativo e hipnótico, a pelo menos uma mulher em 1976.

Desde novembro, cerca de 30 mulheres nos Estados Unidos acusaram Cosby de assédio sexual e estupro, na maioria das vezes após drogá-las.

Algumas eram menores de idade no momento dos crimes, ocorridos em sua maioria nos anos 60.

Cosby foi interrogado em setembro de 2005 por Dolores Troiani, advogada de Andrea Constand, ex-diretora do departamento de basquete da Universidade Temple, na Filadélfia, onde Cosby estudou e foi integrante da direção.

O comediante deixou o posto em dezembro do ano passado, quando as acusações de estupro contra ele aumentaram consideravelmente.

Constand apresentou uma denúncia por estupro em 2005, mas o caso foi arquivado pelo tribunal por evidências insuficientes.

Os advogados de Cosby conseguiram bloquear por vários anos a divulgação das transcrições, mas a confidencialidade acabou na segunda-feira. Durante o diálogo entre Cosby e Troiani, o ator admitiu que conseguiu receitas para obter Quaalude.

Troiani perguntou se ele havia dado a droga a outras pessoas e Cosby respondeu “Sim”. Ao ser questionado se, quando “conseguiu os Quaaludes,, tinha em mente utilizá-los com jovens mulheres com as quais desejava ter sexo”, Cosby respondeu “Sim”.

Mas ele disse ter confundido “women” com “woman” (mulheres e mulher, em inglês) e afirmou: “Eu falei apenas de T ….”, uma mulher em particular e não de mulheres no plural, afirmou.

Mais tarde, no depoimento, Cosby disse: “Conheci a senhorita (T, cujo nome não aparece no documento para proteger o anonimato da suposta vítima) em Las Vegas (em 1976). Ela veio me ver no camarim. Eu dei o Quaalude. Nós fizemos sexo”.

Segundo advogados de outras vítimas, sua confissão poderia incentivar outras mulheres a fazer denúncias de difamação e estresse emocional.

Lisa Bloom, advogada da modelo Janice Dickinson, disse que Cosby admitiu a “conduta” denunciada por sua cliente.

“Levando em conta isto, como se atreve a vilipendiar publicamente a Sra. Dickinson e acusá-la de mentir?”, questionou em um comunicado.

“É hora de o Sr. Cosby parar de se esconder atrás de advogados e agentes e pedir desculpas públicas à sra. Dickinson e as outras 46 mulheres que o acusaram publicamente de assédio sexual”, exigiu.

Outra advogada que representa uma vítima, Gloria Allred, disse que espera que a confissão possa “ser utilizada” no caso apresentado por sua cliente, Judy Huth, à justiça na Califórnia (oeste).

No entanto, os especialistas dizem que há poucas chances de que Cosby seja responsabilizado penalmente, uma vez que os crimes em questão já foram prescritos.

Ainda assim, para algumas vítimas e certas pessoas que como a cantora e vencedora do Grammy Award Jill Scott apoiavam o ator, a confissão provocou uma virada.

“Infelizmente o seu próprio testemunho oferece uma PROVA dos terríveis atos cometidos. Permaneci ao lado de um homem que respeitava e amava. Eu estava do lado errado. Dói!”, escreveu Scott em sua conta no Twitter.

Desde o início do escândalo, os cancelamentos do espetáculo Bill Cosby Show aumentaram e a rede NBC, que o exibia, acabou com o programa que deveria relançar a carreira do astro na televisão.

Em dezembro, os promotores de Los Angeles, Califórnia (oeste), haviam se recusado a apresentar queixa contra o ator depois de uma denúncia de agressão sexual em 1974 na Mansão Playboy em razão da prescrição dos crimes.

Várias denuncias cruzadas por difamação e tentativa de extorsão também foram movidas por Cosby contra algumas das vítimas.

Cosby era considerado uma lenda do humor televisivo americano e um símbolo da luta contra o preconceito racial, além de representar a imagem do pai de família perfeito.

Sua sitcom, “The Cosby Show”, marcou as décadas de 80 e 90 e foi sucesso de audiência absoluto.