JOSÉ ANTONIO FELIX É UM EXECUTIVO pragmático. Suas análises são recheadas de exemplos práticos, simples, sem muito espaço para divagações sem propósito. Gaúcho de Arroio Grande, no extremo sul do Estado, o homem não é dado a cerimônias, o que deixa qualquer um desarmado. Da mesa de reuniões, na sede do grupo, ele faz um pedido para as secretárias em outra sala. ?Abaixa esse ar. Tu quer matar a gente aqui??, brinca, num sotaque carregado. No cargo de presidente da NET Serviços desde janeiro, Felix falou à DINHEIRO sobre a criação da megatele brasileira, fruto da fusão de BrasilTelecom e Oi, e ainda arrematou a conversa cutucando a Embratel, que está prestes a entrar no setor de TV via satélite. Franco e direto, ele diz que não tem medo da concorrência. ?Em pânico? Eu? Nem um pouquinho?, diz. ?Eles têm de se preocupar é conosco.? Na sua cabeça, os riscos já estão traçados. Para os dois lados. Com a nova era das tecnologias convergentes, em que todo mundo vai concorrer com todo mundo, a empresa sabia que tinha gente se preparando para pegar um pedaço do mercado dela. O que a NET acha disso? ?Eles não vão levar, mas não vão levar mesmo?, rebate Felix.

O jeito meio turrão vem em boa hora. A NET vai precisar dessa postura agressiva para defender o seu território. Com o balanço no azul há três anos, a companhia tem muito claro o que quer fazer daqui para a frente. A estratégia passa pela ampliação acelerada na penetração do chamado pacote combo (formado pela união de diferentes serviços) para as classes de renda mais baixa. Neste ano, foi lançado o NET Fone.com, um plano para as classes populares. Por R$ 39,90, o cliente leva o telefone fixo da Embratel, banda larga (100 kbps) e transmissão de canais de TV aberta. ?E é R$ 39,90 até que a morte nos separe?, repete Felix. Dessa forma, o grupo dá um tiro e acerta dois alvos. Consegue uma porta de entrada num novo mercado consumidor pouco explorado e amplia o uso de sua capacidade instalada. Os cabos da NET passam na frente da casa de dez milhões de pessoas em 79 cidades brasileiras. Como são 2,5 milhões de clientes, há uma ?ociosidade? de 75%. Além disso, a NET sabe que se colocar o pé na sala do cliente, de lá não sairá tão cedo. A taxa de desligamento das operadoras de TV paga e banda larga no pacote combo é baixíssima.

No mercado, a disputa é dada como certa. ?Brasil Telecom e Oi vão entrar pesadamente com pacotes de serviços de voz, banda larga e telefonia móvel. Mas a NET tem algumas vantagens?, diz Francisco Molnar, da consultoria Frost&Sullivan. ?A Oi deve digerir totalmente a BrT em até dois anos. É tempo para a NET se mexer mais?, diz Molnar. Além disso, não se trata exatamente de uma luta de David contra Golias. Os acionistas da NET são a Globo e a Telmex, de Carlos Slim, o segundo homem mais rico no mundo. E a Telmex tem a seu lado não só a NET como a Claro e a Embratel. Ou seja, se quiser, pode mexer com o mercado também. ?Eles (BrT/Oi) têm de achar os ganhos de escala deles. Mas te digo uma coisa. Poste tem de pagar. Cabo tem de pagar. Funcionário tem de pagar. Mas isso não é um problema meu. É deles?, dispara.

 

Quanto à decisão da Embratel, uma das parcerias do grupo, de atuar na área de TV paga via satélite, Felix não vê problemas. Mas manda o seu recado. ?Essas pessoas que querem comer [o mercado da NET] vão começar a se comer entre si. Quem tem que se preocupar é aquele com a mesma tecnologia da Embratel. E não nós?, diz. No final de abril, a Anatel, agência reguladora, concedeu licença para a Embratel atuar no setor. A Telefônica obteve a mesma autorização em 2006. ?Nós sabemos competir, sempre soubemos. Se o serviço deles [da Embratel] não for maravilhoso, as pessoas vão gostar ainda mais de nós. E nós estaremos prontos para receber esses clientes?, completa, de boca cheia, o gaúcho da NET.